quarta-feira, abril 29, 2009

O jeito é matar


Ela sorriu e ele também.Era tão bonito,tudo era tão bonito...Aquela pequena padaria de esquina,a mesa verde de ferro fundido,as florezinhas azuis pintadas na xicara dela,a maneira que ela segurava a xicara,era quase...Poético...
Ele olhava totalmente absorvido nela,sabia que estava com cara de idiota mas naquele momento,sinceramente...Não lhe importava.
Ela queria o mundo e ele queria somente a ela.Ela era a flor,ele os espinhos.Queria estar em todos os lugares,a todo tempo,em todas as conversas,vendo-a,tocando-a,respirando o ar dela.E ela a suspirar,a passar as mãos pelos cabelos longos,aqueles aneis ruivos...Cor de sangue...De sangue.
Ele notou então que a queria demais...Se anulava por ela,se feria por ela,se dividia por ela e por ela sumia.Viu tarde demais que abandonara a faculdade,assim como seu emprego promissor,abandonara os amigos,a familia...Enfim tudo.Mergulhara nela e a deixara ser ele.Percebeu que as paredes de seu quarto eram forradas de fotos dela,percebeu no meio de suas roupas uma mecha do cabelo dela cortada sabe Deus quando...Tinha até um lencinho dela,meio manchadinho do sangue dela no dia que a xicara de florezinhas azuis quebrara...Quando fora isso?
Ela queria o mundo...Ele queria não querê-la mais...Mas agora era tarde,ela era a vida e só acabaria quando a vida deixasse de existir.Viu sua saída,sua luz no fim do túnel...Matá-la,sim matá-la,porque apenas matando-a ele voltaria a existir,ele poderia viver de novo de luto pelo amor,odiando o amor,desistindo do amor e sendo feliz.FELIZ!!
Em um acesso de alegria ele rasgou as fotos das paredes,queimou a mecha do cabelo dela,se jogou no chão em meio a confusão e riu...Riu a tarde toda.
Deu um jeito de copiar a chave da casa dela,tinha anotado em uma agenda toda a rotina dela,sabia de cada um de seus passos,cada um de seus horários...Foi simples seguir seu plano...
Ele entrou pelas 6:00 da tarde,na vizinhança ninguém o estranhou,estavam acostumados a vê-lo com ela.Acharam normal...
Dentro da casa ele ligou o som,colocou cd's que ambos gostavam,abriu as cortinas,arrumou o que ela deixara bagunçado,fez o capuccino que ela tanto tomava na padaria de esquina.Sentou no sofá e esperou...Ela que não chegava...Se atrasara 10 minutos...Não faria diferença...Morreria do mesmo jeito...
O mal foi a curiosidade...Nunca estivera no quarto dela...Queria tanto tanto....Tentou se conter e não pode,abriu a porta cor de creme e entrou.Quase morreu de infarto.
As paredes eram forradas com fotos dele,fotos do dia dele.Ele no banho,ele dormindo,ele estudando,ele tomando café na cozinha pequena do seu apartamento,ele tirando fotos dela,ele no carro,ele parado numa rua...Ele,ele,ele...
Ele olhava o quarto todo sem entender,parecia tão irreal...Olhou o chão e viu mais fotos,viu também as cartas que ele escrevia mas nunca mandava e que pensava ter jogado no lixo.Viu a letra miuda dela espalhada em suas fotos,dizia a mesma coisa "te amo".Cem,mil,um milhão de vezes repetida.Ele se apoiou na parede arfando...Aquilo era loucura...Loucura...Sentiu medo e desmaiou com uma pancada na cabeça.
Acordou preso a cama,ela estava ao seu lado,o rosto manchado de lágrimas,o cabelo em desordem.
- Você não podia ter visto...Eu tentei...Tentei que você não soubesse... - Ela dizia andando pelo quarto,arrancando as fotos e jogando no chão.Tirou do armário uma camisa dele e cheirou,beijou,passou-a pelo corpo. - É que eu te amo tanto tanto...Mas preciso viver entende?Por favor,você precisa entender!Eu não vivo mais!
Ela jogou a camisa no chão e começou a jogar alcool em tudo,estava insana,repetia que precisava viver.Ele compreendia e também chorava...Sabia o que iria acontecer...Ele mesmo planejara...Ele fora pego em sua propria armadilha...Não ia adiantar nada pedir e nem implorar por sua vida,ele sabia o que ela sentia,sabia que ela não iria parar...Porque ele também não pararia.
- Vai doer,mas vai passar...E ai estaremos livres...Ta?Eu te amo... - Ela sussurrou no ouvido dele e depois o beijou na boca.
Saiu do quarto jogando um fosforo aceso no chão,ela ainda viu as primeiras labaredas.Mas o inferno quem presenciou foi ele...Sentiu o fogo lhe consumir a carne,lhe arrancar a pele...Viu todo seu corpo se encher de bolhas,se sentiu sufocar pela fumaça.
Morreu em extrema agonia sabendo que agora ela queria o mundo...E ele não estaria lá para impedir...O amor não passava...O amor não passava...

