terça-feira, outubro 26, 2010

A Irmandade




Há uns três anos escrevi esse texto em homenagem a Irmandade das Sombras, o publicado no site em agosto de 2007 e o posto hoje em memória as velhos tempos de IS!

Por Linx


— Incrível...Era a palavra, a única capaz de descrever o que a Irmandade das Sombras virará. Olhando eu essas paredes coberta de tapeçarias antigas, o piso de mármore negro, os tetos com lustres do mais nobre cristal, tudo cheirando a novo, saído a pouco das caixas. Minha mente parecia as vezes não crer que aquilo tudo era real.Aconteceu quase que de repente; deixamos de ser um monte de pessoas distantes trocando palavras pela internet e agora caminhávamos para ser uma grande sociedade literária mundial. E não era um sonho, ou mais uma das minhas alucinações, era tudo real, tudo ali palpável.
— Linx?
— Oi maninha...
— O que está fazendo ai parado? Disse ela me dando um sorriso
— Admirando...
— É as vezes me paro também a olhar toda essa grandeza
— Tudo tão irreal, tão...
— Perfeito. Disse ela pegando minha mão
— Sim. Olhei nos seus olhos e sorri. Perfeito
Acho que nunca senti o que eu sentia quando abraçava a Celly, esse bem estar que toma conta de todo meu corpo, como que se meu coração só batesse quando ela estivesse ao meu lado. As vezes queria ficar assim, abraço sozinho a ela nesse silencio, para a eternidade.
— Vamos não é. Disse ela me parecendo desconcertada saindo dos meus braços
— Sim vamos. Disse eu lhe tomando uma das mãos entre a minha
Lentamente corremos o corredor até chegar nas grandes escadas, talhadas do mesmo marfim que o piso, rica em detalhes barrocos e ao mesmo tempo modernos. No fim delas, no salão principal nos esperavam Rogério, Henry, Paulo e Hellena
— Demorou o casalzinho. Disse Hellena no seu tom mais irônico
— Odeio esse seu tom
— Eu sei, por isso adoro usa-lo. Disse ela passando a mão pelo meu queixo
— Bem vamos. Disse Paulo interrompendo o flerte
— Sim claro.
Hellena! (que sempre preferiu que chamássemos de Hell, mas eu dificilmente conseguia me dirigir a ela por esse nome. Em minha mente sempre foi Hellena) Realmente uma das mais sensuais criaturas que já tive o prazer de por meus olhos. Não havia homem que a olhasse naquele seus vestidos curtos, colados em suas belas curvas que não fosse tomado, mesmo que por um simples instante, por uma libido incontrolável. E hoje com certeza ela estava mais bela que nunca, que diga meu velho amigo Paulo que não conseguia esconder seu desejo pela jovem garota e mal piscava admirando meio que de suas sombras a jovem menina
Era um dia especial, mas senti lá no fundo que aquele dia mudaria muito nossas vidas...


*****

— Cale o boca! Disse eu lhe dando um tapa no rosto, fazendo ela cair esticada no sofá
— Seu maldito! Gritou ela caída no sofá
— Bando de traidores! Como puderam?
— Você está louco Linx!
— Não me chame de louco! Eu estou vendo! Não podem esconder de mim!
— Você está louco. Ela se levantou se protegendo, correndo em seguida até a porta e a fechando atrás dela
— Volte aqui! Disse eu correndo atrasado, dando com a porta fechada
Bando de maldito! Traidores! Desgraçados! Como fui idiota! Mas também como esperar isso de meus companheiros? Não esperaria isso nem de meus inimigos. Mas eles não vão conseguir. Não vão! Lutei muito para criar a Irmandade. Se ela é o que é hoje foi graças a mim e agora eles querem me tirar isso tudo? Querem me tirar tudo que construí? Querem me matar! Desgraçados, queimarão no fogo do inferno
Corri até minha escrivaninha e peguei uma arma que eu escondia no fundo falso de uma das gavetas, carreguei com todas as balas que cabiam no pente e botei o resto no bolso. Em passos curtos me dirigi até a porta e a abri lentamente. No fim do corredor pude ver meus dois amigos, Paulo e Henry parados conversando com “ela”. Maldita, a pior de todas! Fingiu que me amava, que me adorava. O que ela faria? Dormiria comigo e no meu momento de descanso me mataria?Sai detrás da porta e atirei acertando ela no ombro. Os dois me olharam e tentaram se aproximar lentamente
— Linx, pare com isso, por favor pare0. Disse Paulo num tom baixo e temeroso
— Porque? Porque atirei na vadiazinha que você deseja em segredo?
— Linx pare, você está dizendo loucuras. Disse Henry dando uns passos a frente
— Fique onde está! Gritei com toda fúria. E loucuras? Acham que sou louco? Eu era quando coloquei vocês aqui dentro. E você seu filho de uma puta, não venha me falar nada, pois sei que essa idéia foi sua e do Roger que nunca aceitaram eu como líder da Irmandade.
— Linx ouça o que você está dizendo. Disse Paulo em um tom mais nervoso
— E você cale essa sua boca imunda também. Pervertido desgraçado. Acha que não vejo seus olhares maliciosos a essa ai. Disse eu apontando minha arma a Hellena caída no chão cheia de lagrimas nos olhos, soluçando sem parar. Que você deseja possui-la mais que tudo? Que olha escondido ela trocar de roupa?
— Cale a boca! Cale a boca!Paulo correu de onde estava e agarrou minha mão, me dando um soco com a outra. A pancada me fez cair no chão e num reflexo atirei acertando em sua testa
— Paulo! Gritou Hellena no chão. O que você fez?
— O que devia ter feito a muito tempo... e só estou começando
Com um movimente rápido me pus de pé atirando em seguida em Henry que se preparava para me atacar.
— Corre Hell! Gritou ele antes de cair desfalecido
— Henry... balbuciou ela antes de se levantar e correr até as escadas
— Volte aqui! Disse eu me pondo a correr atrás dela
— Deixe-a!Uma voz masculina atrás de mim me fez parar e voltar meus olhos para trás. Era Roger parado atrás de mim segurando num braço a jovem Amaya e ao seu lado Luciano que já tinha nas mãos uma arma. Os dois soltaram ela e correram até mim. Disparei alguns tiros, um deles acertando Roger no peito e outro Amaya na cabeça. O sangue que espirou de sua cabeça me fez parar, dando chance para Luciano me agarrar.
— Veja o que vocês me fizeram fazer! Gritei eu me livrando dele, o derrubando no chão.Mais três tiros, mas dessa vez minha mão soltou a arma e minha fúria começava a passar e meus olhos agora viam tudo a minha frente. Senti meu coração se encher de amargura e lagrimas quentes correrem meus olhos. Voltei meus olhos para trás e vi o corpo delicado da jovem Amaya no chão. Seus doces olhos agora estava fechados e seu rosto delicado, já pálido e sem vida. Tudo culpa dela! Por causa de sua ganância, eu matei uma inocente.Tomei novamente a arma do chão e corri até a escada, onde a encontrei sentada
— Por sua culpa! Por sua culpa!
— Veja direito Linx, veja de quem é a culpa. Disse ela calmamente
— Cale a boca maldita!
— Veja de quem é a culpa
— Queime no inferno


