domingo, maio 31, 2009

Versos Inscritos numa Taça Feita de um Crânio




Uma das minhas poesias preferidas do mestre Byron (que eu não lembro se já postei nesse blog rs - se postei vale a pena postar de novo rs).


Por Lord Byron


Não, não te assustes: não fugiu o meu espírito
Vê em mim um crânio, o único que existe
Do qual, muito ao contrário de uma fronte viva,
Tudo aquilo que flui jamais é triste.

Vivi, amei, bebi, tal como tu; morri;
Que renuncie e terra aos ossos meus
Enche! Não podes injuriar-me; tem o verme
Lábios mais repugnantes do que os teus.

Onde outrora brilhou, talvez, minha razão,
Para ajudar os outros brilhe agora e;
Substituto haverá mais nobre que o vinho
Se o nosso cérebro já se perdeu?

Bebe enquanto puderes; quando tu e os teus
Já tiverdes partido, uma outra gente
Possa te redimir da terra que abraçar-te,
E festeje com o morto e a própria rima tente.

E por que não? Se as fontes geram tal tristeza
Através da existência -curto dia-,
Redimidas dos vermes e da argila
Ao menos possam ter alguma serventia.

domingo, maio 17, 2009

A Fortuna Maldita



Por Linx


— Puta que pariu!
O grito ecoou por toda aquele velho quarto. Por mais que R. suspeitasse que houvesse realmente algo de valor dentro daquele casarão abandonado, não podia crer que era tanto. E menos ainda podia crer que havia conseguido achar.
Muito se falava a respeito da fortuna que o velho B. havia escondido em algum lugar do seu casarão, mas eram poucos os com coragem de entrar ali (diziam que a casa era amaldiçoada) e os intrépidos caçadores de tesouros que se arriscavam a entrar por mais que vasculhassem a casa toda, ninguém jamais havia encontrado uma pista, mas agora ele o encontrara, o baú, cheio de jóias e barras de ouro.
— Estou rico!
Ele gritava e coxeava pelo aposento com uma criança. Estava em êxtase.
— Deve ter uma fortuna aqui! Disse ele tirando um punhado das jóias do baú. tenho que tira-lo daqui
R. pegou em uma das argolas laterais do baú e se pôs a arrasta-lo para fora. Ninguém havia vindo com ele e como não pensava agora em dividir aquele ouro, acharia um jeito de leva-lo até sua caminhonete estacionada na frente do casarão, coloca-lo na caçamba e leva-lo até sua casa, onde de lá realizaria os tramiteis legais.
— O que é isso?
R. parou no meio do caminho e viu algo que lhe chamou a atenção; um livro velho, em cima de um móvel. Decidiu recolhe-lo antes de ir embora e pondo num dos seus bolsos
Apesar de sua perna direita não ajudar muito (uma pedra havia caído em cima dela a uns três anos - e ele esperava uma prótese até hoje), ele conseguiu quase levando seus músculos a estafe, colocar o ouro na caçamba de seu carro.
— Estou rico, estou rico! R. falava baixinho e ria sem parar. Adeus vida de pobre pé rapado.


— Senhor, seu uísque.
— Sim, agora volte pro seu trabalho
— Sim senhor. Disse ele abaixando a cabeça
— Ande lesma!


Haviam se passado cerca de um ano e agora R. não era mais aquela caçador de tesouros manco, mas sim um dos homens mais ricos de todo pais e famosos do pais.
Logo após sua descoberta a noticia logo se espalhou pela região e em pouco tempo pelo pais todo e suas extravagâncias logo começaram a virar capa de revistas e jornais.
Suas primeiras providencias foram corrigir algumas marcas que a vida havia lhe deixado, se submetendo por varias cirurgias plásticas. Além disso colocou próteses feitas do ouro que ele havia encontrado no seu fêmur e radio (radio que ele quebrou ao tentar tirar o baú de cima de seu carro), e trocou todos seus dentes já apodrecidos por próteses em ouro.
A casa onde ele achou o baú foi inteiramente reconstruída, passando por cima até mesmo do patrimônio nacional que havia tombado aquela casa, sendo acrescentada um grande garagem inclusive que ele encheu de carros importados.
Além de sua gastança desenfreada com essa casa, carros, jóias entre outros ele também era conhecido por armar escândalos; brigas embebedado, grandes orgias com atrizes do mundo pornográfico e rachas com seus carros – em um ou dois deles resultado em morte de pessoas inocentes – obviamente encobertas).
Seu temperamento que já era arrogante, se tornou insuportável e por isso ele vivia praticamente sozinho naquela mansão, a não ser pelos seus inúmeros empregados (muitas delas obrigadas a satisfazer seus desejos sórdidos).