" Isso não é amor, é uma perseguição...Você vai onde eu vou,até na contramão..." 2ois

sábado, abril 25, 2009

Garota Perfeita




Por Hell


Era como se ela não fosse vista, as pessoas passavam por ela e lhe sorriam mas na verdade não a enxergavam. Dia após dia ela via as pessoas passarem, lhe olharem como um bicho em exposição.
Algo devia estar errado, por que não era lhe permitido sentir? Por que não lhe era permitido pensar por si? Por que não lhe era permitido sentir o que todos sentem quando estão vivos?
Suas mãos tocaram o vidro da vitrine, algo tinha que estar errado. Ela bateu uma vez, ninguém lhe deu atenção, continuaram a passar como se nada tivesse acontecido.
Ela bateu de novo, com um pouco mais de força,ainda assim nada... Tentou gritar mas desistiu quando lembrou que os vidros eram a prova de som. Deitada em sua cama macia de cetim vermelho ela chorou, ela queria apenas sair, ela queria apenas viver... Não entendia por que isso lhe era negado.
Novo dia, mesma rotina. Uma menina passou pela vitrine e lhe olhou fixamente, ela tentou sorrir, ser simpática, talvez a menina lhe tirasse dali. Não, a mãe acabou por levar a menina embora. Ela sentou no chão e em um acesso de raiva destruiu alguns objetos de sua prisão.
Ela não tinha família, não tinha amigos, por que? Ela era igual aos outros que passavam la fora, mas não vivia como eles.
Um dia um homem entrou em sua vitrine, ele trazia um cartaz vermelho na mão. Ela avançou sobre ele tentando perguntar por que estava ali, por que não podia viver, por que e por que... Ele recuou com medo, ela o prendeu, tentou lhe falar mas sua voz não saia. Por que? Por que? Ele não parava quieto, ela teve que segura-lo um pouco mais forte, só queria explicações, respostas a tantos por quês.
Ele agora começava a arranha-la, seu olhar tinha um desespero que ela não entendia, olhou para suas mãos, elas estavam cobertas de um liquido vermelho, o que era aquilo? Era tão bonito, tão brilhante... Ela tentou perguntar ao homem o que era mas ele tinha dormido, ela lhe deu alguns tapas esperando que ele acordasse mas apenas sujou o rosto dele de vermelho... Tão bonito...
Ela começou a abrir mais o buraco que lhe havia feito no peito, ali dentro mais e mais vermelho. Quente, lindo, vibrante. Ela esfregou o vermelho pelo corpo e magicamente as pessoas pararam para olha-la. As pessoas agora a olhavam com interesse.
Sim, finalmente era notada. Ela sorriu passando mais do vermelho mágico pelo corpo, caminhou até a vitrine, as pessoas se afastaram com uma expressão que ela não entendeu.
Ela tentou faze-los voltar, mas eles se afastaram mais. Ela arrebentou o vidro correndo atrás deles, precisava ser notada, precisava.
Derrubou uma mulher no chão, a pegou pelos cabelos e lhe abraçou forte. Aos poucos o crânio duro foi ficando macio, ela sentiu seus braços molhados. A cabeça da mulher era uma mera massa disforme, ela foi atrás das outras pessoas.
Atenção, só precisava de atenção, e aquele liquido vermelho lhe proporcionava isso, precisava de mais, muito mais.
Na vitrine o vento virou o cartaz vermelho que dizia.

“Boneca Cynthya, todo amor ao seu alcance”

sexta-feira, abril 17, 2009

O Escolhido




Estou meio sem material para postar por isso posto algo meu mesmo rs


Por Linx


“Quem tiver sabedoria que calcule o número da besta, pois é um numero de homem e seu numero e seiscentos e sessenta e seis”
Apocalipse de São João

