quinta-feira, agosto 30, 2007

Se Eu Morresse Amanhã!

Faz tempo que não postamos uma poesia por aqui. Pois bem, para os fãs da poesia sombria um classico brasileiro

Por Alvarez de Azevedo

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
Que sol! que céu azul! que dove n'alva
Acorda a natureza mais loucã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!

quarta-feira, agosto 29, 2007

O Anão

Por Paulo Soriano

Senhores, ouvi-me!

Peço a vossa permissão para conduzir os vossos olhos a um antro aterrador. E, desde já, imploro vosso perdão pelas cenas infames que, fatalmente, haverão de suceder.

Não, senhores, não vos assustai inutilmente. O lugar para onde vos guio é sobremodo respeitável. Eu vos levo ao salão principal do castelo de Bran, outrora famoso pelas atrocidades cometidas pelo Conde Vlad, mas que hoje se notabiliza pela corrupção de suas estruturas e pela inevitável decadência de suas paredes, tão trôpegas e mesquinhas quanto as almas arruinadas dos que se esgueiram por suas sombras; almas que mal suportam a angústia e a aflição interiores, mas que regozijam-se bem protegidas do furor do verão e das inclemências do inverno. Como a poeira sorrateira, o decesso e a decadência se instauram e se acumulam como se tivessem vida e evoluções próprias. E, espraiando-se em todas as direções, agem sem que sejam notados, até que os tetos se rendam a toda sorte de infiltrações, e das paredes emanem um suor viscoso, uma gosma fétida que juramos exsudar do âmago das pedras e dos tijolos. As poderosas vigas apodrecem como cadáveres. E e os lustres, que decaem como teia de aranha das clarabóias esfaceladas, assumem, quando o dia entenebrece, a aparência sinistra de enforcados.

Hoje, amigos meus, ocorreu um espetáculo aterrador. Agora, o grande salão está vazio. Mas nada me custa recuar alguns momentos no passado.

Há poucas horas, estava o jovem príncipe – belo e terrível – a anunciar o que parecia ser uma maravilhosa diversão. Ao seu lado, a bela Ioana, que partilhava do mesmo sangue principesco, ardia em deleite e excitação. Mas Elisabeta, amante do suserano, aguardava o espetáculo com o coração constrito. Porque a ira do jovem príncipe era famosa. Eram implacáveis os seus desígnios e irreversíveis as suas decisões. Não foram poucos os bobos, saltimbancos e menestréis que feneceram por não terem caído no agrado do príncipe cruel e encantador.

Foi nesta noite que subiu a uma espécie de palco – que para muitos poderia ser o patíbulo –, armado para a especial ocasião, algo nunca dantes visto. Era a mais grotesca das grotescas criaturas. Dói-me descrevê-la. Por isso, senhores, eu vos pouparei das características mais hediondas deste ente pavoroso, desta coisa horrenda, abundante em pêlos, meio homem, meio animal, que, com as suas pernas arqueadas e trôpegas, ensaiou um bailado excêntrico. E eram tão ridículas, tão burlescas e monstruosas as suas evoluções que a pequena platéia – nobres e comensais da corte do príncipe valáquio – sucumbiu a uma espécie de frenesi incontrolável. Agitaram-se pois, os convivas. Riram e macaquearam. Enfiaram-se numa espécie de excitação e de contentamento sórdidos. Gargalharam e motejaram com a fúria de possessos. Ainda posso sentir, a queimar as minhas retinas, as toscas imitações que, no nobre salão, se faziam do pobre homem. Arremedos grosseiros, que acentuavam e excediam as deformidades do pobre anão e ainda mais evidenciavam e expunham a descortesia jocosa de seus aleijões.

Quando o bobo terminou o seu infame bailado, recolhendo os aplausos com os braços abertos e a cabeça humildemente inclinada, consultou os olhos de seu suserano. Então gelou. Pois constatou que, embora a miúda platéia se contorcesse em risos e mofas ruidosamente alegres, tão joviais quanto nefandas, o príncipe permanecia impassível. Ao seu lado, Elisabeta estremecia de aflição. Ioana, satisfeita, ainda bailava e ainda sorria.

A uma única palma de alerta, desferida pelo suserano, toda a platéia emudeceu. Um silêncio mortal caiu sobre a corcova do anão e reverberou no grande salão. E o silêncio inexpugnável permitiu a Elisabeta escutar, com horror, o descompasso que provinha do coração do pequeno homem. Ioana, porém, quase não continha o riso, e, embora lamentasse a brevidade do espetáculo, já antecipava o deleite grotesco, o espetáculo maravilhoso e invulgar que seria o enfocamento de um anão aleijado.

O jovem príncipe se ergueu. Empunhou, com empáfia, a cimitarra, furtada aos otomanos, que lhe que lhe ia à cintura. E, com passos altivos, dirigiu-se ao pequeno homem.

- Vejo que agradaste, com teu corpo desconjuntado e teu bailado ridículo, aos fidalgos desta casa. Mas juro que nada do que vi foi do meu agrado. Antes me causou extrema repulsa e descontentamento.

Ao ouvir tão rudes palavras, pronunciadas com a inflexão de uma sentença de morte, o anão foi ao chão e se pôs a chorar convulsivamente.

A platéia delirou de contentamento. Elisabeta abaixou desoladamente a cabeça. Ioana exultou.

O suserano ergueu a espada. O anão fechou os olhos e, num reflexo, levou as pequenas mãos ao pescoço, aguardando o golpe.

- Mas vejo que, pior ainda, foi a reação de minha platéia. Se o espetáculo do anão foi desagradável, muitíssimo mais torpes e hediondas foram as evoluções caricatas que dele fizeram os meus cortesãos.

Dizendo isto, o príncipe ordenou ao anão que se erguesse e, surpreendentemente, fê-lo segurar a espada.

- Escolhe, dentre os meus, quem irás matar. Diz, dentre todos que aqui estão, quem fez de ti o pior arremedo.

- Sim, senhor! Bem observei quem me imitou com maior ênfase no ridículo. Mas, poupa-me desta sina, porque sou apenas um bobo e não gosto de matar.

- Escolhe, ou não verás a luz do dia.

O anão apontou. E creio que somente eu, que a tudo assistia atentamente, notei uma brevíssima e profunda contração na fisionomia do jovem príncipe. Porque era para Ioana, sua bela irmã, que o anão enristava o indicador.

O suserano arrastou a princesa pelos longos cabelos negros e a depôs aos pés do aleijado.

- Cumpre o teu dever, anão!

Embora pequeno, o homem tinha uma grande força. Porque, com as mãos unidas ao cabo da espada, fez vibrar um único golpe. Os gritos de Ioana cessaram imediatamente. A cabeça da princesa, segregada do corpo, sequer chegou a rolar. Permaneceu onde estava e, em sua imobilidade, conservou o mesmo olhar de pavor que dirigia ao irmão inclemente.

- Eis o teu prêmio e pagamento – disse secamente o príncipe, depositando a cabeça decepada no colo do anão. - Leva-o contigo. E jamais ... nunca mais ponhas os teus pés deformados no castelo de Bran.

