segunda-feira, junho 29, 2009

Em Stand By por Tempo Inderteminado

Devido a inumeras condições decidi, enquanto mantenedor principal, parar as postagens no blog por tempo inderteminado para reformulações.
Peço a colaboração dos outros autores para que não postem nada por enquanto.
Aos visitantes, o blog segue vivo, então sejam bem vindos sempre
Abraços!

quarta-feira, junho 17, 2009

"I Concurso Literário Contos Grotescos"




O site Contos Grotescos (http://www.contsodeterror.com.br/) está promovendo o “I Concurso Literário ‘Contos Grotescos’ – Prêmio Edgar Allan Pöe”.


O concurso é dedicado a escolher obras de Terror, Horror, Suspense e afins inéditas para a elaboração de um antologia.


A Inscrição é GRATUITA e há prêmios para os primeiros colocados


Mais informações no link abaixo




Sorte aos participantes!


sábado, junho 13, 2009

O Retrato Oval




Conto clássico do mestre Poe (e um dos meus favoritos)


Por Edgar Allan Poe


O castelo em que o meu criado se tinha empenhado em entrar pela força, de preferência a deixar-me passar a noite ao relento, gravemente ferido como estava, era um desses edifícios com um misto de soturnidade e de grandeza que durante tanto tempo se ergueram nos Apeninos, não menos na realidade do que na imaginação da senhora Radcliffe. Tudo dava a entender que tinha sido abandonado recentemente. Instalamo-nos num dos compartimentos mais pequenos e menos suntuosamente mobiliados, situado num remoto torreão do edifício. A decoração era rica, porém estragada e vetusta. Das paredes pendiam colgaduras e diversos e multiformes troféus heráldicos, misturados com um desusado número de pinturas modernas, muito alegres, em molduras de ricos arabescos doirados. Por esses quadros que pendiam das paredes - não só nas suas superfícies principais como nos muitos recessos que a arquitetura bizarra tornara necessários - , por esses quadros, digo, senti despertar grande interesse, possivelmente por virtude do meu delírio incipiente; de modo que ordenei a Pedro que fechasse os maciços postigos do quarto, pois que já era noite; que acendesse os bicos de um alto candelabro que estava à cabeceira da minha cama e que corresse de par em par as cortinas franjadas de veludo preto que envolviam o leito. Quis que se fizesse tudo isto de modo a que me fosse possível, se não adormecesse, ter a alternativa de contemplar esses quadros e ler um pequeno volume que acháramos sobre a almofada e que os descrevia e criticava.Por muito, muito tempo estive a ler, e solene e devotamente os contemplei. Rápidas e magníficas, as horas voavam, e a meia-noite chegou. A posição do candelabro desagradava-me, e estendendo a mão com dificuldade para não perturbar o meu criado que dormia, coloquei-o de modo a que a luz incidisse mais em cheio sobre o livro. Mas o movimento produziu um efeito completamente inesperado. A luz das numerosas velas (pois eram muitas) incidia agora num recanto do quarto que até então estivera mergulhado em profunda obscuridade por uma das colunas da cama. E assim foi que pude ver, vivamente iluminado, um retrato que passava despercebido. Era o retrato de uma jovem que começava a ser mulher. Olhei precipitadamente para a pintura e ato contínuo fechei os olhos. A principio, eu próprio ignorava por que o fizera. Mas enquanto as minhas pálpebras assim permaneceram fechadas, revi em espírito a razão por que as fechara. Foi um movimento impulsivo para ganhar tempo para pensar - para me certificar que a vista não me enganava -, para acalmar e dominar a minha fantasia e conseguir uma observação mais calma e objetiva. Em poucos momentos voltei a contemplar fixamente a pintura. Que agora via certo, não podia nem queria duvidar, pois que a primeira incidência da luz das velas sobre a tela parecera dissipar a sonolenta letargia que se apoderara dos meus sentidos, colocando-me de novo na vida desperta. O retrato, disse-o já, era de uma jovem. Apenas se representavam a cabeça e os ombros, pintados à maneira daquilo que tecnicamente se designa por vinheta - muito no estilo das cabeças favoritas de Sully. Os braços, o peito, e inclusivamente as pontas dos cabelos radiosos, diluíam-se imperceptivelmente na vaga mas profunda sombra que constituía o fundo. A moldura era oval, ricamente doirada e filigranada em arabescos. Como obra de arte, nada podia ser mais admirável que o retrato em si. Mas não pode ter sido nem a execução da obra nem a beleza imortal do rosto o que tão subitamente e com tal veemência me comoveu. Tão-pouco é possível que a minha fantasia, sacudida da sua meia sonolência, tenha tomado aquela cabeça pela de uma pessoa viva. Compreendi imediatamente que as particularidades do desenho, do vinhetado e da moldura devem ter dissipado por completo uma tal idéia - devem ter evitado inclusivamente qualquer distração momentânea. Meditando profundamente nestes pontos, permaneci, talvez uma hora, meio deitado, meio reclinado, de olhar fito no retrato. Por fim, satisfeito por ter encontrado o verdadeiro segredo do seu efeito, deitei-me de costas na cama. Tinha encontrado o feitiço do quadro na sua expressão de absoluta semelhança com a vida, a qual, a princípio, me espantou e finalmente me subverteu e intimidou. Com profundo e reverente temor, voltei a colocar o candelabro na sua posição anterior. Posta assim fora da vista a causa da minha profunda agitação, esquadrinhei ansiosamente o livro que tratava daqueles quadros e das suas respectivas histórias. Procurando o número que designava o retrato oval, pude ler as vagas e singulares palavras que se seguem: «Era uma donzela de raríssima beleza e tão adorável quanto alegre. E maldita foi a hora em que viu, amou e casou com o pintor. Ele, apaixonado, estudioso, austero, tendo já na Arte a sua esposa. Ela, uma donzela de raríssima beleza e tão adorável quanto alegre, toda luz e sorrisos, e vivaz como uma jovem corça; amando e acarinhando a todas as coisas; apenas odiando a Arte que era a sua rival; temendo apenas a paleta e os pincéis e outros enfadonhos instrumentos que a privavam da presença do seu amado. Era pois coisa terrível para aquela senhora ouvir o pintor falar do seu desejo de retratar a sua jovem esposa. Mas ela era humilde e obediente e posou docilmente durante muitas semanas na sombria e alta câmara da torre, onde a luz apenas do alto incidia sobre a pálida tela. E o pintor apegou-se à sua obra que progredia hora após hora, dia após dia. E era um homem apaixonado, veemente e caprichoso, que se perdia em divagações, de modo que não via que a luz que tão sinistramente se derramava naquela torre solitária emurchecia a saúde e o ânimo da sua esposa, que se consumia aos olhos de todos menos aos dele. E ela continuava a sorrir, sorria sempre, sem um queixume, porque via que o pintor (que gozava de grande nomeada) tirava do seu trabalho um fervoroso e ardente prazer e se empenhava dia e noite em pintá-la, a ela que tanto o amava e que dia a dia mais desalentada e mais fraca ia ficando. E, verdade seja dita, aqueles que contemplaram o retrato falaram da sua semelhança com palavras ardentes, como de um poderosa maravilha, - prova não só do talento do pintor como do seu profundo amor por aquela que tão maravilhosamente pintara. Mas por fim, à medida que o trabalho se aproximava da sua conclusão, ninguém mais foi autorizado na torre, porque o pintor enlouquecera com o ardor do seu trabalho e raramente desviava os olhos da tela, mesmo para contemplar o rosto da esposa. E não via que as tintas que espalhava na tela eram tiradas das faces daquela que posava junto a ele. E quando haviam passado muitas semanas e pouco já restava por fazer, salvo uma pincelada na boca e um retoque nos olhos, o espírito da senhora vacilou como a chama de uma lanterna. Assente a pincelada e feito o retoque, por um momento o pintor ficou extasiado perante a obra que completara; mas de seguida, enquanto ainda a estava contemplando, começou a tremer e pôs-se muito pálido, e apavorado, gritando em voz alta 'Isto é na verdade a própria vida!', voltou-se de repente para contemplar a sua amada: - estava morta!»

domingo, maio 31, 2009

Versos Inscritos numa Taça Feita de um Crânio




Uma das minhas poesias preferidas do mestre Byron (que eu não lembro se já postei nesse blog rs - se postei vale a pena postar de novo rs).


Por Lord Byron


Não, não te assustes: não fugiu o meu espírito
Vê em mim um crânio, o único que existe
Do qual, muito ao contrário de uma fronte viva,
Tudo aquilo que flui jamais é triste.

Vivi, amei, bebi, tal como tu; morri;
Que renuncie e terra aos ossos meus
Enche! Não podes injuriar-me; tem o verme
Lábios mais repugnantes do que os teus.

Onde outrora brilhou, talvez, minha razão,
Para ajudar os outros brilhe agora e;
Substituto haverá mais nobre que o vinho
Se o nosso cérebro já se perdeu?

Bebe enquanto puderes; quando tu e os teus
Já tiverdes partido, uma outra gente
Possa te redimir da terra que abraçar-te,
E festeje com o morto e a própria rima tente.