— Cinco minutos...
L. olhava no relógio sem parar, estava extremamente ansioso. Suas pernas mal paravam no lugar e ele começava a suar.
Seis meses, era o que ele havia esperado, seis longos meses para que ela aceitasse sair com ele, mas agora ele estava lá, com sua melhor roupa, segurando um CD que ela disse ser de sua banda favorita (que por sinal ele odiava - mas passou a tentar gostar) na frente daquele shopping a esperando.
Seus olhos corriam todos os rostos que passavam, procurando o rosto de sua amada. Aquele rosto...
Devia ser o rosto mais lindo que ele havia posto os olhos. Parecia de um anjo, esculpido pelas mãos do próprio Deus. Aquele rosto que fez ele se apaixonar perdidamente desde a primeira vez que o viu. Agora ele o procurava no meio da multidão, já meio que desesperado pois via em seu relógio que ela devia estar ali já faziam dez minutos.
— Ela deve ter desistido... não! Pare de ser pessimista! Ela virá. Afinal coisas acontecem, ônibus quebram, essas coisas...
Mas algo no fundo dizia que ela não viria. Bem lá no fundo ele sabia que aquilo tinha sido uma idiotice, afinal porque ela viria? Porque ela iria se encontrar com ele? Tantos porque ela escolheria justamente ele?
— Não passo de um idiota...
Seus pensamentos otimistas logo começaram a sumir de vez quando ele se voltou ao relógio e viu que já passaram meia hora do combinado.
— Melhor eu ir... não quero ficar aqui como idiota.
L. se virou e seguiu a passos longos e olhos já quase cheios de lagrimas nos olhos a direção de sua casa.
— L.!
Seus olhos se voltaram a uma voz que gritou seu nome atrás dele. Seu coração quase que arrebentou seu esterno quando ele viu ela ali parada vestindo uma blusa rosa e uma calça jeans, com um lindo sorriso
— Onde você vai?
— Eu...
— Tava indo embora? Ia me abandonar? Disse ela sorrindo
— Não...eu só achei que...
Ela correu de onde estava e seguiu em sua direção.
— Desculpa o atraso. Disse ela coçando a cabeça. Eu me perdi!
— Tudo bem. Disse ele limpando seu rosto
— Então... Oi! Disse ela espontaneamente sorrindo
— Oi. Disse ele esboçando um sorriso tímido
— Bem, que tal irmos ao shopping. Aqui é chato
— É...
Suas mãos se encontraram. O coração dele batia acelerado, suas mãos suavam, era como um sonho. Ela olhava ao longe, como que procurasse alguma coisa, e nos seus lábios um sorriso quase que sarcástico começava a brotar.
— Seu otário! Disse ele dando um soco em L.
Todos a sua volta riam, inclusive D., a garota que ele tanto amava.
— Achou realmente que a D. ia sair com você seu otário?
Seus olhos se enchiam de lagrimas. Como ela pode?
— Vamos ensinar ele H., vamos por esse idiota no lugar dele
— É boa idéia. Disse um outro
— Mas... D. começou a dizer algo. Não machuquem muito
Todos deram uma longa gargalhada.
— Não se preocupe. Disse um deles beijando D. Só uns socos nada mais
— Ah tudo bem então. Disse ela sorrindo. Amorzinho é só brincadeirinha
Os quatro chegaram mais perto de L. Um deles o empurrou o fazendo cair no chão, enquanto os outros começaram a chuta-lo
— Parem pelo amor de Deus. Disse L. chorando
— Ah ele começou a chorar. Disse um deles, despertando uma gargalhada geral
— Ah amor não se preocupe, quando eles acabarem ele lhe dou seu tão sonhado beijinho. Disse D. que observava tudo
— Não parem... por favor
Os chutes voltaram, dessa vez com mais intensidade. L. chorava e gritava por piedade e com isso os garotos apenas aumentava a força do chute.
— Cansei. Disse um deles.
— Será que ele aprendeu onde é o lugar dele?
— Vamos ver. Disse um deles levantando a cabeça de L. do chão. Aprendeu otário? Lugar de gente como você é ai, no chão, em baixo de nós.
O garoto soltou sua cabeça e a deixou cair no chão com força.
— Thau amorzinho. Disse ela dando-lhe um beijo no rosto
— Vamos logo D.
— Já vou. Thau. Disse ela baixo no seu ouvido
— Me dá um beijo aqui gata
“Vai agüentar isso também? Você sabe que pode fazer. Faça-o
— Não...
“Olhe eles indo. Olhe a menina que te fez isso. Olhe! Beijando o cara que te deixou ai esticado no chão. A menina que você dedicou tanto o seu amor, olhe ela ali. Vamos lá fora curtir um pouco...”
— Cale-se!
— Com quem ele ta falando. Disse um deles voltando seu olhar a L. esticado no chão
— Deve ta xingando a gente né
— Se for... vamos lá
Os cinco começaram a voltar na direção de L., que começava a se levantar.
“Eles estão vindo. Vai deixar eles fazerem aquilo tudo de novo?”
Um sorriso leve brotou do rosto de L. Sua fisionomia começou a mudar, de um rosto sofrido a um rosto sádico
— Você ta rindo?
— Acho que aquilo foi só piada pra ele
— Bem vamos mostrar então algo pra fazer ele chorar
Um deles tentou empurrar L. mas suas mãos pararam na frente do peito de L.
— Com mais força. Disse ele com uma voz grossa e fria
Os três se afastaram e o que o empurrava parou na sua frente.
— O que...
— Conhecem o inferno?
— O que ele tá falando? Disse D. já desesperada
— Deve ter batido a cabeça demais. Sai da frente
H. correu de onde estava e empurrou seu amigo para trás.
— Vamos nós dois.
— Nós dois? É muito pouco
L. começou a proferir algumas palavras que H. não conseguia entender. O vento começou a soprar com força, enquanto alguns ruídos eram ouvidos de longe. Nas suas mãos e testas começavam a surgir algo que parecia ser fogo que logo sumiu deixando apenas os números 666 tatuados no lugar
— O que é isso? Disse H. se afastando
— Venham meus queridos
Do meio da escuridão surgiram cerca de oito cães. Eram cachorros maiores do que o normal e não tinha pelos, apenas feridas por todo corpo. De suas bocas babavam algo que parecia ser sangue e nas suas patas algo que parecia barro seco.
— Meu Deus!
— Ataquem
Todos correram desesperados. Os cães de onde estavam como que dando pulos saíram atrás de todos.
— Deus! Me solta!
Os cães comiam rapidamente aqueles garotos. Suas carnes eram dilaceradas pelos seus dentes afiados em meio a seus gritos de dor e desespero. O sangue jorrava por todo o chão. Mas D. ainda permanecia intacta, olhando tudo, imóvel deitada no chão
— Queria apreciar bem de perto.
— Quem é você?
— Eu? Eu era. E você também
L. fez um sinal fazendo com que os cães abandonassem suas carcaças já quase nos ossos e viessem ao lado de L.
— Bem devagar...
Os cães saíram do lado dele e começaram a morder o corpo de D.
— Pare pelo amor de Deus. Disse ela gritando, com seu rosto já todo escorrido de lagrimas
— Deus? Que Deus? Disse ele sorrindo
— Não! Não! Não... seu corpo perdeu suas forças e a dor a fez desmaiar
Os cães a mordiam com toda força arrancando agora pedaços de seu corpo. Um deles então levou até as mãos de L. sua cabeça
— Realmente você era linda
— Pelo jeito você aceitou seu destino. Disse um homem colocando a mão em seu ombro
— Sim. Cansei de ver esses ai me humilhando. Disse ele chutando os pedaços dos corpos. Alias cansei de todos, acho que vou mandar mais uns hoje para você Lúcifer
— Seria muito bom meu caro
Os dois se viraram deixando aqueles cães terminarem de comer o resto de carne que ainda continham nos ossos. Agora que o escolhido havia entendido seu propósito na terra, eles tinham uma longa noite pela frente.