— Já arrumou meu quarto e meu banho?
— O senhor já vai se deitar?
— E o que você tem haver com isso seu imbecil
— Nada senhor
— Então ande, arrume tudo lá sua lesma. Ou quer ser despedido?
— Não senhor. Já estou indo
— Vai suma. E rápido que quando eu chegar lá quero tudo pronto
— Sim senhor
— Cambada de inúteis!
R. se levantou com dificuldade e foi até seu aposento. Tentou ir o mais rápido possível, para tentar pegar tudo ainda por terminar, mas ao chegar nos seus aposentos seu empregado já lhe esperava com a porta aberta
— Pronto senhor. Mais alguma coisa?
— Não suma logo seu imbecil
— Sim senhor
O emprego então esperou R. entrar e fechou a porta, seguindo pelo corredor até seu quarto proferindo em voz baixa diversos palavrões. R. enquanto isso acabava de tomar seu banho e já estava indo se deitar.
Aquela noite estava quente e isso fez R. acordar no meio da noite, já sem sono. Ficou deitado um tempo, mas não conseguia pregar o olho. Decidiu fazer algo para passar o tempo e ver se o sono chegava. Ligou a televisão, mas nela nada parecia lhe interessar, desligando ela logo em seguida.
Deitou-se de lado e viu em cima de seu criado-mudo aquele velho livro que ele havia achado junto com sua fortuna.
Ele nunca havia se interessado em sequer abrir aquele livro depois de ter sua fortuna nas mãos, mas como aquela noite parecia não passar decidiu abri-lo e ver do que se tratava.
Lendo um pouco do conteúdo, viu que não se tratava de um livro, mas sim de um diário, o diário do velho B.
Nele o velho contava muitas historias e contava como havia feito sua fortuna, passando por cima de muitos a matando diversas pessoas. Quanto mais ele lia, mais ele via o porque de tanta gente temer aquela casa, pois a cada pagina a historia daquele velho senhor parecia piorar e ele parecia cada vez mais doentio.
Ao chegar na ultima pagina ele se deparou com um relato desesperado:
“Não agüento mais, isso já está ficando insuportável. Eles agora estão em todas as partes a toda hora. Vejo hoje que o que fiz foi algo imperdoável e que essa maldição nunca vai ter fim. Escrevo aqui e peço a pessoa que encontrar meus rabiscos que não façam uso nem sequer de um vintém de minha fortuna pois nela está contida a maldição que me condenou e que eu criei com meus infames atos covardes pelo qual adquire toda essas jóias e dobrões de ouro...”
A relato terminava ai, mas pela caligrafia no fim da frase. Podia-se presumir claramente que ele continuaria a escrever, mas não conseguiu.
— Velho caduco. Disse R. sorrindo. Já devia estar maluco esse porra.
R. ficou um tempo rindo sozinho, mas logo o sono veio e ele adormeceu