E por que não? Se as fontes geram tal tristeza
Através da existência -curto dia-,
Redimidas dos vermes e da argila
Ao menos possam ter alguma serventia.

domingo, maio 17, 2009

A Fortuna Maldita



Por Linx


— Puta que pariu!
O grito ecoou por toda aquele velho quarto. Por mais que R. suspeitasse que houvesse realmente algo de valor dentro daquele casarão abandonado, não podia crer que era tanto. E menos ainda podia crer que havia conseguido achar.
Muito se falava a respeito da fortuna que o velho B. havia escondido em algum lugar do seu casarão, mas eram poucos os com coragem de entrar ali (diziam que a casa era amaldiçoada) e os intrépidos caçadores de tesouros que se arriscavam a entrar por mais que vasculhassem a casa toda, ninguém jamais havia encontrado uma pista, mas agora ele o encontrara, o baú, cheio de jóias e barras de ouro.
— Estou rico!
Ele gritava e coxeava pelo aposento com uma criança. Estava em êxtase.
— Deve ter uma fortuna aqui! Disse ele tirando um punhado das jóias do baú. tenho que tira-lo daqui
R. pegou em uma das argolas laterais do baú e se pôs a arrasta-lo para fora. Ninguém havia vindo com ele e como não pensava agora em dividir aquele ouro, acharia um jeito de leva-lo até sua caminhonete estacionada na frente do casarão, coloca-lo na caçamba e leva-lo até sua casa, onde de lá realizaria os tramiteis legais.
— O que é isso?
R. parou no meio do caminho e viu algo que lhe chamou a atenção; um livro velho, em cima de um móvel. Decidiu recolhe-lo antes de ir embora e pondo num dos seus bolsos
Apesar de sua perna direita não ajudar muito (uma pedra havia caído em cima dela a uns três anos - e ele esperava uma prótese até hoje), ele conseguiu quase levando seus músculos a estafe, colocar o ouro na caçamba de seu carro.
— Estou rico, estou rico! R. falava baixinho e ria sem parar. Adeus vida de pobre pé rapado.


— Senhor, seu uísque.
— Sim, agora volte pro seu trabalho
— Sim senhor. Disse ele abaixando a cabeça
— Ande lesma!


Haviam se passado cerca de um ano e agora R. não era mais aquela caçador de tesouros manco, mas sim um dos homens mais ricos de todo pais e famosos do pais.
Logo após sua descoberta a noticia logo se espalhou pela região e em pouco tempo pelo pais todo e suas extravagâncias logo começaram a virar capa de revistas e jornais.
Suas primeiras providencias foram corrigir algumas marcas que a vida havia lhe deixado, se submetendo por varias cirurgias plásticas. Além disso colocou próteses feitas do ouro que ele havia encontrado no seu fêmur e radio (radio que ele quebrou ao tentar tirar o baú de cima de seu carro), e trocou todos seus dentes já apodrecidos por próteses em ouro.
A casa onde ele achou o baú foi inteiramente reconstruída, passando por cima até mesmo do patrimônio nacional que havia tombado aquela casa, sendo acrescentada um grande garagem inclusive que ele encheu de carros importados.
Além de sua gastança desenfreada com essa casa, carros, jóias entre outros ele também era conhecido por armar escândalos; brigas embebedado, grandes orgias com atrizes do mundo pornográfico e rachas com seus carros – em um ou dois deles resultado em morte de pessoas inocentes – obviamente encobertas).
Seu temperamento que já era arrogante, se tornou insuportável e por isso ele vivia praticamente sozinho naquela mansão, a não ser pelos seus inúmeros empregados (muitas delas obrigadas a satisfazer seus desejos sórdidos).


— Já arrumou meu quarto e meu banho?
— O senhor já vai se deitar?
— E o que você tem haver com isso seu imbecil
— Nada senhor
— Então ande, arrume tudo lá sua lesma. Ou quer ser despedido?
— Não senhor. Já estou indo
— Vai suma. E rápido que quando eu chegar lá quero tudo pronto
— Sim senhor
— Cambada de inúteis!
R. se levantou com dificuldade e foi até seu aposento. Tentou ir o mais rápido possível, para tentar pegar tudo ainda por terminar, mas ao chegar nos seus aposentos seu empregado já lhe esperava com a porta aberta
— Pronto senhor. Mais alguma coisa?
— Não suma logo seu imbecil
— Sim senhor
O emprego então esperou R. entrar e fechou a porta, seguindo pelo corredor até seu quarto proferindo em voz baixa diversos palavrões. R. enquanto isso acabava de tomar seu banho e já estava indo se deitar.
Aquela noite estava quente e isso fez R. acordar no meio da noite, já sem sono. Ficou deitado um tempo, mas não conseguia pregar o olho. Decidiu fazer algo para passar o tempo e ver se o sono chegava. Ligou a televisão, mas nela nada parecia lhe interessar, desligando ela logo em seguida.
Deitou-se de lado e viu em cima de seu criado-mudo aquele velho livro que ele havia achado junto com sua fortuna.
Ele nunca havia se interessado em sequer abrir aquele livro depois de ter sua fortuna nas mãos, mas como aquela noite parecia não passar decidiu abri-lo e ver do que se tratava.
Lendo um pouco do conteúdo, viu que não se tratava de um livro, mas sim de um diário, o diário do velho B.
Nele o velho contava muitas historias e contava como havia feito sua fortuna, passando por cima de muitos a matando diversas pessoas. Quanto mais ele lia, mais ele via o porque de tanta gente temer aquela casa, pois a cada pagina a historia daquele velho senhor parecia piorar e ele parecia cada vez mais doentio.
Ao chegar na ultima pagina ele se deparou com um relato desesperado:
“Não agüento mais, isso já está ficando insuportável. Eles agora estão em todas as partes a toda hora. Vejo hoje que o que fiz foi algo imperdoável e que essa maldição nunca vai ter fim. Escrevo aqui e peço a pessoa que encontrar meus rabiscos que não façam uso nem sequer de um vintém de minha fortuna pois nela está contida a maldição que me condenou e que eu criei com meus infames atos covardes pelo qual adquire toda essas jóias e dobrões de ouro...”
A relato terminava ai, mas pela caligrafia no fim da frase. Podia-se presumir claramente que ele continuaria a escrever, mas não conseguiu.
— Velho caduco. Disse R. sorrindo. Já devia estar maluco esse porra.
R. ficou um tempo rindo sozinho, mas logo o sono veio e ele adormeceu


— O que?
R. acordou assustado com um barulho de porta rangendo. Ao abrir os olhos reparou que sua porta estava aberta e uma luz vinha do corredor. Tateou o chão em busca de seu chinelo e decidiu ver o que acontecia, pois ele tinha certeza que havia apagado todas as luzes e fechado a porta, já que seu sono só vinha com todas as luzes apagadas.
— Deve ter sido um daqueles empregados inúteis. Bando de idiotas!
Ao sair do seu quarto e olhar seu extenso corredor viu algo no fundo dele que parecia ser uma criança.
— Hei quem é você? Espere, volte!
A criança correu em direção a escada descendo ela rapidamente. R. a seguiu correndo o máximo que podia. Desceu as escadas rapidamente e viu a criança olhando para o lado de fora em frente a porta principal aberta. Ao ver que ele havia chegado ela aponta para fora. R. vai em sua direção temeroso e para ao seu lado.
— Meu Deus!
Por um breve momento seu corpo ficou paralisado e suas pernas tremeram. Do lado de fora de sua casa estavam depostos centenas de corpos de pessoas, todas aparentemente mutiladas, pois seus braços, pernas e vísceras estavam espalhados por todos os lugares.
— O que é isso?
— Foi seu ouro que fez. Disse a criança olhando para ele.
— Não! Não! Eu não fiz nada!
— Seu ouro nos matou...
Ao pronunciar essas palavras o pescoço da criança começou a se abrir e derramar uma imensa quantidade de sangue vermelho vivo
— Veja o que seu dinheiro fez. Disse ela com uma voz como de alguém que se afoga. Veja!
— Não!
— Esse dinheiro é maldito e te levara com ele ao inferno
— Não!
O grito acompanhou o brusco acordar dele.
— Foi só um sonho. Foi só um sonho. Deus que susto
Um sorriso amarelo brotou de seus lábios. Mas por mais que ele acreditasse que aquilo apenas tinha sido um sonho, fruto da leitura do relato apavorante do diário de B., no fundo sabia que havia algo de errado. Decidiu que não pensaria nisso aquele dia; precisava de uma massagem e um bom uísque só isso.
Tateou então o chão em busca de seu chinelo e o calçou antes de se levantar e ir até o banheiro tomar uma bom banho de hidromassagem.
Após seu longo banho, pôs um belo terno e segui de carro até uma casa de massagem. Pensou que podia passar o dia lá e só voltar pra sua casa para dormir, pois hoje aquela casa lhe parecia um tanto assustadora.
Por mais que tivesse num de seus lugares favoritos, cercado por mulheres lindas, aquele sonho lhe perturbava muito. Algo lhe dizia que aquilo tinha um fundo de realidade, mas não seria um sonho idiota que o faria desistir de sua boa vida; “se o velho fez a fortuna matando pessoas, o problema foi dele, eu só quero saber de curtir minha grana.”