PS 1: Caso você tenha alguma material e queria contribuir ao blog, ficarei feliz em postar. O blog ainda segue a filosofia da Irmandade e por isso é livre a postagem de material a todos (ou seja você manda, eu posto e o público julga - aqui não há senhores da verdade que julgam o que é bom ou não e espero que não existam nunca por aqui). Pra quebrar um galho, caso você tenha um endereço, eu faço um merchã básico e o deixo nos recomendados rs (pode mandar o link sem material que eu o deixo nos recomendados mesmo assim rs)


PS 2: O contador aparece para vocês ? rs. Acho que ele está com defeito rs


PS 3: Obrigado a todos que passarão e que passarem no blog e em especial aos seguidores do blog


PS 4: O que vocês acham da proposta da Irmandade? (Sim penso em reabri-la um dia, só preciso de gente que abrace a causa)

domingo, abril 12, 2009

Reformulações

Cerca de dois anos e meio atrás um grupo de escritores de terror de um site de literatura da internet fundaram um grupo literário chamado Irmandade das Sombras, uma confrária literária que tinha a idéia de agregar escritores tidos como "sombrios". O espaço era livre, sem líderes ou qualquer tipo de hierarquia, todos eram bem vindos, desde que respeitassem o estilo e os outros membros e todos tinham voz e vez.

Cerca de oito dias depois esse espaço foi fundado com a idéia de ser um blog comum, tão livre quando nossa confraria, onde postariamos (e postamos sim!) material de todos ou que fosse de interesse comum.

Mas os anos passaram e nosso idela foi se perdendo, se deturpando, até chegar no fim de nossa Irmandade. A maioria (alias acho que todos com excessão do que vos fala rs) não estava satisfeita com o a Irmandade do jeito que era, queriam algo além, algo mais "profissional". Houveram brigas, desentendimentos e enfim acabou.

Fiquei um tempo fora do mundo virtual e fora do mundo literário, mas logo voltei e tentei novamente levantar a Irmandade, mas logo vi-me sem apoio e por algum tempo lutei, mas hoje venho aqui dizer que a Irmandade entra num Stand By sem previsão de volta.

Manterei o blog sim, postarei quando puder e estou de braços abertos a contribuições e dicas, pois querendo ou não esse espaço existe e é bem visitado, então não há motivo para sua destruição.

Também manterei meu sonho de uma confraria literária livre a todos, sem hierarquias ou disputas por poder, uma irmandade para todos como a Irmandade das Sombras sempre foi.