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sábado, agosto 25, 2007

Do Além

Conto do Mestre H.P. Lovecrafth


Horrível, para além de qualquer concepção, foi a mudança por que passou meu melhor amigo, Crawford Tillinghast. Eu não o vira desde aquele dia, dois meses e meio antes, quando ele me falou da meta em direção à qual suas pesquisas físicas e metafísicas se encaminhavam e quando respondeu à minha demonstração de espanto e medo expulsando-me de seu laboratório e de sua casa num estouro de raiva fanática. Eu sabia que ele agora passava a maior parte do tempo fechado em seu laboratório no sótão com aquela maldita máquina elétrica, comendo pouco e afastado até dos próprios criados, mas não pensara que um período tão breve de dez semanas pusesse alterar e desfigurar de tal maneira uma criatura humana. Não há prazer em ver um homem garboso tornar-se magro de repente, e é pior ainda quando a pele flácida começa a amarelar ou a acinzentar, os olhos fundos, esgazeados, brilhando de modo sobrenatural, a testa enrugada e coberta de veias, e as mãos trêmulas e contorcidas. E se, adicionado a isso, houver um desalinho repulsivo, uma desordem louca do vestir, moitas de cabelos escuros esbranquiçados na raiz, e uma sombra de barba não aparada sobre um queixo que sempre fora cuidadosamente barbeado, o efeito cumulativo será chocante. Mas esse era o aspecto de Crawford Tillinghast na noite em que sua mensagem pouco coerente me trouxe até sua porta depois de semanas de exílio. Tal era o espectro que tremia enquanto me fazia entrar, uma vela na mão, a olhar furtivamente por sobre o ombro, como se receoso de coisas invisíveis na casa antiga e solitária, situada ao fundo da Benevolent Street.

Para Crawford Tillinghast, ter um dia estudado ciência ou filosofia fora um erro. São coisas que deveriam ser deixadas para o investigador impessoal e frio, pois oferecem duas alternativas igualmente trágicas ao homem de sentimento e ação: desespero, se fracassa em sua busca, e terrores indizíveis e inimagináveis, se obtém sucesso. Tillinghast fora presa uma vez do fracasso, da reclusão e da melancolia; mas agora eu sabia, entre receios repelentes de minha parte, que ele era presa do sucesso. De fato, eu o tinha alertado, duas semanas antes, quando aventou, num ímpeto, a história do que estava prestes a descobrir. Tornara-se vermelho e excitado, falando num tom de voz muito alto e antinatural, embora sempre pedante.

"O que sabemos", ele dissera, "sobre o mundo e o universo ao nosso redor? Nossos meios de receber impressões são absurdamente escassos, e nossas noções dos objetos que nos cercam são infinitamente estreitas. Vemos as coisas somente na medida em que somos construídos para vê-las e não podemos fazer idéia alguma de sua natureza absoluta. Com cinco débeis sentidos, queremos compreender o cosmos ilimitadamente complexo, enquanto outros seres, com uma gama de sentidos diferente, mais ampla ou mais possante, não apenas poderiam ver de modo diferente as coisas que vemos, como também ver e estudar mundos inteiros de matéria, energia e vida que jazem próximos de nós, mas que não podem ser detectados com os sentidos que temos. Sempre acreditei que tais mundos estranhos e inacessíveis existem colados aos nossos cotovelos, e agora creio que encontrei um modo de romper as barreiras. Não estou blefando. Dentro de vinte e quatro horas aquela máquina sobre a mesa gerará ondas que agirão sobre órgãos ignorados de sentidos que existem em nós como vestígios atrofiados ou rudimentares. Essas ondas abrirão para nós inúmeros panoramas desconhecidos do homem e muitos desconhecidos de qualquer coisa que consideramos como vida orgânica. Haveremos de ver aquilo para o qual os cachorros uivam na escuridão, aquilo para o qual os gatos levantam suas orelhas após a meia-noite. Veremos essas coisas e outras coisas que nenhuma criatura que respira jamais viu. Vamos saltar sobre o tempo, o espaço e as dimensões e, sem mover nossos corpos, espiar o fundo da criação."

Quando Tillinghast disse essas coisas, não disfarcei, pois conhecia-o bem o suficiente para ter muito mais receio do que admiração; mas ele era um fanático e expulsou-me da casa. Agora ele não era menos fanático, mas seu desejo de falar sobrepujara o ressentimento, e ele me escrevera num tom imperativo, com uma caligrafia quase ilegível. Quando penetrei na casa desse amigo tão subitamente metamorfoseado numa gárgula vacilante, infectou-me o terror que parecia espreitar em meio a todas as sombras. Era como se as palavras e crenças expressas dez semanas antes se encarnassem na escuridão que cercava o pequeno círculo de luz da vela, e senti-me mal diante da voz oca e alterada de meu anfitrião. Desejei que os criados estivessem por perto e não gostei quando ele disse que todos tinham deixado a casa havia três dias. Pereceu estranho que o velho Gregory, ao menos, pudesse desertar de seu senhor sem dizer isso a um amigo tão próximo como eu. Era ele que me dava toda a informação que tive sobre Tillinghast depois que, furioso, este me expulsou.

No entanto, logo obriguei meus medos a se subordinarem à minha curiosidade e fascinação. O que é que Crawford Tillinghast queria de mim agora eu podia até conjeturar, mas de que ele tinha algum segredo ou descoberta estupenda para revelar, disso eu não duvidava. Antes eu protestara contra sua perquirição indiscreta do impensável, e agora que ele evidentemente tivera algum tipo de sucesso eu quase compartilhava seu espírito, por mais terrível que pudesse ser o custo da vitória. Seguindo a luz vacilante da vela que a mão daquela paródia trêmula de homem segurava, subi em direção à escuridão vazia da casa. A eletricidade parecia ter sido desligada, e quando perguntei ao meu guia ele disse que era por um motivo definido.

"Seria demais… Eu não ousaria", ele continuava a murmurar. Notei em especial esse seu novo hábito de murmurar, pois não era do seu feitio falar sozinho. Entramos no laboratório no sótão, e observei aquela detestável máquina elétrica a cintilar com uma luminosidade doentia, sinistra, violeta. Estava conectada a uma potente bateria química, mas não parecia receber corrente, pois eu me lembrava de que em seu estágio experimental ela tinha roncado e ciciado quando posta em ação. Em resposta à minha pergunta, Tillinghast sussurrou que esse brilho permanente não era elétrico em nenhum sentido que eu pudesse entender.

Ele me fez sentar próximo à máquina, de modo que ela ficou à minha direita, e acionou um comutador que ficava por baixo de uma profusão de bulbos de vidro. Os estralejos usuais começaram, tornaram-se um gemido, e terminaram num rumor monótono e tão suave que dava impressão de retornarem ao silêncio. Entrementes a luminosidade aumentou, diminuiu, até assumir uma tonalidade pálida e inusitada ou uma mistura de cores que eu não poderia situar ou descrever. Tillinghast tinha estado a me observar, notando minha expressão de perplexidade.