— Senhor pode me dar um trocado? Disse um velho senhor cutucando o vidro de seu carro importado na frente de sua casa
— Não tenho e vai trabalhar seu vagabundo
— Não posso senhor, eu perdi uma perna
— E o que eu tenho a ver com isso seu vagabundo?
— Porque foi seu dinheiro que fez isso!
A fisionomia do senhor mudou de uma profunda tristeza para o profundo ódio, adquirindo um olhar extremamente diabólico
— Seu doente! Maluco! Sai daqui
— Eu quero o que me pertence!
— Filho de uma puta!
O carro de R. acelerou o mais rápido que podia até sua garagem. Fechou a porta desesperado e subiu ao hall correndo.
— Preciso de um uísque.
— Eu quero o que é meu!
— Não!
R. olhou para o lado e lá estava aquele senhor, mas agora acompanhado de outros vinte homens, todos sem pernas ou braços, sujos de terra e sangue, com farrapos rasgados. Na frente deles aquele menino de ontem.
— Você virou um sujeito arrogante e enriqueceu em cima de nossas vidas. Agora viemos buscar nosso ouro que você nos roubou
— Vocês são só um sonho! Não existem
— Me de o que me pertence!
Os homens quase que pularam de seus lugares em direção a R. que tentou fugir subindo as escadas. No fim dela quando ele se virou em direção ao corredor que dava ao seu quarto viu todos aqueles homens parados ali, um monte deles para cada lado. Eles avançaram em cima dele o cercando por todos os lados
— Nos dê o que ele roubou!
— Não... não!
Um deles enfiou a mão no antebraço de R. e abriu ele com suas unhas. R. gritou o mais alto que podia. Outros dois também levaram a mão aquele braço,competindo entre eles.
— Parem!
— Queremos o que é nosso!
Outros dois começaram a forçar a boca de R. até expô-la completamente e começaram e tentar rançar seus dentes com suas unhas. R. tentava se mexer, mas era contido por eles e por mais que tentasse gritar ou morder eles seguravam sua boca com muita força. Agora lagrimas já cobriam todo seus rosto e escorria muito sangue de sua boca.
— Ah!
O grito mal saiu; outros cinco tentavam abrir sua perna a mordidas e unhadas. Dilaceravam a carne, tentando expor aquele osso de ouro, o arrancando logo em seguida. Sua boca mal continha dentes, pois a maioria já havia sido arrancada.


— Senhor!
O mordomo deu um grito alto e apavorado ao ver seu patrão deitado no chão em cima de uma poça de sangue. Sua boca estava aberta e dela vazava uma enorme quantidade de sangue, assim como um de seus antebraços e pernas totalmente mutilados.
Após esse incidente a casa foi queimada em meio a um abaixo assinado da população local e o terreno coberto com sal. Até hoje ao se passar ali em frente pode-se ver aquele enorme terreno carbonizado e muitos afirmam que a noite ainda se ouvem gritos desesperados de dor.

Coleção de dedos


Era fim de tarde,o sol não aparecera o dia inteiro e agora uma chuva fina caia esfriando a cidade.As pessoas se acotovelavam nas ruas,lotavam os onibus,congestionavam o trânsito com seus carros,era a fuga de todo final de dia com cada um querendo chegar o mais depressa em sua casa.
Andavam como animais que pressentem os perigos da noite,se aglomeravam em busca de proteção.Perto da entrada para o metrô a confusão era ainda maior,a massa compacta de pessoas tentava descer as escadas sem se desgrudar,todos correndo,todos com receio de tudo.Em meio aos adultos cansados um grupo de crianças em idade escolar também seguia.Eram cinco,com suas mochilas coloridas cheias de personagens de desenho animado,seus rostinhos inocentes mostravam sorrisos não tão inocentes,todas entre 6 e 8 anos.
A chuva começou a piorar,agora eram gotas grossas e contínuas que caiam.A multidão farejava o predador,em meio ao ruido de buzinas,conversas e celulares um grito.Um mulher caiu de joelhos no meio da massa,segurava a mão que sangrava profusamente,dois homens pararam para ajuda-la e então se horrorizaram,onde antes haviam cinco belos dedos agora só restavam quatro.
A multidão se comprimiu mais,um homem gritou e se abaixou,ouviu-se uma risada infantil.O cheiro de sangue misturava-se ao de chuva,as pessoas olhavam ao redor procurando o agressor,o predador.
Mais um grito e outra pessoa abaixada,outro dedo decepado,as mochilas coloridas se movimentavam rápido e a massa agora corria assustada descendo as escadas em alta velocidade.Pessoas que caiam eram pisoteadas,outras eram chutadas e rolavam as escadas coalhadas de gente.As risadas infantis eram altas,mas não tão altas que não desse pra ouvir as sirenes e foi ai que tudo parou.
As mochilas sumiram na multidão,os policiais só encontraram vítimas...Mais tarde atrás de uma lixeira num beco qualquer as cinco crianças olhavam seus troféus.
A garotinha loira estendeu o belo dedo de mulher onde se via um anel ensanguentado.
- Eu peguei o mais bonito... - Ela dizia satisfeita.
Um garoto negro exibiu as mãos cheias de dedos decepados.
- Mas eu peguei mais que todo mundo... - Ele ria.
- Parem de rir e guardem nossos brinquedos,mamãe me bate se eu me atraso para o jantar... - Disse um garoto que parecia ser o lider tirando um tijolo da parede proxima e escondendo sua cota de dedos ali.Os outros o imitaram.
- Então está combinado...Amanhã vamos ao terminal de ônibus e vocês vão ver como é bem mais dificil cortar orelhas... - Falou uma garota oriental rindo.
Todos riram,um sorriso nem tão inocente...

sexta-feira, maio 01, 2009

Obsessão




Uma Poesia sombria do mestre Baudelaire

Grandes bosques, de vós, como das catedrais,
Sinto pavor; uivais como órgãos; e em meu peito,
Câmara ardente onde retumbam velhos ais,
De vossos De profundis ouço o eco perfeito.

Te odeio, oceano! Teus espasmos e tumultos,
Em si minha alma os tem; e este sorriso amargo
Do homem vencido, imerso em lágrimas e insultos,
Também os ouço quando o mar gargalha ao largo.

Me agradarias tanto, ó noite, sem estrelas
Cuja linguagem é por todos tão falada!
O que procuro é a escuridão, o nu, o nada!

Mas eis que as trevas afinal são como telas,
Onde, jorrando de meus olhos aos milhares,
Vejo a e olharem mortas faces familiares.

quarta-feira, abril 29, 2009

O jeito é matar


Ela sorriu e ele também.Era tão bonito,tudo era tão bonito...Aquela pequena padaria de esquina,a mesa verde de ferro fundido,as florezinhas azuis pintadas na xicara dela,a maneira que ela segurava a xicara,era quase...Poético...
Ele olhava totalmente absorvido nela,sabia que estava com cara de idiota mas naquele momento,sinceramente...Não lhe importava.
Ela queria o mundo e ele queria somente a ela.Ela era a flor,ele os espinhos.Queria estar em todos os lugares,a todo tempo,em todas as conversas,vendo-a,tocando-a,respirando o ar dela.E ela a suspirar,a passar as mãos pelos cabelos longos,aqueles aneis ruivos...Cor de sangue...De sangue.
Ele notou então que a queria demais...Se anulava por ela,se feria por ela,se dividia por ela e por ela sumia.Viu tarde demais que abandonara a faculdade,assim como seu emprego promissor,abandonara os amigos,a familia...Enfim tudo.Mergulhara nela e a deixara ser ele.Percebeu que as paredes de seu quarto eram forradas de fotos dela,percebeu no meio de suas roupas uma mecha do cabelo dela cortada sabe Deus quando...Tinha até um lencinho dela,meio manchadinho do sangue dela no dia que a xicara de florezinhas azuis quebrara...Quando fora isso?
Ela queria o mundo...Ele queria não querê-la mais...Mas agora era tarde,ela era a vida e só acabaria quando a vida deixasse de existir.Viu sua saída,sua luz no fim do túnel...Matá-la,sim matá-la,porque apenas matando-a ele voltaria a existir,ele poderia viver de novo de luto pelo amor,odiando o amor,desistindo do amor e sendo feliz.FELIZ!!
Em um acesso de alegria ele rasgou as fotos das paredes,queimou a mecha do cabelo dela,se jogou no chão em meio a confusão e riu...Riu a tarde toda.
Deu um jeito de copiar a chave da casa dela,tinha anotado em uma agenda toda a rotina dela,sabia de cada um de seus passos,cada um de seus horários...Foi simples seguir seu plano...
Ele entrou pelas 6:00 da tarde,na vizinhança ninguém o estranhou,estavam acostumados a vê-lo com ela.Acharam normal...
Dentro da casa ele ligou o som,colocou cd's que ambos gostavam,abriu as cortinas,arrumou o que ela deixara bagunçado,fez o capuccino que ela tanto tomava na padaria de esquina.Sentou no sofá e esperou...Ela que não chegava...Se atrasara 10 minutos...Não faria diferença...Morreria do mesmo jeito...
O mal foi a curiosidade...Nunca estivera no quarto dela...Queria tanto tanto....Tentou se conter e não pode,abriu a porta cor de creme e entrou.Quase morreu de infarto.
As paredes eram forradas com fotos dele,fotos do dia dele.Ele no banho,ele dormindo,ele estudando,ele tomando café na cozinha pequena do seu apartamento,ele tirando fotos dela,ele no carro,ele parado numa rua...Ele,ele,ele...
Ele olhava o quarto todo sem entender,parecia tão irreal...Olhou o chão e viu mais fotos,viu também as cartas que ele escrevia mas nunca mandava e que pensava ter jogado no lixo.Viu a letra miuda dela espalhada em suas fotos,dizia a mesma coisa "te amo".Cem,mil,um milhão de vezes repetida.Ele se apoiou na parede arfando...Aquilo era loucura...Loucura...Sentiu medo e desmaiou com uma pancada na cabeça.
Acordou preso a cama,ela estava ao seu lado,o rosto manchado de lágrimas,o cabelo em desordem.
- Você não podia ter visto...Eu tentei...Tentei que você não soubesse... - Ela dizia andando pelo quarto,arrancando as fotos e jogando no chão.Tirou do armário uma camisa dele e cheirou,beijou,passou-a pelo corpo. - É que eu te amo tanto tanto...Mas preciso viver entende?Por favor,você precisa entender!Eu não vivo mais!
Ela jogou a camisa no chão e começou a jogar alcool em tudo,estava insana,repetia que precisava viver.Ele compreendia e também chorava...Sabia o que iria acontecer...Ele mesmo planejara...Ele fora pego em sua propria armadilha...Não ia adiantar nada pedir e nem implorar por sua vida,ele sabia o que ela sentia,sabia que ela não iria parar...Porque ele também não pararia.
- Vai doer,mas vai passar...E ai estaremos livres...Ta?Eu te amo... - Ela sussurrou no ouvido dele e depois o beijou na boca.
Saiu do quarto jogando um fosforo aceso no chão,ela ainda viu as primeiras labaredas.Mas o inferno quem presenciou foi ele...Sentiu o fogo lhe consumir a carne,lhe arrancar a pele...Viu todo seu corpo se encher de bolhas,se sentiu sufocar pela fumaça.
Morreu em extrema agonia sabendo que agora ela queria o mundo...E ele não estaria lá para impedir...O amor não passava...O amor não passava...