Enfim, encerro por aqui e espero que aos que passem me entendam e caso queiram, meu contanto está no blog e enfim estamos ai rs.

Agradeço a todos que visitam o blog, aos seguidores (Átila, Filipinha, Mário e D., não conheço vocês, mas obrigado! rs) e a todos que pertenceram a Irmandade que por mais que esteja afastado ainda considero vocês grandes pessoas e escritores!

Abraços!

Linx

sábado, abril 04, 2009

Do Além




Ainda na luta de manter o sonho da nossa Irmandade voltar a vida, tento ainda manter vivo o nosso blog. Hoje posto um conto do mestre Lovecraft, um dos meus favoritos e que inspirou um dos melhores Sci Fi de todos os tempos


Por H. P. Lovecraft


Horrível, para além de qualquer concepção, foi a mudança por que passou meu melhor
amigo, Crawford Tillinghast. Eu não o vira desde aquele dia, dois meses e meio antes,
quando ele me falou da meta em direção à qual suas pesquisas físicas e metafísicas se
encaminhavam e quando respondeu à minha demonstração de espanto e medo expulsando-me de seu laboratório e de sua casa num estouro de raiva fanática. Eu sabia que ele agora passava a maior parte do tempo fechado em seu laboratório no sótão com aquela maldita máquina elétrica, comendo pouco e afastado até dos próprios criados, mas não pensara que um período tão breve de dez semanas pusesse alterar e desfigurar de tal maneira uma criatura humana. Não há prazer em ver um homem garboso tornar-se magro de repente, e é pior ainda quando a pele flácida começa a amarelar ou a acinzentar, os olhos fundos, esgazeados, brilhando de modo sobrenatural, a testa enrugada e coberta de veias, e as mãos trêmulas e contorcidas. E se, adicionado a isso, houver um desalinho repulsivo, uma desordem louca do vestir, moitas de cabelos escuros esbranquiçados na raiz, e uma sombra de barba não aparada sobre um queixo que sempre fora cuidadosamente barbeado, o efeito cumulativo será chocante. Mas esse era o
aspecto de Crawford Tillinghast na noite em que sua mensagem pouco coerente me trouxe até sua porta depois de semanas de exílio. Tal era o espectro que tremia enquanto me fazia entrar, uma vela na mão, a olhar furtivamente por sobre o ombro, como se receoso de coisas invisíveis na casa antiga e solitária, situada ao fundo da Benevolent Street.
Para Crawford Tillinghast, ter um dia estudado ciência ou filosofia fora um erro. São
coisas que deveriam ser deixadas para o investigador impessoal e frio, pois oferecem duas alternativas igualmente trágicas ao homem de sentimento e ação: desespero, se fracassa em sua busca, e terrores indizíveis e inimagináveis, se obtém sucesso. Tillinghast fora presa uma vez do fracasso, da reclusão e da melancolia; mas agora eu sabia, entre receios repelentes de minha parte, que ele era presa do sucesso. De fato, eu o tinha alertado, duas semanas antes, quando aventou, num ímpeto, a história do que estava prestes a descobrir. Tornara-se vermelho e excitado, falando num tom de voz muito alto e antinatural, embora sempre pedante. “O que sabemos”, ele dissera, “sobre o mundo e o universo ao nosso redor? Nossos meios de receber impressões são absurdamente escassos, e nossas noções dos objetos que nos cercam são infinitamente estreitas. Vemos as coisas somente na medida em que somos construídos para vê-las e não podemos fazer idéia alguma de sua natureza absoluta. Com cinco débeis sentidos, queremos compreender o cosmos ilimitadamente complexo, enquanto outros seres, com uma gama de sentidos diferente, mais ampla ou mais possante, não apenas poderiam ver de modo diferente as coisas que vemos, como também ver e estudar mundos inteiros de matéria, energia e vida que jazem próximos de nós, mas que não podem ser detectados com os sentidos que temos.
Sempre acreditei que tais mundos estranhos e inacessíveis existem colados aos nossos cotovelos, e agora creio que encontrei um modo de romper as barreiras. Não estou blefando. Dentro de vinte e quatro horas aquela máquina sobre a mesa gerará ondas que agirão sobre órgãos ignorados de sentidos que existem em nós como vestígios atrofiados ou rudimentares. Essas ondas abrirão para nós inúmeros panoramas desconhecidos do homem e muitos desconhecidos de qualquer coisa que consideramos como vida orgânica. Haveremos de ver aquilo para o qual os cachorros uivam na escuridão, aquilo para o qual os gatos levantam suas orelhas após a meia noite. Veremos essas coisas e outras coisas que nenhuma criatura que respira jamais viu. Vamos saltar sobre o tempo, o espaço e as dimensões e, sem mover nossos corpos, espiar o fundo dacriação.”