"Sabe o que é isso?", murmurou, "Isso é ultravioleta". E gargalhou ao ver a minha surpresa. "Pensou que o ultravioleta era invisível, e é – mas você pode vê-lo e a muitas outras coisas agora. Ouça-me! As ondas dessa coisa estão despertando em você mil sentidos adormecidos – sentidos que você herdou de éons de evolução, desde o estado dos elétrons errantes até o estado da humanidade orgânica. Eu vi a verdade, e pretendo mostrá-la a você. Faz idéia de como ela se parece? Vou dizê-lo a você." Aqui, Tillinghast se sentou também, de frente para mim, segurando sua vela e olhando-me perversamente nos olhos. "Seus órgãos sensórios existentes – ouvidos primeiro, suponho – captarão muitas das impressões, pois estão intimamente conectados com os órgãos adormecidos. Então haverá outros. Já ouviu falar da glândula pineal? Rio-me dos ingênuos endocrinologistas, pretensiosos e comparsas iludidos dos freudianos. Essa glândula é o órgão sensório por excelência – eu o descobri. É como uma visão, afinal, e transmite imagens visuais ao cérebro. Se você é normal, esse será o modo como você obterá a maior parte... Refiro-me à maior parte da evidência do além."

Olhei em volta o imenso sótão com a parede alta ao sul, obscuramente iluminada por raios que os olhos cotidianos não poderiam ver. Os cantos mais distantes eram pura sombra, e o lugar inteiro mergulhava numa irrealidade nevoenta que obscurecia sua natureza e convidava a imaginação ao simbolismo e à fantasmagoria. Durante o longo intervalo em que Tillingthast permaneceu em silêncio, tive um devaneio de estar num incrível e vasto templo de deuses há muito desaparecidos, num edifício vago de inúmeras colunas de pedra negra que se elevavam de um piso de lajes úmidas até alturas de nuvens que ficavam para além da minha visão. A imagem me pareceu bastante vívida por algum tempo, mas gradualmente deu lugar a uma concepção mais horrível – aquela da solidão extrema e absoluta do espaço infinito, inescrutável e silencioso. Parecia haver um vazio e nada mais, e senti um medo infantil que me fez sacar do bolso junto ao peito um revólver que passei a carregar desde que fora assaltado em East Providence. Então, das mais distantes regiões do remoto, o som deslizou suavemente para dentro da existência. Era infinitamente débil, sutilmente vibrante, e inequivocamente musical, mas continha um não sei quê de indizivelmente selvagem que fazia com que o seu impacto parecesse uma tortura delicada de todo o meu corpo. Vieram-me sensações que eram como se alguém pisasse vidro moído no chão. Simultaneamente, desenvolveu-se alguma coisa como um sopro frio, que aparentemente passava por mim vindo do som distante. Enquanto, sem fôlego, aguardava, percebi que tanto o som quanto o vento estavam aumentando, o efeito assemelhando-se ao de ter sido atado a um par de trilhos no caminho de uma gigantesca locomotiva que se aproximasse. Comecei a falar a Tillinghast e, quando o fiz, todas as impressões incomuns se desvaneceram abruptamente. Vi apenas o homem, as máquinas cintilantes e o cômodo penumbroso. Tillinghast ria de um jeito repulsivo para o revólver que eu sacara quase inconscientemente, mas pela sua impressão compreendi que ele tinha visto e ouvido tanto quanto eu, se não muito mais. Murmurei o que eu tinha experimentado, e ele me instruiu para que permanecesse o mais quieto e receptivo possível.

"Não se mova", advertiu, "pois nesses raios tanto podemos ver quanto ser vistos. Eu lhe disse que os servos foram embora, mas não lhe disse como. Foi aquela governanta de cabeça dura; ela acendeu as luzes no térreo depois que eu avisei para não fazer isso, e os arames captaram vibrações empáticas. Deve ter sido amedrontador – pude ouvir os gritos daqui de cima, a despeito de tudo o que via e ouvia vindo de outra direção, e mais tarde foi pavoroso encontrar aqueles montes vazios de roupas por toda a casa. As roupas da senhora Updike estavam próximas do comutador de luz da sala – eis como eu soube que ela o fizera. Pegou-os a todos. Mas, desde que não nos movamos, estamos razoavelmente seguros. Lembre-se de que estamos lidando com um mundo medonho no qual somos praticamente indefesos... Fique quieto!"

O choque combinado da revelação e da intimação abrupta deu-me um tipo de paralisia, e no terror minha mente se abriu de novo para as impressões que vinham do que Tillinghast chamou de "além". Um vórtice de som e movimento me envolvia agora, imagens confusas surgindo diante de meus olhos. Eu via os contornos imprecisos do cômodo, mas de algum ponto do espaço parecia jorrar uma coluna fervilhante de formas irreconhecíveis ou de nuvens, penetrando no teto sólido num ponto adiante, à minha direita. Então vislumbrei o templo – como efeito novamente, mas desta vez os pilares subiam em direção a um oceano aéreo de luz, o qual despejava um raio de luz ofuscante por todo o caminho da coluna de nuvens que eu vira antes. Depois disso, a cena tornou-se quase inteiramente caleidoscópica, e na profusão de visões, sons e impressões sensoriais não identificadas, senti que estava prestes a me dissolver ou, de algum modo, a perder a forma sólida. De um determinado lance eu hei de me lembrar para sempre. Pareceu-me ter visto, por um instante, uma nesga de estranho céu noturno repleto de esferas cintilantes e rodopiantes, e quando desapareceu vi que os sóis brilhantes formavam uma constelação ou galáxia de forma definida, sendo essa forma o rosto distorcido de Crawford Tillinghast. Noutra ocasião, senti que as coisas imensas e animadas se arrastavam para além de mim e às vezes caminhavam ou vogavam através do meu corpo supostamente sólido, e pensei ter visto Tillinghast olhar para elas como se seus sentidos mais bem treinados pudessem captá-las visualmente. Lembrei-me do que ele dissera acerca da glândula pineal e me perguntei o que ele via com esse olho sobrenatural.

De súbito, senti-me também possuído por uma espécie de visão aumentada. Por cima e ao longo do caos luminoso e sombrio se elevava uma imagem que, embora vaga, continha elementos de consistência e permanência. Era de fato algo familiar, pois a parte incomum estava superposta à cena comum e terrestre, tal como uma imagem de cinema se pode projetar sobre a cortina pintada de um teatro. Vi o laboratório do sótão, a máquina elétrica e a forma indistinta de Tillinghast em frente a mim, mas de todo o espaço não ocupado por objetos familiares sequer a menor porção estava vaga. Formas indescritíveis, vivas ou não, se misturavam numa desordem repulsiva, e perto de cada coisa conhecida havia mundos inteiros de entidades alienígenas e ignotas. Igualmente, parecia que todas as coisas conhecidas entravam na composição de outras coisas desconhecidas e vice-versa. Mais à frente, entre os objetos vivos, havia monstruosidades pretas, semelhantes a medusas, que estremeciam languidamente com as vibrações da máquina. Manifestavam-se numa profusão nauseante, e eu vi, para o meu horror, que se imbricavam, que eram semifluidas e capazes de passar através umas das outras e daquilo que conhecemos como sólidos. Essas coisas jamais paravam; antes: pareciam flutuar sempre com algum propósito maligno. Às vezes, davam mostras de devorar-se umas às outras, o atacante lançando-se sobre sua vítima e instantaneamente fazendo-a desaparecer de vista. Trêmulo, entendi o que tinha feito desaparecer os infelizes criados, e não podia expulsar a coisa de minha mente enquanto lutava para observar outras propriedades do mundo, há pouco tornado visível, que existe incógnito à nossa volta. Mas Tillinghast tinha estado a me observar e agora falava.