" Isso não é amor, é uma perseguição...Você vai onde eu vou,até na contramão..." 2ois

sábado, abril 25, 2009

Garota Perfeita




Por Hell


Era como se ela não fosse vista, as pessoas passavam por ela e lhe sorriam mas na verdade não a enxergavam. Dia após dia ela via as pessoas passarem, lhe olharem como um bicho em exposição.
Algo devia estar errado, por que não era lhe permitido sentir? Por que não lhe era permitido pensar por si? Por que não lhe era permitido sentir o que todos sentem quando estão vivos?
Suas mãos tocaram o vidro da vitrine, algo tinha que estar errado. Ela bateu uma vez, ninguém lhe deu atenção, continuaram a passar como se nada tivesse acontecido.
Ela bateu de novo, com um pouco mais de força,ainda assim nada... Tentou gritar mas desistiu quando lembrou que os vidros eram a prova de som. Deitada em sua cama macia de cetim vermelho ela chorou, ela queria apenas sair, ela queria apenas viver... Não entendia por que isso lhe era negado.
Novo dia, mesma rotina. Uma menina passou pela vitrine e lhe olhou fixamente, ela tentou sorrir, ser simpática, talvez a menina lhe tirasse dali. Não, a mãe acabou por levar a menina embora. Ela sentou no chão e em um acesso de raiva destruiu alguns objetos de sua prisão.
Ela não tinha família, não tinha amigos, por que? Ela era igual aos outros que passavam la fora, mas não vivia como eles.
Um dia um homem entrou em sua vitrine, ele trazia um cartaz vermelho na mão. Ela avançou sobre ele tentando perguntar por que estava ali, por que não podia viver, por que e por que... Ele recuou com medo, ela o prendeu, tentou lhe falar mas sua voz não saia. Por que? Por que? Ele não parava quieto, ela teve que segura-lo um pouco mais forte, só queria explicações, respostas a tantos por quês.
Ele agora começava a arranha-la, seu olhar tinha um desespero que ela não entendia, olhou para suas mãos, elas estavam cobertas de um liquido vermelho, o que era aquilo? Era tão bonito, tão brilhante... Ela tentou perguntar ao homem o que era mas ele tinha dormido, ela lhe deu alguns tapas esperando que ele acordasse mas apenas sujou o rosto dele de vermelho... Tão bonito...
Ela começou a abrir mais o buraco que lhe havia feito no peito, ali dentro mais e mais vermelho. Quente, lindo, vibrante. Ela esfregou o vermelho pelo corpo e magicamente as pessoas pararam para olha-la. As pessoas agora a olhavam com interesse.
Sim, finalmente era notada. Ela sorriu passando mais do vermelho mágico pelo corpo, caminhou até a vitrine, as pessoas se afastaram com uma expressão que ela não entendeu.
Ela tentou faze-los voltar, mas eles se afastaram mais. Ela arrebentou o vidro correndo atrás deles, precisava ser notada, precisava.
Derrubou uma mulher no chão, a pegou pelos cabelos e lhe abraçou forte. Aos poucos o crânio duro foi ficando macio, ela sentiu seus braços molhados. A cabeça da mulher era uma mera massa disforme, ela foi atrás das outras pessoas.
Atenção, só precisava de atenção, e aquele liquido vermelho lhe proporcionava isso, precisava de mais, muito mais.
Na vitrine o vento virou o cartaz vermelho que dizia.

“Boneca Cynthya, todo amor ao seu alcance”

sexta-feira, abril 17, 2009

O Escolhido




Estou meio sem material para postar por isso posto algo meu mesmo rs


Por Linx


“Quem tiver sabedoria que calcule o número da besta, pois é um numero de homem e seu numero e seiscentos e sessenta e seis”
Apocalipse de São João

— Cinco minutos...
L. olhava no relógio sem parar, estava extremamente ansioso. Suas pernas mal paravam no lugar e ele começava a suar.
Seis meses, era o que ele havia esperado, seis longos meses para que ela aceitasse sair com ele, mas agora ele estava lá, com sua melhor roupa, segurando um CD que ela disse ser de sua banda favorita (que por sinal ele odiava - mas passou a tentar gostar) na frente daquele shopping a esperando.
Seus olhos corriam todos os rostos que passavam, procurando o rosto de sua amada. Aquele rosto...
Devia ser o rosto mais lindo que ele havia posto os olhos. Parecia de um anjo, esculpido pelas mãos do próprio Deus. Aquele rosto que fez ele se apaixonar perdidamente desde a primeira vez que o viu. Agora ele o procurava no meio da multidão, já meio que desesperado pois via em seu relógio que ela devia estar ali já faziam dez minutos.
— Ela deve ter desistido... não! Pare de ser pessimista! Ela virá. Afinal coisas acontecem, ônibus quebram, essas coisas...
Mas algo no fundo dizia que ela não viria. Bem lá no fundo ele sabia que aquilo tinha sido uma idiotice, afinal porque ela viria? Porque ela iria se encontrar com ele? Tantos porque ela escolheria justamente ele?
— Não passo de um idiota...
Seus pensamentos otimistas logo começaram a sumir de vez quando ele se voltou ao relógio e viu que já passaram meia hora do combinado.
— Melhor eu ir... não quero ficar aqui como idiota.
L. se virou e seguiu a passos longos e olhos já quase cheios de lagrimas nos olhos a direção de sua casa.
— L.!
Seus olhos se voltaram a uma voz que gritou seu nome atrás dele. Seu coração quase que arrebentou seu esterno quando ele viu ela ali parada vestindo uma blusa rosa e uma calça jeans, com um lindo sorriso
— Onde você vai?
— Eu...
— Tava indo embora? Ia me abandonar? Disse ela sorrindo
— Não...eu só achei que...
Ela correu de onde estava e seguiu em sua direção.
— Desculpa o atraso. Disse ela coçando a cabeça. Eu me perdi!
— Tudo bem. Disse ele limpando seu rosto
— Então... Oi! Disse ela espontaneamente sorrindo
— Oi. Disse ele esboçando um sorriso tímido
— Bem, que tal irmos ao shopping. Aqui é chato
— É...
Suas mãos se encontraram. O coração dele batia acelerado, suas mãos suavam, era como um sonho. Ela olhava ao longe, como que procurasse alguma coisa, e nos seus lábios um sorriso quase que sarcástico começava a brotar.
— Seu otário! Disse ele dando um soco em L.
Todos a sua volta riam, inclusive D., a garota que ele tanto amava.
— Achou realmente que a D. ia sair com você seu otário?
Seus olhos se enchiam de lagrimas. Como ela pode?
— Vamos ensinar ele H., vamos por esse idiota no lugar dele
— É boa idéia. Disse um outro
— Mas... D. começou a dizer algo. Não machuquem muito
Todos deram uma longa gargalhada.
— Não se preocupe. Disse um deles beijando D. Só uns socos nada mais
— Ah tudo bem então. Disse ela sorrindo. Amorzinho é só brincadeirinha
Os quatro chegaram mais perto de L. Um deles o empurrou o fazendo cair no chão, enquanto os outros começaram a chuta-lo
— Parem pelo amor de Deus. Disse L. chorando
— Ah ele começou a chorar. Disse um deles, despertando uma gargalhada geral
— Ah amor não se preocupe, quando eles acabarem ele lhe dou seu tão sonhado beijinho. Disse D. que observava tudo
— Não parem... por favor
Os chutes voltaram, dessa vez com mais intensidade. L. chorava e gritava por piedade e com isso os garotos apenas aumentava a força do chute.
— Cansei. Disse um deles.
— Será que ele aprendeu onde é o lugar dele?
— Vamos ver. Disse um deles levantando a cabeça de L. do chão. Aprendeu otário? Lugar de gente como você é ai, no chão, em baixo de nós.
O garoto soltou sua cabeça e a deixou cair no chão com força.
— Thau amorzinho. Disse ela dando-lhe um beijo no rosto
— Vamos logo D.
— Já vou. Thau. Disse ela baixo no seu ouvido
— Me dá um beijo aqui gata
“Vai agüentar isso também? Você sabe que pode fazer. Faça-o
— Não...
“Olhe eles indo. Olhe a menina que te fez isso. Olhe! Beijando o cara que te deixou ai esticado no chão. A menina que você dedicou tanto o seu amor, olhe ela ali. Vamos lá fora curtir um pouco...”
— Cale-se!
— Com quem ele ta falando. Disse um deles voltando seu olhar a L. esticado no chão
— Deve ta xingando a gente né
— Se for... vamos lá
Os cinco começaram a voltar na direção de L., que começava a se levantar.
“Eles estão vindo. Vai deixar eles fazerem aquilo tudo de novo?”
Um sorriso leve brotou do rosto de L. Sua fisionomia começou a mudar, de um rosto sofrido a um rosto sádico
— Você ta rindo?
— Acho que aquilo foi só piada pra ele
— Bem vamos mostrar então algo pra fazer ele chorar
Um deles tentou empurrar L. mas suas mãos pararam na frente do peito de L.
— Com mais força. Disse ele com uma voz grossa e fria
Os três se afastaram e o que o empurrava parou na sua frente.
— O que...
— Conhecem o inferno?
— O que ele tá falando? Disse D. já desesperada
— Deve ter batido a cabeça demais. Sai da frente
H. correu de onde estava e empurrou seu amigo para trás.
— Vamos nós dois.
— Nós dois? É muito pouco
L. começou a proferir algumas palavras que H. não conseguia entender. O vento começou a soprar com força, enquanto alguns ruídos eram ouvidos de longe. Nas suas mãos e testas começavam a surgir algo que parecia ser fogo que logo sumiu deixando apenas os números 666 tatuados no lugar
— O que é isso? Disse H. se afastando
— Venham meus queridos
Do meio da escuridão surgiram cerca de oito cães. Eram cachorros maiores do que o normal e não tinha pelos, apenas feridas por todo corpo. De suas bocas babavam algo que parecia ser sangue e nas suas patas algo que parecia barro seco.
— Meu Deus!
— Ataquem
Todos correram desesperados. Os cães de onde estavam como que dando pulos saíram atrás de todos.
— Deus! Me solta!
Os cães comiam rapidamente aqueles garotos. Suas carnes eram dilaceradas pelos seus dentes afiados em meio a seus gritos de dor e desespero. O sangue jorrava por todo o chão. Mas D. ainda permanecia intacta, olhando tudo, imóvel deitada no chão
— Queria apreciar bem de perto.
— Quem é você?
— Eu? Eu era. E você também
L. fez um sinal fazendo com que os cães abandonassem suas carcaças já quase nos ossos e viessem ao lado de L.
— Bem devagar...
Os cães saíram do lado dele e começaram a morder o corpo de D.
— Pare pelo amor de Deus. Disse ela gritando, com seu rosto já todo escorrido de lagrimas
— Deus? Que Deus? Disse ele sorrindo
— Não! Não! Não... seu corpo perdeu suas forças e a dor a fez desmaiar
Os cães a mordiam com toda força arrancando agora pedaços de seu corpo. Um deles então levou até as mãos de L. sua cabeça
— Realmente você era linda
— Pelo jeito você aceitou seu destino. Disse um homem colocando a mão em seu ombro
— Sim. Cansei de ver esses ai me humilhando. Disse ele chutando os pedaços dos corpos. Alias cansei de todos, acho que vou mandar mais uns hoje para você Lúcifer
— Seria muito bom meu caro
Os dois se viraram deixando aqueles cães terminarem de comer o resto de carne que ainda continham nos ossos. Agora que o escolhido havia entendido seu propósito na terra, eles tinham uma longa noite pela frente.