Quando Tillinghast disse essas coisas, não disfarcei, pois conhecia-o bem o suficiente para ter muito mais receio do que admiração; mas ele era um fanático e expulsou-me da casa. Agora ele não era menos fanático, mas seu desejo de falar sobrepujara o ressentimento, e ele me escrevera num tom imperativo, com uma caligrafia quase ilegível. Quando penetrei na casa desse amigo tão subitamente metamorfoseado numa gárgula vacilante, infectou-me o terror que parecia espreitar em meio a todas as sombras. Era como se as palavras e crenças expressas dez semanas antes se encarnassem na escuridão que cercava o pequeno círculo de luz da vela, e
senti-me mal diante da voz oca e alterada de meu anfitrião. Desejei que os criados estivessem por perto e não gostei quando ele disse que todos tinham deixado a casa havia três dias. Pereceu estranho que o velho Gregory, ao menos, pudesse desertar de seu senhor sem dizer isso a um amigo tão próximo como eu. Era ele que me dava toda a informação que tive sobre Tillinghast depois que, furioso, este me expulsou.
No entanto, logo obriguei meus medos a se subordinarem à minha curiosidade e
fascinação. O que é que Crawford Tillinghast queria de mim agora eu podia até conjeturar, mas de que ele tinha algum segredo ou descoberta estupenda para revelar, disso eu não duvidava.
Antes eu protestara contra sua perquirição indiscreta do impensável, e agora que ele
evidentemente tivera algum tipo de sucesso eu quase compartilhava seu espírito, por mais terrível que pudesse ser o custo da vitória. Seguindo a luz vacilante da vela que a mão daquela paródia trêmula de homem segurava, subi em direção à escuridão vazia da casa. A eletricidade parecia ter sido desligada, e quando perguntei ao meu guia ele disse que era por um motivo definido.
“Seria demais… Eu não ousaria”, ele continuava a murmurar. Notei em especial esse seu
novo hábito de murmurar, pois não era do seu feitio falar sozinho. Entramos no laboratório no sótão, e observei aquela detestável máquina elétrica a cintilar com uma luminosidade doentia, sinistra, violeta. Estava conectada a uma potente bateria química, mas não parecia receber corrente, pois eu me lembrava de que em seu estágio experimental ela tinha roncado e ciciado quando posta em ação. Em resposta à minha pergunta, Tillinghast sussurrou que esse brilho permanente não era elétrico em nenhum sentido que eu pudesse entender. Ele me fez sentar próximo à máquina, de modo que ela ficou à minha direita, e acionou um comutador que ficava por baixo de uma profusão de bulbos de vidro. Os estralejos usuais começaram, tornaram-se um gemido, e terminaram num rumor monótono e tão suave que dava impressão de retornarem ao silêncio. Entrementes a luminosidade aumentou, diminuiu, até assumir uma tonalidade pálida e inusitada ou uma mistura de cores que eu não poderia situar ou descrever. Tillinghast tinha estado a me observar, notando minha expressão de perplexidade.
“Sabe o que é isso?”, murmurou, “Isso é ultravioleta”. E gargalhou ao ver a minha
surpresa. “Pensou que o ultravioleta era invisível, e é – mas você pode vê-lo e a muitas outras coisas agora. Ouça-me! As ondas dessa coisa estão despertando em você mil sentidos adormecidos – sentidos que você herdou de éons de evolução, desde o estado dos elétrons errantes até o estado da humanidade orgânica. Eu vi a verdade, e pretendo mostrá-la a você. Faz idéia de como ela se parece? Vou dizê-lo a você.” Aqui, Tillinghast se sentou também, de frente para mim, segurando sua vela e olhando-me perversamente nos olhos. “Seus órgãos sensórios existentes – ouvidos primeiro, suponho – captarão muitas das impressões, pois estão intimamente conectados com os órgãos adormecidos. Então haverá outros. Já ouviu falar da glândula pineal? Rio-me dos ingênuos endocrinologistas, pretensiosos e comparsas iludidos dos freudianos. Essa glândula é o órgão sensório por excelência – eu o descobri. É como uma visão,
afinal, e transmite imagens visuais ao cérebro. Se você é normal, esse será o modo como você obterá a maior parte... Refiro-me à maior parte da evidência do além.”
Olhei em volta o imenso sótão com a parede alta ao sul, obscuramente iluminada por raios que os olhos cotidianos não poderiam ver. Os cantos mais distantes eram pura sombra, e o lugar inteiro mergulhava numa irrealidade nevoenta que obscurecia sua natureza e convidava a imaginação ao simbolismo e à fantasmagoria. Durante o longo intervalo em que Tillingthast permaneceu em silêncio, tive um devaneio de estar num incrível e vasto templo de deuses há muito desaparecidos, num edifício vago de inúmeras colunas de pedra negra que se elevavam de um piso de lajes úmidas até alturas de nuvens que ficavam para além da minha visão. A imagem me pareceu bastante vívida por algum tempo, mas gradualmente deu lugar a uma concepção mais horrível – aquela da solidão extrema e absoluta do espaço infinito, inescrutável e silencioso. Parecia haver um vazio e nada mais, e senti um medo infantil que me fez sacar do