— O que?
R. acordou assustado com um barulho de porta rangendo. Ao abrir os olhos reparou que sua porta estava aberta e uma luz vinha do corredor. Tateou o chão em busca de seu chinelo e decidiu ver o que acontecia, pois ele tinha certeza que havia apagado todas as luzes e fechado a porta, já que seu sono só vinha com todas as luzes apagadas.
— Deve ter sido um daqueles empregados inúteis. Bando de idiotas!
Ao sair do seu quarto e olhar seu extenso corredor viu algo no fundo dele que parecia ser uma criança.
— Hei quem é você? Espere, volte!
A criança correu em direção a escada descendo ela rapidamente. R. a seguiu correndo o máximo que podia. Desceu as escadas rapidamente e viu a criança olhando para o lado de fora em frente a porta principal aberta. Ao ver que ele havia chegado ela aponta para fora. R. vai em sua direção temeroso e para ao seu lado.
— Meu Deus!
Por um breve momento seu corpo ficou paralisado e suas pernas tremeram. Do lado de fora de sua casa estavam depostos centenas de corpos de pessoas, todas aparentemente mutiladas, pois seus braços, pernas e vísceras estavam espalhados por todos os lugares.
— O que é isso?
— Foi seu ouro que fez. Disse a criança olhando para ele.
— Não! Não! Eu não fiz nada!
— Seu ouro nos matou...
Ao pronunciar essas palavras o pescoço da criança começou a se abrir e derramar uma imensa quantidade de sangue vermelho vivo
— Veja o que seu dinheiro fez. Disse ela com uma voz como de alguém que se afoga. Veja!
— Não!
— Esse dinheiro é maldito e te levara com ele ao inferno
— Não!
O grito acompanhou o brusco acordar dele.
— Foi só um sonho. Foi só um sonho. Deus que susto
Um sorriso amarelo brotou de seus lábios. Mas por mais que ele acreditasse que aquilo apenas tinha sido um sonho, fruto da leitura do relato apavorante do diário de B., no fundo sabia que havia algo de errado. Decidiu que não pensaria nisso aquele dia; precisava de uma massagem e um bom uísque só isso.
Tateou então o chão em busca de seu chinelo e o calçou antes de se levantar e ir até o banheiro tomar uma bom banho de hidromassagem.
Após seu longo banho, pôs um belo terno e segui de carro até uma casa de massagem. Pensou que podia passar o dia lá e só voltar pra sua casa para dormir, pois hoje aquela casa lhe parecia um tanto assustadora.
Por mais que tivesse num de seus lugares favoritos, cercado por mulheres lindas, aquele sonho lhe perturbava muito. Algo lhe dizia que aquilo tinha um fundo de realidade, mas não seria um sonho idiota que o faria desistir de sua boa vida; “se o velho fez a fortuna matando pessoas, o problema foi dele, eu só quero saber de curtir minha grana.”


— Senhor pode me dar um trocado? Disse um velho senhor cutucando o vidro de seu carro importado na frente de sua casa
— Não tenho e vai trabalhar seu vagabundo
— Não posso senhor, eu perdi uma perna
— E o que eu tenho a ver com isso seu vagabundo?
— Porque foi seu dinheiro que fez isso!
A fisionomia do senhor mudou de uma profunda tristeza para o profundo ódio, adquirindo um olhar extremamente diabólico
— Seu doente! Maluco! Sai daqui
— Eu quero o que me pertence!
— Filho de uma puta!
O carro de R. acelerou o mais rápido que podia até sua garagem. Fechou a porta desesperado e subiu ao hall correndo.
— Preciso de um uísque.
— Eu quero o que é meu!
— Não!
R. olhou para o lado e lá estava aquele senhor, mas agora acompanhado de outros vinte homens, todos sem pernas ou braços, sujos de terra e sangue, com farrapos rasgados. Na frente deles aquele menino de ontem.
— Você virou um sujeito arrogante e enriqueceu em cima de nossas vidas. Agora viemos buscar nosso ouro que você nos roubou
— Vocês são só um sonho! Não existem
— Me de o que me pertence!
Os homens quase que pularam de seus lugares em direção a R. que tentou fugir subindo as escadas. No fim dela quando ele se virou em direção ao corredor que dava ao seu quarto viu todos aqueles homens parados ali, um monte deles para cada lado. Eles avançaram em cima dele o cercando por todos os lados
— Nos dê o que ele roubou!
— Não... não!
Um deles enfiou a mão no antebraço de R. e abriu ele com suas unhas. R. gritou o mais alto que podia. Outros dois também levaram a mão aquele braço,competindo entre eles.
— Parem!
— Queremos o que é nosso!
Outros dois começaram a forçar a boca de R. até expô-la completamente e começaram e tentar rançar seus dentes com suas unhas. R. tentava se mexer, mas era contido por eles e por mais que tentasse gritar ou morder eles seguravam sua boca com muita força. Agora lagrimas já cobriam todo seus rosto e escorria muito sangue de sua boca.
— Ah!
O grito mal saiu; outros cinco tentavam abrir sua perna a mordidas e unhadas. Dilaceravam a carne, tentando expor aquele osso de ouro, o arrancando logo em seguida. Sua boca mal continha dentes, pois a maioria já havia sido arrancada.