PS 1: Caso você tenha alguma material e queria contribuir ao blog, ficarei feliz em postar. O blog ainda segue a filosofia da Irmandade e por isso é livre a postagem de material a todos (ou seja você manda, eu posto e o público julga - aqui não há senhores da verdade que julgam o que é bom ou não e espero que não existam nunca por aqui). Pra quebrar um galho, caso você tenha um endereço, eu faço um merchã básico e o deixo nos recomendados rs (pode mandar o link sem material que eu o deixo nos recomendados mesmo assim rs)


PS 2: O contador aparece para vocês ? rs. Acho que ele está com defeito rs


PS 3: Obrigado a todos que passarão e que passarem no blog e em especial aos seguidores do blog


PS 4: O que vocês acham da proposta da Irmandade? (Sim penso em reabri-la um dia, só preciso de gente que abrace a causa)

domingo, abril 12, 2009

Reformulações

Cerca de dois anos e meio atrás um grupo de escritores de terror de um site de literatura da internet fundaram um grupo literário chamado Irmandade das Sombras, uma confrária literária que tinha a idéia de agregar escritores tidos como "sombrios". O espaço era livre, sem líderes ou qualquer tipo de hierarquia, todos eram bem vindos, desde que respeitassem o estilo e os outros membros e todos tinham voz e vez.

Cerca de oito dias depois esse espaço foi fundado com a idéia de ser um blog comum, tão livre quando nossa confraria, onde postariamos (e postamos sim!) material de todos ou que fosse de interesse comum.

Mas os anos passaram e nosso idela foi se perdendo, se deturpando, até chegar no fim de nossa Irmandade. A maioria (alias acho que todos com excessão do que vos fala rs) não estava satisfeita com o a Irmandade do jeito que era, queriam algo além, algo mais "profissional". Houveram brigas, desentendimentos e enfim acabou.

Fiquei um tempo fora do mundo virtual e fora do mundo literário, mas logo voltei e tentei novamente levantar a Irmandade, mas logo vi-me sem apoio e por algum tempo lutei, mas hoje venho aqui dizer que a Irmandade entra num Stand By sem previsão de volta.

Manterei o blog sim, postarei quando puder e estou de braços abertos a contribuições e dicas, pois querendo ou não esse espaço existe e é bem visitado, então não há motivo para sua destruição.

Também manterei meu sonho de uma confraria literária livre a todos, sem hierarquias ou disputas por poder, uma irmandade para todos como a Irmandade das Sombras sempre foi.

Enfim, encerro por aqui e espero que aos que passem me entendam e caso queiram, meu contanto está no blog e enfim estamos ai rs.

Agradeço a todos que visitam o blog, aos seguidores (Átila, Filipinha, Mário e D., não conheço vocês, mas obrigado! rs) e a todos que pertenceram a Irmandade que por mais que esteja afastado ainda considero vocês grandes pessoas e escritores!

Abraços!

Linx

sábado, abril 04, 2009

Do Além




Ainda na luta de manter o sonho da nossa Irmandade voltar a vida, tento ainda manter vivo o nosso blog. Hoje posto um conto do mestre Lovecraft, um dos meus favoritos e que inspirou um dos melhores Sci Fi de todos os tempos