"Você as vê? Você as vê? Vê as coisas que flutuam e se precipitam à sua volta a cada momento de sua vida? Vê as criaturas que formam o que os homens chamam de ar puro e de céu azul? Não tive sucesso em romper a barreira, não mostrei a você mundos que os outros homens jamais chegaram a ver?" Ouvi seu grito através do horrível caos e olhei para a face selvagem que tão ofensivamente se colava à minha. Seus olhos eram poços de chamas e me fitavam com aquilo que – logo entendi – era apenas o mais profundo ódio. A máquina ronronava de maneira horrorosa.

"Pensa que essas coisas rastejantes arrebataram os criados? Tolo, são inofensivas! Mas os criados desapareceram, não é? Você tentou me impedir, você me desencorajou quando precisei de cada gota de incentivo que pudesse obter. Você teve medo da verdade cósmica, seu maldito covarde, mas agora eu o peguei! O que foi que levou os criados? O que os fez berrar tão alto?... Não sabe, hein? Logo, logo saberá. Olhe para mim – ouça o que eu digo. Supõe você que existem mesmo tais coisas como tempo e magnitude? Acredita mesmo que existem tais coisas como forma e matéria? Eu lhe digo, você atingiu profundidades que o seu pequeno cérebro não pode conceber. Vi para além das fronteiras do infinito e arrastei demônios das estrelas... Conduzi as sombras que perambulam de mundo para mundo para semear a morte e a loucura... O espaço me pertence, está me ouvindo? As coisas estão à minha caça agora – as coisas que devoram e dissolvem –, mas eu sei como ludibriá-las. É a você que elas pegarão, como fizeram com os criados... Está tremendo, caro senhor? Eu lhe disse que era perigoso mover-se, coloquei-o a salvo dizendo que se mantivesse quieto – salvei-o para ter mais visões e para me ouvir. Se você tivesse se movido, eles já teriam se atirado sobre você há muito tempo. Não se preocupe, não vão machucá-lo. Não machucaram os criados – foi apenas ver que os fez berrar daquele jeito. Meus bichinhos não são bonitos, pois vêm de lugares onde os padrões estéticos são... muito diferentes. Eu quase os vi, mas soube como parar. Você é curioso? Sempre soube que você não era um cientista. Tremendo, hein? Tremendo de ansiedade para ver as últimas coisas que descobri. Por que não se move, então? Cansado? Bem, não se preocupe, amigo, pois elas estão vindo… Olhe, olhe, amaldiçoado, olhe… Está bem em cima do seu ombro esquerdo."

O que falta contar é bem pouco, e vocês talvez já tenham sabido por meio dos jornais. A polícia ouviu um tiro na velha casa de Tillinghast e nos encontrou lá – Tillinghast morto, e eu, inconsciente. Prenderam-me, porque o revólver estava em minha mão, mas soltaram-me dentro de três horas, pois descobriram que foi a apoplexia que acabou com Tillinghast e viram que meu tiro tinha sido disparado contra a máquina perversa que agora jaz irremediavelmente destroçada no chão do laboratório. Não contei muito do que vi, pois temi que o coronel ficasse cético, mas, pela descrição evasiva que dei, o médico me disse que, sem dúvida, eu tinha sido hipnotizado pelo louco vingativo e homicida.

Quem dera eu pudesse acreditar no médico. Seria bom para os meus nervos se eu pudesse pôr de lado o que agora tenho de pensar sobre o ar e o céu que me envolvem e que estão acima de mim. Nunca me sinto sozinho e confortável, e um senso horrível e arrepiante de perseguição às vezes me invade quando esmoreço. O que me impede de acreditar no médico é apenas este fato: que a polícia nunca encontrou os corpos dos criados que, segundo dizem, Crawford Tillinghast assassinou.

quarta-feira, agosto 22, 2007

Na Ativa Hoje e para Sempre

Apesar de as vezes parecer que estamos parados, pois faltam algumas atualizações, digo a todos que passam por aqui que estamos mais na ativa do que nunca! Não iremos parar nunca, nem mesmo piscar um segundo. Somos a Irmandade das Sombras, eternamente dedicados ao Terror.
Se você também é um dos Soldados das Sombras envie seu trabalho para nós, seja também um irmão. Estamos de braços abertos a você.

Caso queria enviar sua contribuição meu e-mail é lhf_87@hotmail.com.

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Não deixe também de passar pelo blog de Henry Evaristo, um dos grandes escritores da IS Camara dos Tormentos
http://www.camaradostormentos.blogspot.com/

E se ainda te sobrar folego visite o site do amigo de Paulo Soriano, outro dos grandes mestres do horror virtual e membro da IS, Contos Grotescos
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A Irmandade

Por Linx

Este texto foi uma homenagem que fiz aos membros da Irmandade da sombras, e é dedicado a todos eles, em especial a Hell, uma das escritoras mais incriveis que já tive o prazer de ler e uma das mulheres mais fascinantes que já pude por meus olhos, não só por sua belza, mas também pelo seu carisma, inteligencia e astucia.

— Incrível...Era a palavra, a única capaz de descrever o que a Irmandade das Sombras virará. Olhando eu essas paredes coberta de tapeçarias antigas, o piso de mármore negro, os tetos com lustres do mais nobre cristal, tudo cheirando a novo, saído a pouco das caixas. Minha mente parecia as vezes não crer que aquilo tudo era real.Aconteceu quase que de repente; deixamos de ser um monte de pessoas distantes trocando palavras pela internet e agora caminhávamos para ser uma grande sociedade literária mundial. E não era um sonho, ou mais uma das minhas alucinações, era tudo real, tudo ali palpável.
— Linx?
— Oi maninha...
— O que está fazendo ai parado? Disse ela me dando um sorriso
— Admirando...
— É as vezes me paro também a olhar toda essa grandeza
— Tudo tão irreal, tão...
— Perfeito. Disse ela pegando minha mão
— Sim. Olhei nos seus olhos e sorri. Perfeito
Acho que nunca senti o que eu sentia quando abraçava a Celly, esse bem estar que toma conta de todo meu corpo, como que se meu coração só batesse quando ela estivesse ao meu lado. As vezes queria ficar assim, abraço sozinho a ela nesse silencio, para a eternidade.
— Vamos não é. Disse ela me parecendo desconcertada saindo dos meus braços
— Sim vamos. Disse eu lhe tomando uma das mãos entre a minha
Lentamente corremos o corredor até chegar nas grandes escadas, talhadas do mesmo marfim que o piso, rica em detalhes barrocos e ao mesmo tempo modernos. No fim delas, no salão principal nos esperavam Rogério, Henry, Paulo e Hellena
— Demorou o casalzinho. Disse Hellena no seu tom mais irônico
— Odeio esse seu tom
— Eu sei, por isso adoro usa-lo. Disse ela passando a mão pelo meu queixo
— Bem vamos. Disse Paulo interrompendo o flerte
— Sim claro.
Hellena! (que sempre preferiu que chamássemos de Hell, mas eu dificilmente conseguia me dirigir a ela por esse nome. Em minha mente sempre foi Hellena) Realmente uma das mais sensuais criaturas que já tive o prazer de por meus olhos. Não havia homem que a olhasse naquele seus vestidos curtos, colados em suas belas curvas que não fosse tomado, mesmo que por um simples instante, por uma libido incontrolável. E hoje com certeza ela estava mais bela que nunca, que diga meu velho amigo Paulo que não conseguia esconder seu desejo pela jovem garota e mal piscava admirando meio que de suas sombras a jovem menina
Era um dia especial, mas senti lá no fundo que aquele dia mudaria muito nossas vidas...