bolso junto ao peito um revólver que passei a carregar desde que fora assaltado em East Providence. Então, das mais distantes regiões do remoto, o som deslizou suavemente para dentro da existência. Era infinitamente débil, sutilmente vibrante, e inequivocamente musical, mas continha um não sei quê de indizivelmente selvagem que fazia com que o seu impacto parecesse uma tortura delicada de todo o meu corpo. Vieram-me sensações que eram como se alguém pisasse vidro moído no chão. Simultaneamente, desenvolveu-se alguma coisa como um sopro frio, que aparentemente passava por mim vindo do som distante. Enquanto, sem fôlego, aguardava, percebi que tanto o som quanto o vento estavam aumentando, o efeito assemelhandose ao de ter sido atado a um par de trilhos no caminho de uma gigantesca locomotiva que se
aproximasse. Comecei a falar a Tillinghast e, quando o fiz, todas as impressões incomuns se desvaneceram abruptamente. Vi apenas o homem, as máquinas cintilantes e o cômodo penumbroso. Tillinghast ria de um jeito repulsivo para o revólver que eu sacara quase inconscientemente, mas pela sua impressão compreendi que ele tinha visto e ouvido tanto quanto eu, se não muito mais. Murmurei o que eu tinha experimentado, e ele me instruiu para que permanecesse o mais quieto e receptivo possível.
“Não se mova”, advertiu, “pois nesses raios tanto podemos ver quanto ser vistos. Eu lhe disse que os servos foram embora, mas não lhe disse como. Foi aquela governanta de cabeça dura; ela acendeu as luzes no térreo depois que eu avisei para não fazer isso, e os arames captaram vibrações empáticas. Deve ter sido amedrontador – pude ouvir os gritos daqui de cima, a despeito de tudo o que via e ouvia vindo de outra direção, e mais tarde foi pavoroso encontraraqueles montes vazios de roupas por toda a casa. As roupas da senhora Updike estavampróximas do comutador de luz da sala – eis como eu soube que ela o fizera. Pegou-os a todos. Mas, desde que não nos movamos, estamos razoavelmente seguros. Lembre-se de que estamos lidando com um mundo medonho no qual somos praticamente indefesos... Fique quieto!” O choque combinado da revelação e da intimação abrupta deu-me um tipo de paralisia, e
no terror minha mente se abriu de novo para as impressões que vinham do que Tillinghast chamou de “além”. Um vórtice de som e movimento me envolvia agora, imagens confusas surgindo diante de meus olhos. Eu via os contornos imprecisos do cômodo, mas de algum ponto do espaço parecia jorrar uma coluna fervilhante de formas irreconhecíveis ou de nuvens, penetrando no teto sólido num ponto adiante, à minha direita. Então vislumbrei o templo – como efeito novamente, mas desta vez os pilares subiam em direção a um oceano aéreo de luz, o qual despejava um raio de luz ofuscante por todo o caminho da coluna de nuvens que eu vira antes. Depois disso, a cena tornou-se quase inteiramente caleidoscópica, e na profusão de visões, sons e
impressões sensoriais não identificadas, senti que estava prestes a me dissolver ou, de algum modo, a perder a forma sólida. De um determinado lance eu hei de me lembrar para sempre. Pareceu-me ter visto, por um instante, uma nesga de estranho céu noturno repleto de esferas cintilantes e rodopiantes, e quando desapareceu vi que os sóis brilhantes formavam uma constelação ou galáxia de forma definida, sendo essa forma o rosto distorcido de Crawford Tillinghast. Noutra ocasião, senti que as coisas imensas e animadas se arrastavam para além de mim e às vezes caminhavam ou vogavam através do meu corpo supostamente sólido, e pensei ter visto Tillinghast olhar para elas como se seus sentidos mais bem treinados pudessem captálas
visualmente. Lembrei-me do que ele dissera acerca da glândula pineal e me perguntei o queele via com esse olho sobrenatural.
De súbito, senti-me também possuído por uma espécie de visão aumentada. Por cima e ao
longo do caos luminoso e sombrio se elevava uma imagem que, embora vaga, continha
elementos de consistência e permanência. Era de fato algo familiar, pois a parte incomum estava superposta à cena comum e terrestre, tal como uma imagem de cinema se pode projetar sobre a cortina pintada de um teatro. Vi o laboratório do sótão, a máquina elétrica e a forma indistinta de Tillinghast em frente a mim, mas de todo o espaço não ocupado por objetos familiares sequer amenor porção estava vaga. Formas indescritíveis, vivas ou não, se misturavam numa desordem repulsiva, e perto de cada coisa conhecida havia mundos inteiros de entidades alienígenas e ignotas. Igualmente, parecia que todas as coisas conhecidas entravam na composição de outras