Por H. P. Lovecraft


Horrível, para além de qualquer concepção, foi a mudança por que passou meu melhor
amigo, Crawford Tillinghast. Eu não o vira desde aquele dia, dois meses e meio antes,
quando ele me falou da meta em direção à qual suas pesquisas físicas e metafísicas se
encaminhavam e quando respondeu à minha demonstração de espanto e medo expulsando-me de seu laboratório e de sua casa num estouro de raiva fanática. Eu sabia que ele agora passava a maior parte do tempo fechado em seu laboratório no sótão com aquela maldita máquina elétrica, comendo pouco e afastado até dos próprios criados, mas não pensara que um período tão breve de dez semanas pusesse alterar e desfigurar de tal maneira uma criatura humana. Não há prazer em ver um homem garboso tornar-se magro de repente, e é pior ainda quando a pele flácida começa a amarelar ou a acinzentar, os olhos fundos, esgazeados, brilhando de modo sobrenatural, a testa enrugada e coberta de veias, e as mãos trêmulas e contorcidas. E se, adicionado a isso, houver um desalinho repulsivo, uma desordem louca do vestir, moitas de cabelos escuros esbranquiçados na raiz, e uma sombra de barba não aparada sobre um queixo que sempre fora cuidadosamente barbeado, o efeito cumulativo será chocante. Mas esse era o
aspecto de Crawford Tillinghast na noite em que sua mensagem pouco coerente me trouxe até sua porta depois de semanas de exílio. Tal era o espectro que tremia enquanto me fazia entrar, uma vela na mão, a olhar furtivamente por sobre o ombro, como se receoso de coisas invisíveis na casa antiga e solitária, situada ao fundo da Benevolent Street.
Para Crawford Tillinghast, ter um dia estudado ciência ou filosofia fora um erro. São
coisas que deveriam ser deixadas para o investigador impessoal e frio, pois oferecem duas alternativas igualmente trágicas ao homem de sentimento e ação: desespero, se fracassa em sua busca, e terrores indizíveis e inimagináveis, se obtém sucesso. Tillinghast fora presa uma vez do fracasso, da reclusão e da melancolia; mas agora eu sabia, entre receios repelentes de minha parte, que ele era presa do sucesso. De fato, eu o tinha alertado, duas semanas antes, quando aventou, num ímpeto, a história do que estava prestes a descobrir. Tornara-se vermelho e excitado, falando num tom de voz muito alto e antinatural, embora sempre pedante. “O que sabemos”, ele dissera, “sobre o mundo e o universo ao nosso redor? Nossos meios de receber impressões são absurdamente escassos, e nossas noções dos objetos que nos cercam são infinitamente estreitas. Vemos as coisas somente na medida em que somos construídos para vê-las e não podemos fazer idéia alguma de sua natureza absoluta. Com cinco débeis sentidos, queremos compreender o cosmos ilimitadamente complexo, enquanto outros seres, com uma gama de sentidos diferente, mais ampla ou mais possante, não apenas poderiam ver de modo diferente as coisas que vemos, como também ver e estudar mundos inteiros de matéria, energia e vida que jazem próximos de nós, mas que não podem ser detectados com os sentidos que temos.
Sempre acreditei que tais mundos estranhos e inacessíveis existem colados aos nossos cotovelos, e agora creio que encontrei um modo de romper as barreiras. Não estou blefando. Dentro de vinte e quatro horas aquela máquina sobre a mesa gerará ondas que agirão sobre órgãos ignorados de sentidos que existem em nós como vestígios atrofiados ou rudimentares. Essas ondas abrirão para nós inúmeros panoramas desconhecidos do homem e muitos desconhecidos de qualquer coisa que consideramos como vida orgânica. Haveremos de ver aquilo para o qual os cachorros uivam na escuridão, aquilo para o qual os gatos levantam suas orelhas após a meia noite. Veremos essas coisas e outras coisas que nenhuma criatura que respira jamais viu. Vamos saltar sobre o tempo, o espaço e as dimensões e, sem mover nossos corpos, espiar o fundo dacriação.”
Quando Tillinghast disse essas coisas, não disfarcei, pois conhecia-o bem o suficiente para ter muito mais receio do que admiração; mas ele era um fanático e expulsou-me da casa. Agora ele não era menos fanático, mas seu desejo de falar sobrepujara o ressentimento, e ele me escrevera num tom imperativo, com uma caligrafia quase ilegível. Quando penetrei na casa desse amigo tão subitamente metamorfoseado numa gárgula vacilante, infectou-me o terror que parecia espreitar em meio a todas as sombras. Era como se as palavras e crenças expressas dez semanas antes se encarnassem na escuridão que cercava o pequeno círculo de luz da vela, e
senti-me mal diante da voz oca e alterada de meu anfitrião. Desejei que os criados estivessem por perto e não gostei quando ele disse que todos tinham deixado a casa havia três dias. Pereceu estranho que o velho Gregory, ao menos, pudesse desertar de seu senhor sem dizer isso a um amigo tão próximo como eu. Era ele que me dava toda a informação que tive sobre Tillinghast depois que, furioso, este me expulsou.
No entanto, logo obriguei meus medos a se subordinarem à minha curiosidade e
fascinação. O que é que Crawford Tillinghast queria de mim agora eu podia até conjeturar, mas de que ele tinha algum segredo ou descoberta estupenda para revelar, disso eu não duvidava.
Antes eu protestara contra sua perquirição indiscreta do impensável, e agora que ele
evidentemente tivera algum tipo de sucesso eu quase compartilhava seu espírito, por mais terrível que pudesse ser o custo da vitória. Seguindo a luz vacilante da vela que a mão daquela paródia trêmula de homem segurava, subi em direção à escuridão vazia da casa. A eletricidade parecia ter sido desligada, e quando perguntei ao meu guia ele disse que era por um motivo definido.
“Seria demais… Eu não ousaria”, ele continuava a murmurar. Notei em especial esse seu
novo hábito de murmurar, pois não era do seu feitio falar sozinho. Entramos no laboratório no sótão, e observei aquela detestável máquina elétrica a cintilar com uma luminosidade doentia, sinistra, violeta. Estava conectada a uma potente bateria química, mas não parecia receber corrente, pois eu me lembrava de que em seu estágio experimental ela tinha roncado e ciciado quando posta em ação. Em resposta à minha pergunta, Tillinghast sussurrou que esse brilho permanente não era elétrico em nenhum sentido que eu pudesse entender. Ele me fez sentar próximo à máquina, de modo que ela ficou à minha direita, e acionou um comutador que ficava por baixo de uma profusão de bulbos de vidro. Os estralejos usuais começaram, tornaram-se um gemido, e terminaram num rumor monótono e tão suave que dava impressão de retornarem ao silêncio. Entrementes a luminosidade aumentou, diminuiu, até assumir uma tonalidade pálida e inusitada ou uma mistura de cores que eu não poderia situar ou descrever. Tillinghast tinha estado a me observar, notando minha expressão de perplexidade.
“Sabe o que é isso?”, murmurou, “Isso é ultravioleta”. E gargalhou ao ver a minha
surpresa. “Pensou que o ultravioleta era invisível, e é – mas você pode vê-lo e a muitas outras coisas agora. Ouça-me! As ondas dessa coisa estão despertando em você mil sentidos adormecidos – sentidos que você herdou de éons de evolução, desde o estado dos elétrons errantes até o estado da humanidade orgânica. Eu vi a verdade, e pretendo mostrá-la a você. Faz idéia de como ela se parece? Vou dizê-lo a você.” Aqui, Tillinghast se sentou também, de frente para mim, segurando sua vela e olhando-me perversamente nos olhos. “Seus órgãos sensórios existentes – ouvidos primeiro, suponho – captarão muitas das impressões, pois estão intimamente conectados com os órgãos adormecidos. Então haverá outros. Já ouviu falar da glândula pineal? Rio-me dos ingênuos endocrinologistas, pretensiosos e comparsas iludidos dos freudianos. Essa glândula é o órgão sensório por excelência – eu o descobri. É como uma visão,
afinal, e transmite imagens visuais ao cérebro. Se você é normal, esse será o modo como você obterá a maior parte... Refiro-me à maior parte da evidência do além.”
Olhei em volta o imenso sótão com a parede alta ao sul, obscuramente iluminada por raios que os olhos cotidianos não poderiam ver. Os cantos mais distantes eram pura sombra, e o lugar inteiro mergulhava numa irrealidade nevoenta que obscurecia sua natureza e convidava a imaginação ao simbolismo e à fantasmagoria. Durante o longo intervalo em que Tillingthast permaneceu em silêncio, tive um devaneio de estar num incrível e vasto templo de deuses há muito desaparecidos, num edifício vago de inúmeras colunas de pedra negra que se elevavam de um piso de lajes úmidas até alturas de nuvens que ficavam para além da minha visão. A imagem me pareceu bastante vívida por algum tempo, mas gradualmente deu lugar a uma concepção mais horrível – aquela da solidão extrema e absoluta do espaço infinito, inescrutável e silencioso. Parecia haver um vazio e nada mais, e senti um medo infantil que me fez sacar do