*****

— Cale o boca! Disse eu lhe dando um tapa no rosto, fazendo ela cair esticada no sofá
— Seu maldito! Gritou ela caída no sofá
— Bando de traidores! Como puderam?
— Você está louco Linx!
— Não me chame de louco! Eu estou vendo! Não podem esconder de mim!
— Você está louco. Ela se levantou se protegendo, correndo em seguida até a porta e a fechando atrás dela
— Volte aqui! Disse eu correndo atrasado, dando com a porta fechada
Bando de maldito! Traidores! Desgraçados! Como fui idiota! Mas também como esperar isso de meus companheiros? Não esperaria isso nem de meus inimigos. Mas eles não vão conseguir. Não vão! Lutei muito para criar a Irmandade. Se ela é o que é hoje foi graças a mim e agora eles querem me tirar isso tudo? Querem me tirar tudo que construí? Querem me matar! Desgraçados, queimarão no fogo do inferno
Corri até minha escrivaninha e peguei uma arma que eu escondia no fundo falso de uma das gavetas, carreguei com todas as balas que cabiam no pente e botei o resto no bolso. Em passos curtos me dirigi até a porta e a abri lentamente. No fim do corredor pude ver meus dois amigos, Paulo e Henry parados conversando com “ela”. Maldita, a pior de todas! Fingiu que me amava, que me adorava. O que ela faria? Dormiria comigo e no meu momento de descanso me mataria?Sai detrás da porta e atirei acertando ela no ombro. Os dois me olharam e tentaram se aproximar lentamente
— Linx, pare com isso, por favor pare0. Disse Paulo num tom baixo e temeroso
— Porque? Porque atirei na vadiazinha que você deseja em segredo?
— Linx pare, você está dizendo loucuras. Disse Henry dando uns passos a frente
— Fique onde está! Gritei com toda fúria. E loucuras? Acham que sou louco? Eu era quando coloquei vocês aqui dentro. E você seu filho de uma puta, não venha me falar nada, pois sei que essa idéia foi sua e do Roger que nunca aceitaram eu como líder da Irmandade.
— Linx ouça o que você está dizendo. Disse Paulo em um tom mais nervoso
— E você cale essa sua boca imunda também. Pervertido desgraçado. Acha que não vejo seus olhares maliciosos a essa ai. Disse eu apontando minha arma a Hellena caída no chão cheia de lagrimas nos olhos, soluçando sem parar. Que você deseja possui-la mais que tudo? Que olha escondido ela trocar de roupa?
— Cale a boca! Cale a boca!Paulo correu de onde estava e agarrou minha mão, me dando um soco com a outra. A pancada me fez cair no chão e num reflexo atirei acertando em sua testa
— Paulo! Gritou Hellena no chão. O que você fez?
— O que devia ter feito a muito tempo... e só estou começando
Com um movimente rápido me pus de pé atirando em seguida em Henry que se preparava para me atacar.
— Corre Hell! Gritou ele antes de cair desfalecido
— Henry... balbuciou ela antes de se levantar e correr até as escadas
— Volte aqui! Disse eu me pondo a correr atrás dela
— Deixe-a!Uma voz masculina atrás de mim me fez parar e voltar meus olhos para trás. Era Roger parado atrás de mim segurando num braço a jovem Amaya e ao seu lado Luciano que já tinha nas mãos uma arma. Os dois soltaram ela e correram até mim. Disparei alguns tiros, um deles acertando Roger no peito e outro Amaya na cabeça. O sangue que espirou de sua cabeça me fez parar, dando chance para Luciano me agarrar.
— Veja o que vocês me fizeram fazer! Gritei eu me livrando dele, o derrubando no chão.Mais três tiros, mas dessa vez minha mão soltou a arma e minha fúria começava a passar e meus olhos agora viam tudo a minha frente. Senti meu coração se encher de amargura e lagrimas quentes correrem meus olhos. Voltei meus olhos para trás e vi o corpo delicado da jovem Amaya no chão. Seus doces olhos agora estava fechados e seu rosto delicado, já pálido e sem vida. Tudo culpa dela! Por causa de sua ganância, eu matei uma inocente.Tomei novamente a arma do chão e corri até a escada, onde a encontrei sentada
— Por sua culpa! Por sua culpa!
— Veja direito Linx, veja de quem é a culpa. Disse ela calmamente
— Cale a boca maldita!
— Veja de quem é a culpa
— Queime no inferno

*****

— Linx!Meus olhos se abriram de repente.Não estava mais naquela cenário de horror, estava eu novamente naquele dia antes do grande discurso. Meus amigos ali parados me olhando, os portões abertos. Do lado de fora um grupo grande, conseguia ver Amaya, Luciano, Leonardo. Eu havia visto o que iria acontecer. Vi a Irmandade crescer mais do que nunca, vi o dinheiro nos tornando loucos, eu o mais louco de todos. Vi todos aqueles ali na minha frente se tornarem os maiores escritores do mundo e vi eu matando muitos deles
— Linx vamos. Disse minha jovem irmão sorridente
— Não posso...— O que você está falando? Perguntou Roger. Cara hoje é o nosso dia
— Hoje é o começo do fim
— Linx o que você está falando. Disse Hellena se aproximando
Não podia deixar aquilo acontecer. Eu vi o futuro, cabe a mim muda-lo.Num movimento rápido me virei de costas de sacando uma arma que eu guardava num bolso para dar sorte dei um tiro na minha têmpora
Ainda inconsciente vi meus amigos se aproximarem e gelei ao ver seus rosto sorridentes
— Se divirta no inferno...