coisas desconhecidas e vice-versa. Mais à frente, entre os objetos vivos, havia monstruosidades pretas, semelhantes a medusas, que estremeciam languidamente com as vibrações da máquina. Manifestavam-se numa profusão nauseante, e eu vi, para o meu horror, que se imbricavam, que eram semifluidas e capazes de passar através umas das outras e daquilo que conhecemos como sólidos. Essas coisas jamais paravam; antes: pareciam flutuar sempre com algum propósito maligno. Às vezes, davam mostras de devorar-se umas às outras, o atacante lançando-se sobre sua vítima e instantaneamente fazendo-a desaparecer de vista. Trêmulo, entendi o que tinha feito desaparecer os infelizes criados, e não podia expulsar a coisa de minha mente enquanto lutava para observar outras propriedades do mundo, há pouco tornado visível, que existe incógnito à nossa volta. Mas Tillinghast tinha estado a me observar e agora falava.
“Você as vê? Você as vê? Vê as coisas que flutuam e se precipitam à sua volta a cada
momento de sua vida? Vê as criaturas que formam o que os homens chamam de ar puro e de céu azul? Não tive sucesso em romper a barreira, não mostrei a você mundos que os outros homens jamais chegaram a ver?” Ouvi seu grito através do horrível caos e olhei para a face selvagem que tão ofensivamente se colava à minha. Seus olhos eram poços de chamas e me fitavam com aquilo que – logo entendi – era apenas o mais profundo ódio. A máquina ronronava de maneira horrorosa.
“Pensa que essas coisas rastejantes arrebataram os criados? Tolo, são inofensivas! Mas os criados desapareceram, não é? Você tentou me impedir, você me desencorajou quando precisei de cada gota de incentivo que pudesse obter. Você teve medo da verdade cósmica, seu maldito covarde, mas agora eu o peguei! O que foi que levou os criados? O que os fez berrar tão alto?... Não sabe, hein? Logo, logo saberá. Olhe para mim – ouça o que eu digo. Supõe você que existem mesmo tais coisas como tempo e magnitude? Acredita mesmo que existem tais coisas como forma e matéria? Eu lhe digo, você atingiu profundidades que o seu pequeno cérebro não pode conceber. Vi para além das fronteiras do infinito e arrastei demônios das estrelas... Conduzi as sombras que perambulam de mundo para mundo para semear a morte e a loucura... O espaço me pertence, está me ouvindo? As coisas estão à minha caça agora – as coisas que devoram e dissolvem –, mas eu sei como ludibriá-las. É a você que elas pegarão, como fizeram com os criados... Está tremendo, caro senhor? Eu lhe disse que era perigoso mover-se, coloquei-o a salvo dizendo que se mantivesse quieto – salvei-o para ter mais visões e para me ouvir. Se você tivesse se movido, eles já teriam se atirado sobre você há muito tempo. Não se preocupe, não vão machucá-lo. Não machucaram os criados – foi apenas ver que os fez berrar daquele jeito. Meus bichinhos não são bonitos, pois vêm de lugares onde os padrões estéticos são... muito diferentes. Eu quase os vi, mas soube como parar. Você é curioso? Sempre soube que você não era um cientista. Tremendo, hein? Tremendo de ansiedade para ver as últimas coisas que descobri. Por que não se move, então? Cansado? Bem, não se preocupe, amigo, pois elas estão vindo… Olhe, olhe, amaldiçoado, olhe… Está bem em cima do seu ombro esquerdo.”
O que falta contar é bem pouco, e vocês talvez já tenham sabido por meio dos jornais. A polícia ouviu um tiro na velha casa de Tillinghast e nos encontrou lá – Tillinghast morto, e eu, inconsciente. Prenderam-me, porque o revólver estava em minha mão, mas soltaram-me dentro de três horas, pois descobriram que foi a apoplexia que acabou com Tillinghast e viram que meu tiro tinha sido disparado contra a máquina perversa que agora jaz irremediavelmente destroçada no chão do laboratório. Não contei muito do que vi, pois temi que o coronel ficasse cético, mas, pela descrição evasiva que dei, o médico me disse que, sem dúvida, eu tinha sido hipnotizado pelo louco vingativo e homicida.
Quem dera eu pudesse acreditar no médico. Seria bom para os meus nervos se eu pudesse
pôr de lado o que agora tenho de pensar sobre o ar e o céu que me envolvem e que estão acima de mim. Nunca me sinto sozinho e confortável, e um senso horrível e arrepiante de perseguição às vezes me invade quando esmoreço. O que me impede de acreditar no médico é apenas este fato: que a polícia nunca encontrou os corpos dos criados que, segundo dizem, Crawford Tillinghast assassinou.