bolso junto ao peito um revólver que passei a carregar desde que fora assaltado em East Providence. Então, das mais distantes regiões do remoto, o som deslizou suavemente para dentro da existência. Era infinitamente débil, sutilmente vibrante, e inequivocamente musical, mas continha um não sei quê de indizivelmente selvagem que fazia com que o seu impacto parecesse uma tortura delicada de todo o meu corpo. Vieram-me sensações que eram como se alguém pisasse vidro moído no chão. Simultaneamente, desenvolveu-se alguma coisa como um sopro frio, que aparentemente passava por mim vindo do som distante. Enquanto, sem fôlego, aguardava, percebi que tanto o som quanto o vento estavam aumentando, o efeito assemelhandose ao de ter sido atado a um par de trilhos no caminho de uma gigantesca locomotiva que se
aproximasse. Comecei a falar a Tillinghast e, quando o fiz, todas as impressões incomuns se desvaneceram abruptamente. Vi apenas o homem, as máquinas cintilantes e o cômodo penumbroso. Tillinghast ria de um jeito repulsivo para o revólver que eu sacara quase inconscientemente, mas pela sua impressão compreendi que ele tinha visto e ouvido tanto quanto eu, se não muito mais. Murmurei o que eu tinha experimentado, e ele me instruiu para que permanecesse o mais quieto e receptivo possível.
“Não se mova”, advertiu, “pois nesses raios tanto podemos ver quanto ser vistos. Eu lhe disse que os servos foram embora, mas não lhe disse como. Foi aquela governanta de cabeça dura; ela acendeu as luzes no térreo depois que eu avisei para não fazer isso, e os arames captaram vibrações empáticas. Deve ter sido amedrontador – pude ouvir os gritos daqui de cima, a despeito de tudo o que via e ouvia vindo de outra direção, e mais tarde foi pavoroso encontraraqueles montes vazios de roupas por toda a casa. As roupas da senhora Updike estavampróximas do comutador de luz da sala – eis como eu soube que ela o fizera. Pegou-os a todos. Mas, desde que não nos movamos, estamos razoavelmente seguros. Lembre-se de que estamos lidando com um mundo medonho no qual somos praticamente indefesos... Fique quieto!” O choque combinado da revelação e da intimação abrupta deu-me um tipo de paralisia, e
no terror minha mente se abriu de novo para as impressões que vinham do que Tillinghast chamou de “além”. Um vórtice de som e movimento me envolvia agora, imagens confusas surgindo diante de meus olhos. Eu via os contornos imprecisos do cômodo, mas de algum ponto do espaço parecia jorrar uma coluna fervilhante de formas irreconhecíveis ou de nuvens, penetrando no teto sólido num ponto adiante, à minha direita. Então vislumbrei o templo – como efeito novamente, mas desta vez os pilares subiam em direção a um oceano aéreo de luz, o qual despejava um raio de luz ofuscante por todo o caminho da coluna de nuvens que eu vira antes. Depois disso, a cena tornou-se quase inteiramente caleidoscópica, e na profusão de visões, sons e
impressões sensoriais não identificadas, senti que estava prestes a me dissolver ou, de algum modo, a perder a forma sólida. De um determinado lance eu hei de me lembrar para sempre. Pareceu-me ter visto, por um instante, uma nesga de estranho céu noturno repleto de esferas cintilantes e rodopiantes, e quando desapareceu vi que os sóis brilhantes formavam uma constelação ou galáxia de forma definida, sendo essa forma o rosto distorcido de Crawford Tillinghast. Noutra ocasião, senti que as coisas imensas e animadas se arrastavam para além de mim e às vezes caminhavam ou vogavam através do meu corpo supostamente sólido, e pensei ter visto Tillinghast olhar para elas como se seus sentidos mais bem treinados pudessem captálas
visualmente. Lembrei-me do que ele dissera acerca da glândula pineal e me perguntei o queele via com esse olho sobrenatural.
De súbito, senti-me também possuído por uma espécie de visão aumentada. Por cima e ao
longo do caos luminoso e sombrio se elevava uma imagem que, embora vaga, continha
elementos de consistência e permanência. Era de fato algo familiar, pois a parte incomum estava superposta à cena comum e terrestre, tal como uma imagem de cinema se pode projetar sobre a cortina pintada de um teatro. Vi o laboratório do sótão, a máquina elétrica e a forma indistinta de Tillinghast em frente a mim, mas de todo o espaço não ocupado por objetos familiares sequer amenor porção estava vaga. Formas indescritíveis, vivas ou não, se misturavam numa desordem repulsiva, e perto de cada coisa conhecida havia mundos inteiros de entidades alienígenas e ignotas. Igualmente, parecia que todas as coisas conhecidas entravam na composição de outras
coisas desconhecidas e vice-versa. Mais à frente, entre os objetos vivos, havia monstruosidades pretas, semelhantes a medusas, que estremeciam languidamente com as vibrações da máquina. Manifestavam-se numa profusão nauseante, e eu vi, para o meu horror, que se imbricavam, que eram semifluidas e capazes de passar através umas das outras e daquilo que conhecemos como sólidos. Essas coisas jamais paravam; antes: pareciam flutuar sempre com algum propósito maligno. Às vezes, davam mostras de devorar-se umas às outras, o atacante lançando-se sobre sua vítima e instantaneamente fazendo-a desaparecer de vista. Trêmulo, entendi o que tinha feito desaparecer os infelizes criados, e não podia expulsar a coisa de minha mente enquanto lutava para observar outras propriedades do mundo, há pouco tornado visível, que existe incógnito à nossa volta. Mas Tillinghast tinha estado a me observar e agora falava.
“Você as vê? Você as vê? Vê as coisas que flutuam e se precipitam à sua volta a cada
momento de sua vida? Vê as criaturas que formam o que os homens chamam de ar puro e de céu azul? Não tive sucesso em romper a barreira, não mostrei a você mundos que os outros homens jamais chegaram a ver?” Ouvi seu grito através do horrível caos e olhei para a face selvagem que tão ofensivamente se colava à minha. Seus olhos eram poços de chamas e me fitavam com aquilo que – logo entendi – era apenas o mais profundo ódio. A máquina ronronava de maneira horrorosa.
“Pensa que essas coisas rastejantes arrebataram os criados? Tolo, são inofensivas! Mas os criados desapareceram, não é? Você tentou me impedir, você me desencorajou quando precisei de cada gota de incentivo que pudesse obter. Você teve medo da verdade cósmica, seu maldito covarde, mas agora eu o peguei! O que foi que levou os criados? O que os fez berrar tão alto?... Não sabe, hein? Logo, logo saberá. Olhe para mim – ouça o que eu digo. Supõe você que existem mesmo tais coisas como tempo e magnitude? Acredita mesmo que existem tais coisas como forma e matéria? Eu lhe digo, você atingiu profundidades que o seu pequeno cérebro não pode conceber. Vi para além das fronteiras do infinito e arrastei demônios das estrelas... Conduzi as sombras que perambulam de mundo para mundo para semear a morte e a loucura... O espaço me pertence, está me ouvindo? As coisas estão à minha caça agora – as coisas que devoram e dissolvem –, mas eu sei como ludibriá-las. É a você que elas pegarão, como fizeram com os criados... Está tremendo, caro senhor? Eu lhe disse que era perigoso mover-se, coloquei-o a salvo dizendo que se mantivesse quieto – salvei-o para ter mais visões e para me ouvir. Se você tivesse se movido, eles já teriam se atirado sobre você há muito tempo. Não se preocupe, não vão machucá-lo. Não machucaram os criados – foi apenas ver que os fez berrar daquele jeito. Meus bichinhos não são bonitos, pois vêm de lugares onde os padrões estéticos são... muito diferentes. Eu quase os vi, mas soube como parar. Você é curioso? Sempre soube que você não era um cientista. Tremendo, hein? Tremendo de ansiedade para ver as últimas coisas que descobri. Por que não se move, então? Cansado? Bem, não se preocupe, amigo, pois elas estão vindo… Olhe, olhe, amaldiçoado, olhe… Está bem em cima do seu ombro esquerdo.”
O que falta contar é bem pouco, e vocês talvez já tenham sabido por meio dos jornais. A polícia ouviu um tiro na velha casa de Tillinghast e nos encontrou lá – Tillinghast morto, e eu, inconsciente. Prenderam-me, porque o revólver estava em minha mão, mas soltaram-me dentro de três horas, pois descobriram que foi a apoplexia que acabou com Tillinghast e viram que meu tiro tinha sido disparado contra a máquina perversa que agora jaz irremediavelmente destroçada no chão do laboratório. Não contei muito do que vi, pois temi que o coronel ficasse cético, mas, pela descrição evasiva que dei, o médico me disse que, sem dúvida, eu tinha sido hipnotizado pelo louco vingativo e homicida.
Quem dera eu pudesse acreditar no médico. Seria bom para os meus nervos se eu pudesse
pôr de lado o que agora tenho de pensar sobre o ar e o céu que me envolvem e que estão acima de mim. Nunca me sinto sozinho e confortável, e um senso horrível e arrepiante de perseguição às vezes me invade quando esmoreço. O que me impede de acreditar no médico é apenas este fato: que a polícia nunca encontrou os corpos dos criados que, segundo dizem, Crawford Tillinghast assassinou.