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quarta-feira, agosto 15, 2007

O Retorno do Gárgula

Por Arcano Soturno

O Gárgula tenta voar de volta para seu lar, mas está fraco demais. E a tempestade de neve paralisa ainda mais seu corpo ferido, corpo surrado que abriga sua alma sofrida...
E bem alto, entre as nuvens, o Gárgula percebe que não pode lutar contra a natureza. A força da tempestade é monstruosa, os ventos cortantes e gélidos certamente o matarão.
E num ímpeto de sobrevivência, o Gárgula gira em torno de si mesmo e joga-se no abismo. Com suas asas recolhidas, e com o rosto virado para o abismo, ele cai numa velocidade espantosa. O vento arranca lágrimas de seus olhos.
A queda se aproxima...
Mas quando o chão se aproxima, ele abre novamente suas asas e aterrissa suavemente. O frio continua intenso, seu corpo congela sob a neve.
E encolhido, abraçando a si mesmo, ele caminha com dificuldade.
O frio, a neve, o vento gélido da tempestade... o Gárgula quase não enxerga. É difícil caminhar de volta ao lar. Tudo é frio, mas ele caminha, porque dentro dele uma dor o aquece.
É a dor do arrependimento.

Será que ela o aceitará de volta?
Desde que partiu, afirmando nunca mais voltar, o Gárgula não consegue tirar Natasha de sua cabeça. A sua rainha eterna, o seu único amor, sua deusa... Natasha...
Caminhando com dificuldade sob a intensa neve, ele lembra dos acontecimentos, as cenas que não lhe saem da cabeça.
Natasha abraçada ao seu prometido rei, o príncipe que surgiu do nada e permaneceu abraçado a Natasha, diante dos olhos do Gárgula...
Do Gárgula, que feito de pedra, nada podia fazer. Apenas olhar, enquanto seu coração doía sem o Gárgula entender o motivo daquela estranha dor, já que seu coração é de pedra...
E o Gárgula decidiu procurar a liberdade, voar para novos horizontes. Mas esquecer Natasha nunca foi possível. Assim como nunca foi possível esquecer o abraço dela com o príncipe.
E a dor o acompanhava por onde quer que ele fosse.
Era bom voar por outros lugares, sem ter seu corpo petrificado. E apesar de ter um coração de pedra, o Gárgula tinha um corpo de carne e osso.
E apesar de, mesmo com o corpo de carne e osso, seu coração sempre foi de pedra, e mesmo com o coração sempre sendo de pedra, ele sentia a dor.
Mesmo com o coração de pedra, ele sentia a dor...
E agora caminhava sob a intensa tempestade de neve, de volta para Natasha...
Não só seu coração, mas seu corpo todo estava ferido, castigado pelo tempo. Mas o Gárgula não se importava, pois dor maior estava no seu coração.
E ele voltava, prosseguindo irredutível em seu caminho, apesar de caminhar com dificuldade.
Sua cabeça estava confusa, ele já não sabia bem o motivo de seu retorno. A tempestade estava deixando o Gárgula meio fora de si, sem controle de seus pensamentos, de sua sanidade.
O Gárgula queria se livrar da dor em seu coração. Será que estava voltando para matar Natasha?
Dessa forma, matando-a, eliminaria a nódoa que tanto dilacerava seu coração. Mas será que eliminaria as lembranças, o remorso?
Será que eliminaria o maldito sentimento de perda, o maldito sentimento de nunca ter tido a chance de possuí-la, com ela tão perto, tão próxima de seu coração, a ponto de ele ser o escravo dela?
O seu eterno devoto, que não suportava a dor de imaginar que aquele abraço... era seu. Pertencia-lhe por direito, mas foi dado a outro.
Todos esses pensamentos, misturados às lembranças, vinham em sua mente enquanto caminhava de voltar ao lar. De volta para Natasha.
Cansado, ferido, quase morrendo. Ele retornava para aquilo que realmente o matou.
E finalmente ele chega, percorre um longo desfiladeiro, quase caindo no mar, no abismo que dava para o mar, tamanha era a força da tempestade.
Percorreu o longo desfiladeiro até ficar de frente para o castelo. Um grande castelo cujo fim quase não se podia ver, tamanha era a altura.
Mas era necessário voar até ele. E o Gárgula já não tinha forças para voar.
E para entrar no castelo, era necessário esperar a ponte baixar.
As águas do mar que separavam o castelo do desfiladeiro só podiam ser ultrapassadas pela ponte, e era necessário que a ponte fosse baixada para se chegar aos portões imensos do castelo.
Natasha controla a ponte. Ela controla o castelo.
E ela sempre sabe quem se aproxima.
Será que o receberia de volta? Será que o acolheria novamente em seu lar?
Depois de tanto tempo, será que Natasha perdoaria o Gárgula por ele tê-la abandonado?
A ponte baixa.
O Gárgula, já quase sem forças para andar, percorre a ponte e entra no monstruoso castelo.
Está no conforto de seu antigo lar. O castelo de Natasha.
O castelo é o coração de Natasha, e o Gárgula sente novamente o calor do coração dela...
Então ele sobe os degraus, milhares de degraus. Mais uma longa jornada para o Gárgula, dessa vez para chegar até Natasha, e finalmente resolver o assunto que deixou para trás...
Natasha, no alto do castelo, contempla a tempestade. Olhar sereno, misterioso, distante...
Com seu longo vestido vermelho, com panos vermelhos que desciam pelas torres do castelo, como sangue a ondular nas rochas frias, seguindo o movimento da tempestade.
E parecia sangue o que o Gárgula via ao seu redor. Descendo em linhas sobre as paredes ao redor das escadas de pedra. Como veias a percorrer o castelo, envolvendo o Gárgula.
E ele sentia nessas linhas vermelhas todo o sentimento de Natasha.
Era arrependimento.
Arrependimento de ter toda a paixão que a vermelhidão de seu sangue pode ter, mas de não ter o amor que só o Gárgula podia ter.
Natasha não tinha controle sobre sua paixão, e eternamente apaixonada ela fazia ondular e envolver com seu sangue todo o castelo de rochas gélidas, abraçando e aquecendo o castelo com sua imensa vermelhidão de veias cheias de paixão.
Ela queria que o Gárgula, agora, entendesse que ela era escrava de algo muito pior: sua paixão. E que sofria por esse terrível destino que não podia controlar.
Quantas vezes ela desejou o amor... e quantas vezes ele escapou...
Não era a primeira vez!
Era o terrível amor, que mesmo que ela se esforçasse para tê-lo, sempre escaparia de suas mãos. Porque ela nunca, durante todos esses anos, nunca se dedicou a ele. E assim, o amor agora a tratava como a uma desconhecida...
E o Gárgula, subindo os milhares de degraus do castelo, vai compreendendo todo o pensamento de Natasha, através das veias que o envolvem enquanto ele sobe.
E quando finalmente chega ao encontro de Natasha, ela continua virada para o horizonte. E o Gárgula se aproxima por trás dela.
Ela sente.
Ele sente.
Todo o sangue, toda a vermelhidão, toda aquela paixão... é tudo o que o Gárgula precisa para manter-se vivo.
E compreendendo sua natureza de Gárgula, ele passa por ela, sem nem ao menos olhá-la, e volta ao seu posto na beira do castelo. Tornando-se pedra novamente.
Voltando a guardar e proteger o castelo e seu maior tesouro: Natasha.
Até o fim dos tempos.