— Senhor!
O mordomo deu um grito alto e apavorado ao ver seu patrão deitado no chão em cima de uma poça de sangue. Sua boca estava aberta e dela vazava uma enorme quantidade de sangue, assim como um de seus antebraços e pernas totalmente mutilados.
Após esse incidente a casa foi queimada em meio a um abaixo assinado da população local e o terreno coberto com sal. Até hoje ao se passar ali em frente pode-se ver aquele enorme terreno carbonizado e muitos afirmam que a noite ainda se ouvem gritos desesperados de dor.

Coleção de dedos


Era fim de tarde,o sol não aparecera o dia inteiro e agora uma chuva fina caia esfriando a cidade.As pessoas se acotovelavam nas ruas,lotavam os onibus,congestionavam o trânsito com seus carros,era a fuga de todo final de dia com cada um querendo chegar o mais depressa em sua casa.
Andavam como animais que pressentem os perigos da noite,se aglomeravam em busca de proteção.Perto da entrada para o metrô a confusão era ainda maior,a massa compacta de pessoas tentava descer as escadas sem se desgrudar,todos correndo,todos com receio de tudo.Em meio aos adultos cansados um grupo de crianças em idade escolar também seguia.Eram cinco,com suas mochilas coloridas cheias de personagens de desenho animado,seus rostinhos inocentes mostravam sorrisos não tão inocentes,todas entre 6 e 8 anos.
A chuva começou a piorar,agora eram gotas grossas e contínuas que caiam.A multidão farejava o predador,em meio ao ruido de buzinas,conversas e celulares um grito.Um mulher caiu de joelhos no meio da massa,segurava a mão que sangrava profusamente,dois homens pararam para ajuda-la e então se horrorizaram,onde antes haviam cinco belos dedos agora só restavam quatro.
A multidão se comprimiu mais,um homem gritou e se abaixou,ouviu-se uma risada infantil.O cheiro de sangue misturava-se ao de chuva,as pessoas olhavam ao redor procurando o agressor,o predador.
Mais um grito e outra pessoa abaixada,outro dedo decepado,as mochilas coloridas se movimentavam rápido e a massa agora corria assustada descendo as escadas em alta velocidade.Pessoas que caiam eram pisoteadas,outras eram chutadas e rolavam as escadas coalhadas de gente.As risadas infantis eram altas,mas não tão altas que não desse pra ouvir as sirenes e foi ai que tudo parou.
As mochilas sumiram na multidão,os policiais só encontraram vítimas...Mais tarde atrás de uma lixeira num beco qualquer as cinco crianças olhavam seus troféus.
A garotinha loira estendeu o belo dedo de mulher onde se via um anel ensanguentado.
- Eu peguei o mais bonito... - Ela dizia satisfeita.
Um garoto negro exibiu as mãos cheias de dedos decepados.
- Mas eu peguei mais que todo mundo... - Ele ria.
- Parem de rir e guardem nossos brinquedos,mamãe me bate se eu me atraso para o jantar... - Disse um garoto que parecia ser o lider tirando um tijolo da parede proxima e escondendo sua cota de dedos ali.Os outros o imitaram.
- Então está combinado...Amanhã vamos ao terminal de ônibus e vocês vão ver como é bem mais dificil cortar orelhas... - Falou uma garota oriental rindo.
Todos riram,um sorriso nem tão inocente...

sexta-feira, maio 01, 2009

Obsessão




Uma Poesia sombria do mestre Baudelaire

Grandes bosques, de vós, como das catedrais,
Sinto pavor; uivais como órgãos; e em meu peito,
Câmara ardente onde retumbam velhos ais,
De vossos De profundis ouço o eco perfeito.

Te odeio, oceano! Teus espasmos e tumultos,
Em si minha alma os tem; e este sorriso amargo
Do homem vencido, imerso em lágrimas e insultos,
Também os ouço quando o mar gargalha ao largo.

Me agradarias tanto, ó noite, sem estrelas
Cuja linguagem é por todos tão falada!
O que procuro é a escuridão, o nu, o nada!

Mas eis que as trevas afinal são como telas,
Onde, jorrando de meus olhos aos milhares,
Vejo a e olharem mortas faces familiares.