domingo, março 15, 2009

Sexto Soneto Sagrado




Uma poesia sombria para quebrar o gelo da falta de postagens rs

Por John Donne

Tradução de Jorge de Sena

Não te orgulhes, ó Morte, embora te hão chamado
poderosa e terrível, porque tal não és,
já que quantos tu julgas ter pisado aos pés,
não morrem, nem de ti eu posso ser tocado.

Do sono e paz que sempre a teu retrato é dado,
muito maior prazer se tira em teu revés,
pois que o justo ao deitar-se com tua nudez,
ossos te deita e não seu esprito libertado.

Escrava és de suicidas, e de Reis, da Sorte;
Venenos, guerras, doenças são teus companheiros;
magias nos dão sonos bem mais verdadeiros,
melhores do que o teu golpe. Porque te inchas, Morte?

Despertamos no Eterno um breve adormecer,
e a morte não será, que Morte hás-de morrer.

Ah e fiquem no aguardo, a Irmandade das Sombras logo estará de volta!

sábado, março 07, 2009

O Coração Denunciador



Para começar essa nova fase do blog deixo a vocês um dos meus contos favoritos do mestre Edgar Allan Poe



É verdade! Tenho sido e sou nervoso, muito nervoso, terrivelmente nervoso! Mas, por
que ireis dizer que sou louco? A enfermidade me aguçou os sentidos, não os destruiu,
não os entorpeceu. Era penetrante, acima de tudo, o sentido da audição. Eu ouvia todas
as coisas, no céu e na terra. Muitas coisas do inferno ouvia. Como, então, sou louco?
Prestai atenção! E observai quão lucidamente, quão calmamente vos posso contar toda a
estória.
É impossível dizer como a idéia me penetrou primeiro no cérebro. Uma vez concebida,
porém, ela me perseguiu dia e noite. Não havia motivo. Não havia cólera. Eu gostava do
velho. Ele nunca me fizera mal. Nunca me insultara. Eu não desejava seu ouro. Penso
que era o olhar dele! Sim, era isso! Um de seus olhos se parecia com o de um abutre. . .
um olho de cor azul-pálido, que sofria de catarata.
Meu sangue se enregelava sempre que ele caía sobre assim, e assim, pouco a pouco, bem
lentamente, fui-me decidindo a tirar a vida do velho e assim libertar-me daquele olho para
sempre.
Ora, aí é que está o problema. Imaginais que sou louco.
Os loucos nada sabem. Deveríeis, porém, ter-me visto. Deveria ter visto como procedi
cautamente! Com que prudência...com que previsão. . . com que dissimulação lancei
mãos à obra!
Eu nunca fora mais bondoso para com o velho do que durante a semana inteira antes de
matá-lo. E todas as noites, por meia-noite, eu girava o trinco da porta de seu quarto e
abria-a…oh, bem devagarinho. E depois, quando a abertura era suficiente para conter
minha cabeça, eu introduzia uma lanterna com tampa toda velada, bem velada, de modo
que nenhuma luz se projetasse para fora, e em seguida enfiava a cabeça. Oh, teríeis rido
ao ver como a enfiava habilmente!
Movia-a lentamente. . . muito… muito lentamente, a fim de não perturbar o sono do
velho. Levava uma hora para colocar a cabeça inteira além da abertura, até podê-lo ver
deitado na cama. Ah! Um louco seria precavido assim? E depois quando minha cabeça
estava bem dentro do quarto, eu abria a tampa da lanterna cautelosamente. . - oh, bem
cautelosamente! Sim, cautelosamente (porque a dobradiça rangia) . . . abria-a só até
permitir que apenas um débil raio de luz caísse sobre o olho de abutre. E isto eu fiz
durante sete longas noites. . . sempre precisamente a meia-noite. . . e sempre encontrei o
olho fechado. Assim, era impossível fazer a minha tarefa, porque não era o velho que me
perturbava, mas seu olho diabólico. E todas as manhãs, quando o dia raiava, eu
penetrava atrevidamente no quarto e falava-lhe sem temor, chamando-o pelo nome com
ternura e perguntando como havia passado a noite. Por aí vedes que ele precisaria ser um
velho muito perspicaz para suspeitar que todas as noites, justamente as doze horas, eu
o espreitava, enquanto dormia.
Na oitava noite, fui mais cauteloso do que de hábito ao abrir a porta. O ponteiro dos
minutos de um relógio mover-se-ia mais rapidamente do que meus dedos. Jamais, antes
daquela noite, sentira eu tanto a extensão de meus próprios poderes, de minha
sagacidade. Mal conseguia conter meus sentimentos de triunfo. Pensar que ali estava eu,
a abrir a porta, pouco a pouco, e que ele nem sequer sonhava com os meus atos ou
pensamentos secretos…Ri entre os dentes, a essa idéia, e talvez ele me tivesse ouvido,
porque se moveu de súbito na cama, como se assustado. Pensais talvez que recuei? Não!
O quarto dele estava escuro como piche, espesso de sombra, pois os postigos se achavam
hermeticamente fechados, por medo aos ladrões. E eu sabia, assim, que ele não podia ver
a abertura da porta; continuei a avançar, cada vez mais, cada vez mais.Já estava com a
cabeça dentro do quarto e a ponto de abrir a lanterna, quando meu polegar deslizou sobre
o fecho de lata e o velho saltou na cama, gritando:Quem está aí?
Fiquei completamente silencioso e nada disse. Durante uma hora inteira, não movi um
músculo e, por todo esse tempo, não o ouvi deitar-se de novo. Ele ainda estava sentado
na cama, à escuta; justamente como eu fizera, noite após noite, ouvindo a ronda da morte
próxima.
Depois ouvi um leve gemido e notei que era o gemido do terror mortal. Não era um gemido
de dor ou de pesar.. . oh, não! Era o som grave e sufocado que se ergue do fundo da alma
quando sobrecarregada de medo. Bem conhecia esse som. Muitas noites, ao soar meianoite,
quando o mundo inteiro dormia, ele irrompia de meu próprio peito, aguçando, com
seu eco espantoso, os terrores que me aturdiam. Disse que bem o conhecia. Conheci
também o que o velho sentia e tive pena dele, embora abafasse um riso no coração. Eu
sabia que ele ficara acordado desde o primeiro leve rumor, quando se voltara na cama.
Daí por diante, seus temores foram crescendo. Tentara imaginá-los sem motivo, mas não
fora possível. Dissera si mesmo: "É só o vento na chaminé…ou é só um rato andando pelo
chão", ou "foi apenas um grilo que cantou; um instante só. Sim ele estivera tentando
animar-se com estas suposições, mas tudo fora em vão. Tudo em vão, porque a Morte,
ao aproximar-se dele, projetara sua sombra negra para a frente, envolvendo nela a vítima.
E era a influência tétrica dessa sombra não percebida que o levava a sentir - embora não
visse nem ouvisse -, a sentir a presença de minha cabeça dentro do quarto.
Depois de esperar longo tempo, com muita paciência, sem ouvi-lo deitar-se, resolvi abrir
um pouco, muito, muito pouco, a tampa da lanterna. Abri-a - podeis imaginar quão
furtivamente - até, que por fim, um raio de luz apenas, tênue como o fio de uma teia de
aranha, passou pela fenda e caiu sobre o olho de abutre.
Ele estava aberto. . . todo, plenamente aberto. . . e, ao contemplá-lo a minha fúria
cresceu. Vi-o, com perfeita clareza, todo de um azul-desbotado, com uma horrível película
a cobri-lo, o que me enregelava até a medula dos ossos. Mas não podia ver nada mais da
face ou do corpo do velho, pois dirigira a luz, como por instinto, sobre o maldito lugar.
Ora, não vos disse que apenas é super acuidade dos sentidos aquilo que erradamente
julgais loucura? Repito, pois, que chegou a meus ouvidos um som baixo, monótono,
rápido como o de um relógio quando abafado em algodão. Igualmente eu bem sabia que
som era. Era o bater do coração do velho. Ele me aumentava a fúria como o bater de um
tambor estimula a coragem do soldado.
Ainda aí, porém, refreei-me e fiquei quieto. Tentei manter tão fixamente quanto pude a
réstia de luz sobre o olho do velho. Entretanto, o infernal tã-tã do coração aumentava. A
cada instante ficava mais alto, mais rápido, mais alto, mais rápido! O terror do velho
deve ter sido extremo! Cada vez mais alto, repito a cada momento!
Prestais-me bem atenção? Disse-vos que sou nervoso, sou. E então, àquela hora morta da
noite, o bater tão estranho excitou em mim um terror incontrolável. Contudo, por alguns
minutos mais, dominei-me e fiquei quieto. Mas o bater era cada vez mais alto. Julguei
que o coração ia rebentar. E, depois, nova angustia me aferrou: o rumor poderia ser
ouvido por um vizinho! A hora do velho tinha chegado! Com um alto berro, escancarei a
lanterna e pulei para dentro do quarto.
Ele guinchou mais uma vez.. uma vez só. Num instante, arrastei-o para o soalho e virei a
pesada cama sobre ele. Então sorri alegremente por ver a façanha realizada. Mas,
durante muitos minutos, o coração continuou a bater, com som surdo. Isto, porém, não
me vexava. Não seria ouvido através da parede. Afinal cessou.O velho estava morto.
Removi a cama e examinei o cadáver. Sim, era uma pedra, morto como uma pedra.
Coloquei minha mão sobre o coração e ali a mantive durante muitos minutos. Não havia
pulsação. Estava petrificado. Seu olhos não mais me perturbariam.
Se ainda pensais que sou louco, não mais o pensareis, quando eu descrever as sábias
precauções que tomei para ocultar o cadáver. A noite avançava e eu trabalhava
apressadamente, porém em silêncio. Em primeiro lugar, esquartejei o corpo. Cortei-lhe a
cabeça, os braços e as pernas.Arranquei depois três pranchas do soalho do quarto e
coloquei tudo entre os vãos. Depois recoloquei as tábuas, com tamanha habilidade e
perfeição que nenhum olhar humano - nem mesmo o dele - poderia distinguir qualquer
coisa suspeita. Nada havia a lavar…nem mancha de espécie alguma. . nem marca de
sangue. Fora demasiado prudente no evitá-las. Uma tina tinha recolhido tudo… ah, ah,
ah!
Terminadas todas essas tarefas, eram já quatro horas. Mas ainda estava escuro como se
fosse meia-noite. Quando o sino soou a hora, bateram à porta da rua. Desci a abri-la, de
coração ligeiro, pois que tinha eu agora a temer? Entraram três homens, que se
apresentaram, com perfeita mansidão, como soldados de polícia.
Fora ouvido um grito por um vizinho, durante a noite. Despertara-se a suspeita de um
crime. Tinha-se formulado uma denúncia à polícia e eles, soldados, tinham sido
mandados para investigar.
Sorri, pois. . . que tinha eu a temer? Dei as boas-vindas aos cavalheiros. O grito, disse
eu, fora meu mesmo, em sonhos. O velho, relatei, estava ausente, no interior. Levei meus
visitantes a percorrer toda a casa. Pedi-lhes que dessem busca completa. Conduzi-os,
afinal, ao quarto dele.
Mostrei-lhes suas riquezas, em segurança, intactas. No entusiasmo de minha confiança,
trouxe cadeiras para o quarto e mostrei desejos de que eles ficassem ali, para descansar
de suas fadigas, enquanto eu mesmo, na desenfreada audácia de meu perfeito triunfo,
colocava minha própria cadeira propriamente sobre o lugar onde repousava o cadáver da
vítima.
Os soldados ficaram satisfeitos. Minhas maneiras os haviam vencido. Sentia-me
singularmente à vontade. Sentaram-se e, enquanto eu respondia cordialmente,
conversaram coisas familiares. Mas dentro em pouco, senti que ia empalidecendo e
desejei que eles se retirassem. Minha cabeça doía e parecia-me ouvir zumbido nos
ouvidos; eles, porém, continuavam sentados e continuavam a conversar. O zumbido
tornou-se mais distinto; continuou e tornou-se ainda mais perceptível.
Eu falava com mais desenfreio, para dominar a sensação; ela, porém, continuava e
aumentava sua perceptibilidade. . . até que, afinal, descobri que o barulho não era dentro
dos meus ouvidos.
É claro que então a minha palidez aumentou. Mas eu falava ainda mais fluentemente e
num tom de voz muito elevada. Não obstante, o som se avolumava... E que podia eu fazer
era um som grave, monótono, rápido... muito semelhante ao de um relógio envolto em
algodão. Respirava com dificuldade... e no entanto, os soldados não o ouviram. Falei mais
depressa ainda, com mais veemência. Mas o som aumentava constantemente. Levanteime
e fiz perguntas a respeito de ninharias, num tom bastante elevado e com violenta
gesticulação, mas o som constantemente aumentava. Por que não se iam eles embora?
Andava pelo quarto acima e abaixo, com largas e pesadas passadas, como se excitado até
a fúria pela vigilância dos homens; mas o som aumentava constantemente. Oh, Deus!
Que poderia eu fazer? Espumei. . . enraivecido.. . praguejei! Fiz girar a cadeira sobre a
qual estivera sentado e arrastei-a sobre as tábuas, mas o barulho se elevava acima de
tudo e continuamente aumentava. Tornou-se mais alto. . . mais alto… mais alto! E os
homens continuavam ainda a passear, satisfeitos e sorriam. Seria possível que eles não
ouvissem? Deus Todo-Poderoso! Não, não! Eles suspeitavam! Eles sabiam! Estavam
zombando do meu horror! Isto pensava eu e ainda penso. Outra coisa qualquer, porém,
era melhor que aquela agonia!
Qualquer coisa era mais tolerável que aquela irrisão! Não podia suportar por mais tempo
aqueles sorrisos hipócritas! Sentia que devia gritar ou morrer, e agora de novo... escutai...
mais alto... mais alto... mais alto…mais alto!…
- Vilões! - trovejei. - Não finjam mais! Confesso o crime! Arranquem as pranchas! Aqui,
aqui! Ouçam o batido do seu horrendo coração!

domingo, março 01, 2009

A Irmandade das Sombras Novamente se Levanta!




Sim senhoras e senhores, a Irmandade das Sombras está viva!

Estamos nos reestruturando aos poucos, mas logo estaremos de volta!

Aos que acessaram o blog nos últimos tempos peço desculpas pela nossa ausência, pois passamos por fases difíceis (alias ainda passamos) e por um momento chegamos até mesmo a morrer, mas como a Fenix nós renasceremos das cinzas

Aguardem!