Ferida aberta

Por Arcano Soturno

"O inferno é a repetição". Essa era a frase colada na parede atrás dele. Seu quarto era bagunçado, a máquina de escrever era velha. Entre tantos objetos e fragmentos de obras inacabadas, ele escrevia, escrevia, escrevia...
"Meu café está frio, minha cabeça dói. Olho para a porta do quarto à minha frente, mas ninguém entra, ninguém bate. Eu queria que ela batesse...
"Minhas páginas de confissão, não se entristeçam com meus escritos. Mais parecem sujeiras, pensamentos ultrapassados, antigos pergaminhos decadentes. É assim que escrevo minhas dores, trancado no quarto, porque sei que se eu sair daqui vou morrer. Além disso, lembrei que passou por minha cabeça uma história, e que me sentei para escrevê-la. Mas algo me impediu. Foi a dor-de-cabeça.
"Procurei comprimidos. Saí... E agora continuo escrevendo. Até agora meus pensamentos são datilografados. Mas se bem me lembro da história, era um homem que saiu de casa sozinho, com uma faca na mão. Não lembro bem o resto, mas aos poucos a história vai acontecendo. E esse café frio, esses papéis que nunca acabam, parecem uma eternidade em meu quarto.
"Eternidade. Eterna. Assim era a Morte da história. Ela veio em forma de anjo e chamou o homem para o paraíso. Mas ele se recusava com a faca na mão. Dizia que ‘preferia estar morto’. Ele sabia que o anjo era uma ilusão e que o paraíso era uma mentira. Então ele se mata com a faca. Várias facadas no peito.
"Caindo. Seu corpo cai lentamente para trás. Ele fecha os olhos e penetra dentro de si, onde vê sua dor em várias formas, dizeres. E morto, vê que alguém lhe estende a mão. Era a Morte, não mais como um anjo. Era a Morte, que o leva pela mão para seguir um rumo além do horizonte.
"Essa é a história que eu queria escrever. Ou estava escrevendo. Não sei, não lembro. Deixo apenas datilografadas essas lembranças, porque estou, ou estava com muita dor-de-cabeça; porque tenho, ou tinha medo de sair do quarto e a depressão me pegar. E continuo escrevendo com essa máquina de datilografia, mas eu queria tomar um gole de café. Porém o café está frio, e eu não consigo pensar direito. E essa mesma história me passa pela cabeça e se repete, repete, repete...".

quinta-feira, agosto 09, 2007

Memórias da terra dos mortos

Por Luiz Poleto

Sempre acreditei que os sonhos são capazes de nos fazer viajar através do tempo e do espaço. Durante aquele longo espaço de tempo em que fechamos nossos olhos e nos deixamos dominar pelo torpor, nossa mente viaja através de terrenos que nunca antes pisamos, e talvez nunca o faremos. Há quem diga que os sonhos são manifestações do subconsciente, assim como alguns dizem que são viagens que nossas almas fazem enquanto deixam nossos corpos abandonados em nossas camas. Se forem, de fato, manifestações do subconsciente, então algumas pessoas, provavelmente as mais sensitivas, correm o risco de viajarem através de toda a história da humanidade, se levarmos em consideração a teoria do subconsciente coletivo que Carl Jung teorizou há muito tempo.

Confesso que atualmente não tenho nenhuma teoria formada sobre o que são, realmente, os sonhos. Diria que sou agnóstico no que tange a este assunto. Talvez esta seja apenas uma desculpa para não me dar ao trabalho de ter que pensar sobre um assunto tão complexo. Talvez seja apenas o trauma de um pesadelo do qual, embora eu tenha acordado, as imagens ainda insistem em atormentar-me dia e noite. Apesar de não ter teoria feita sobre o assunto, eu tenho a esperança de que os sonhos não passem de imagens desconexas, geradas pelas nossas mentes cansadas após um longo período acordado.

O dia, eu não me recordo. Embora eu possa afirmar que passaram-se mais de um ano desde a noite em que viajei através das barreiras do tempo, através da fina película que separa a nossa realidade do passado de caos e tormento em que, aparentemente, vivemos. Uma época em que os seres humanos estavam a milênios de sua mísera existência. Uma época em que os tambores entoavam sons que pareciam ter vida própria, e moviam-se livremente sem as limitações das barreiras físicas que hoje nos cercam.

Eu havia chegado em casa após um longo dia de trabalho, cansativo, como de costume. Já era madrugada, e, embora acostumado a transitar neste horário, aquela madrugada era diferente. Não sei dizer se era por causa da lua cheia, que emanava sua luz amarelada mais forte que o normal, e, de tão próxima, parecia prestes a cair sobre a terra. Talvez fosse porque, embora tão iluminada pela lua a iluminação pública se fazia desnecessária, a noite estivesse se movendo ao meu redor, quase me afogando em meio ao seu mar de águas negras e gélidas. Apertei o passo para chegar logo em casa, pois aquela sensação não me agradava nem um pouco. Ao chegar em casa, tomei um banho e deitei-me para dormir.

Cansado como estava, meus olhos fecharam-se alguns minutos depois que deitei na cama, fato que achei excelente pois normalmente tenho dificuldades para adormecer. Tão logo a escuridão fez-se em minha mente, comecei a perder a consciência, sentindo aquele agradável torpor que chega junto com o sono. Logo que meu corpo já não mais respondia a nenhum impulso, porém, senti a mesma sensação que senti ao caminhar pela rua. Eu podia ver, claramente, a lua logo acima de mim, banhando-me com seus raios brancos; desta vez ela parecia mais perto do que quando estava na rua. A escuridão agora parecia mover-se ao meu redor, como uma imensidão de águas negras.

Após alguns minutos parado no que parecia ser a minha rua – digo que parecia pois algo estava ligeiramente diferente, talvez fossem as casas e os carros que não tivessem nenhum tom de cor além do cinza que os tomava por inteiro, fazendo-a parecer um perfeito cenário de um filme em preto-e-branco -, senti que a escuridão agora pressionava meu corpo por todos os lados, fazendo com que eu começasse a flutuar. A sensação era muito semelhante a estar em pleno alto mar em uma noite chuvosa, e, após horas nadando sem chegar a lugar nenhum, relaxar o corpo e começar a boiar. Era isso, eu estava boiando na escuridão. Quanto mais eu relaxava, mais o meu corpo saía do chão, deixando para trás aquela rua em preto-e-branco com seus tons cinzentos.

Relaxei por completo, movido pelo desejo de que o torpor e o cansaço tomassem conta de meu corpo, fazendo com que eu finalmente caísse em sono profundo, ou então acordasse, se aquilo fosse um sonho – ou pesadelo. Mas não acordei, tampouco dormi. Aquela massa invisível conduziu meu corpo além das estrelas, não para o espaço, mas sim para longe, muito longe no tempo. Da estrela mais alta, dentro do mais fundo buraco da terra, vi quando o tempo começou a andar para trás. Vi a minha rua, quando ainda transitavam nela os cavalos e carruagens; vi quando ainda nada havia ali a não ser mato e terra, com grandes árvores retorcidas e antigas, da época em que o homem nem caminhava por estas terras. O tempo não parava de retroceder, e fui levado a ver, muito rapidamente, eventos que só li em livros; vi quando a Segunda Guerra estava em seu ápice, com soldados morrendo por todos os lados; vi quando Galileu era considerado bruxo por suas idéias revolucionárias para a época; vi quando o fogo engoliu Roma, e vi quando Jesus foi crucificado e morto.

Depois de passear por todo aquele circo de horrores, minha mente já não mais raciocinava, talvez pelo cansaso que agora fazia meu corpo sentir-se como se estivesse esmagado pela imensidão negra que abraçava-me. Talvez fossem as imagens de horror e destruição que presenciei ao longo da minha viagem astral. Perguntava-me quando aquele tormento teria fim, pois a sensação de flutuar no espaço não era muito agradável; eventualmente, sentia-me como se despencando de um prédio, com um frio tomando-me o estômago fazendo com que ele quase virasse ao avesso.

Continuei em minha viagem, não sei ao certo se subindo ou descendo, por um longo tempo, até que senti que havia parado. Eu estava agora, imagino, boiando no infinito que nos rodeia. A escuridão ainda se fazia presente quando percebi, em algum ponto distante, uma pequena luz vermelha. A luz foi aumentando, tornando-se mais próxima, e foi então que vi o que me atormenta até os dias de hoje. Um cenário de caos e desordem, aonde olhos vermelhos e sem pálpebras desfilavam e dançavam em meio à destruição, sobre prédios invertidos e desprovidos de cores. Fogo descia do céu vermelho, enquanto rios de sangue corriam entre os prédios. Tambores emitiam sons que pareciam vivos, eram densos e propagavam-se pelo espaço, sem qualquer limitação física; ao chegar em meus ouvidos, os sons pareciam adentrar por minhas orelhas sacudindo meu cérebro como gelatina, e pareciam fazer isso propositalmente. A dor tomou conta de todo o meu corpo, e embora eu quisesse gritar, som algum saia de minha garganta. Tentei correr, nadar, caminhar, para longe dali, mas eu não tinha controle algum sobre meu corpo. Foi então que a imensa massa de escuridão afastou-se de meu corpo, fazendo-me despencar do ponto no infinito aonde eu estava. Caí por um longo tempo, sem alcançar o chão – ou o céu -, meus órgãos começaram a dançar dentro de mim, e meus olhos estavam quase pulando fora de órbita quando, finalmente, acordei ensopado de suor em minha cama.

Por alguns minutos fiquei ali sentado, tateando ao meu redor para certificar-me que aquela era minha cama. Acendi a luz para ter certeza de que estava em meu quarto, e, quando finalmente tive certeza de estar em casa, fui até a cozinha e bebi um imenso copo d’água. Hoje, não fossem os remédios dados a mim pelos médicos do hospital psiquiátrico aonde viverei até meus últimos segundos de vida, eu não poderia dormir, pois sempre que deito-me para dormir e o sono chega, sempre estou parado na mesma rua em preto-e-branco, sentindo a escuridão pressionando meu corpo e fazendo-me flutuar levemente no ar.

terça-feira, agosto 07, 2007

A DAMA DE VERMELHO

Nasce,cresce e morre.Assim é o ser humano. Talvez para todos os meros mortais. Mas para aqueles que possuem um dom,uma sina,uma dádiva,uma maldição, para esses o destino é fazer justiça, matar e vingar. Fugir, esconder-se e ao mesmo tempo revelar, provocar.
Simplismente "A dama de vermelho". Assim ficou conhecida a lenda da maior justiçeira do vilarejo Desespero, um lugar esquecido por Deus e amaldiçoado pelos homes. Um lugar misterioso,místico,silencioso e que esconde muitos segredos e crendices locais. Nasceu aí, em meados do século 18, Maria, a virgem, a imaculada, filha do xerife, a perfeita. Quem diria,que ela, logo ela, tão singela, tornaria-se a Dama de vermelho.
Conta a lenda que ela aparecia, entrava na vida do sujeito sem aviso, envolvia-o numa atmosfera de feroz paixão, e então vingava-se. Punia. Pelo ato atroz da traição, desejo, luxúria, pecado. Porém, deixe-me iniciar.
Maria era jovem e bonita, comportada. Todos os requisitos de uma dama. Bordava, cozinhava e ia á missa 3 vezes por semana. A moça perfeita. Logo seu pai arranjou-lhe casamento. Ficara noiva do filho do prefeito. Eram o casal perfeito. Mas ele o homen perfeito a abandonara. No altar. Fugira com uma das meninas de madame Clair. Ela, no altar,ficara sozinha. Alvo de todas as chacotas e mexericos. Seu pai achou que ela tinha sido uma péssima noiva, e a expulsou de casa.
Perdida e sozinha, ela foge, vestida de noiva ainda, sai sem rumo. Chega até o rio, atira-se e mergulha profundamente na escuridão gelada...........O tempo é seu maior aliado, e agora a Dama de vermelho sai com sede devingança. Em busca daquele que a amou e desgraçou.
Mas o destino, ah esse é vil e cruel.
Trabalhando na mesma casa de madame Clair, ele, um grande frequentador da casa, logo se apaixona pela formosa dama. Cega de vingança, o envolve, a tal ponto do mesmo realizar loucuras, comprar-lhe presentes caros e afundar-se em dívidas. Assim ela planeja sua morte.
Em uma bela noite de lua cheia, embriagado, ela o conduz a um lugar afastado da cidade. Depois de fazerem amor loucamente, ela amarra-o numa árvore e lhe conta quem é: " Eu a perfeita, a virgem, estou aqui agora para puni-lo aos poucos; e beber seu sangue e comer sua carne. Jamais esquecerá de mim!
Começa devagar com um alicate, quebra todos os seu dedos, um por um, como paga de todos que riram dela!! Agora concentra-se em seu rosto. Seus olhos azuis e brilhantes, agora vermelhos de dor. Não! Não posso permitir que você veja seu sofrimento. Com furor de dor, ele começa a desfalecer. "Querido, acorde preciso acabar com o pecado. O que levou você a me deixar....". Com um punhal, aproxima-se de seu membro, massageando-o, fazendo-o crescer em suas mãos. Ele gritando de dor e gemendo de excitação. Lentamente a dama, com o punhal, arranca-lhe o membro, fazendo o sague jorrar longe. Ela chora!!! "Oh amor me desculpe, mas é preciso! Tenho que salvar-te do pecado.Você deve ir para o céu!! Amo-te!" Deixando-o só, ela volta para o seu recanto. O recanto das sombras.
Os moradores horrorizados com o tal fato murmuravam apenas que o rapaz antes de morrer só conseguia dizer: "A dama, a dama de vermelho". E toda noite na casa de madame clair ela sai a procura de suas vítimas. Homens ricos e poderosos, que arruinam suas vidas tentando ganhar o amor da formosa Dama. Ela os envolve e os mata. Para livrar o mundo do pecado e da luxúria.
Charlise de Orleans