*****

— Linx!Meus olhos se abriram de repente.Não estava mais naquela cenário de horror, estava eu novamente naquele dia antes do grande discurso. Meus amigos ali parados me olhando, os portões abertos. Do lado de fora um grupo grande, conseguia ver Amaya, Luciano, Leonardo. Eu havia visto o que iria acontecer. Vi a Irmandade crescer mais do que nunca, vi o dinheiro nos tornando loucos, eu o mais louco de todos. Vi todos aqueles ali na minha frente se tornarem os maiores escritores do mundo e vi eu matando muitos deles
— Linx vamos. Disse minha jovem irmão sorridente
— Não posso...— O que você está falando? Perguntou Roger. Cara hoje é o nosso dia
— Hoje é o começo do fim
— Linx o que você está falando. Disse Hellena se aproximando
Não podia deixar aquilo acontecer. Eu vi o futuro, cabe a mim muda-lo.Num movimento rápido me virei de costas de sacando uma arma que eu guardava num bolso para dar sorte dei um tiro na minha têmpora
Ainda inconsciente vi meus amigos se aproximarem e gelei ao ver seus rosto sorridentes
— Se divirta no inferno...

E o Velho Blog Continua!




Há um mês atrás o blog completou quatro anos de existência e que existência!


Um começo belo, uma realização de um sonho, pioneirismo na postagem livre de material, que aos poucos perde força e chega a ficar abandonado. Volta discretamente, para novamente e logo após retorna e começa a republicar os textos que já enfeitaram esse blog e que agora é novamente postado aos novos visitantes.


Mas ele está ai, segue firme e forte, mesmo que quase não se veja os visitantes pois são poucos os que deixam um comentário ou mensagem no nosso humilde livro de visitantes (alias ainda por inaugurar).


Sobrevive sim, em nome dos velhos tempos e quem sabe de um novo tempo quando esse pequeno espaço, quem sabe, volte aos seus dias de glória!


Enfim deixo um abraço a todos os visitantes e aos seguidores e peço que os que passarem por aqui deixem sua marca para que esse espaço não morra e que seja lembrado como o espaço que um dia abrigou o grupo literário lendário; A Irmandade das Sombras!


Linx

A Lenda da Louca Estéril





Por Linx

Essa é mais uma daquelas lendas dos povos interioranos. Um mito passado de geração em geração, contando a luz de fogueiras pelos mais velhos a seus filhos e netos.Ela reza que antigamente, numa vila isolada de tudo e todos, existia uma mulher, muito linda e prendada, que prometida a um homem simples e trabalhador, casou-se nova com um sonho de ter com ele uma linda família.Apesar de no começo não o ama-lo, logo devota de criação e de caráter, começou a lhe dedicar um carinho especial, algo que ela podia até chamar de amor. Afinal era casada com um homem digno, respeitado por todos, trabalhador e muito amoroso com ela Os anos se passaram e seu sonho foi ficando cada vez mais distante. O lindo casamento começou a ficar vulnerável. Por mais que eles tentassem ela não conseguia engravidar. Seu marido, homem de honra, não podia aceitar que sua mulher não gerasse um filho dele. Não agüentava mais os olhares nas ruas, os comentários em voz baixa, as risadinhas discretas .As brigas começaram a surgir e seu marido cada dia mais violento, vitima agora da bebida e do ópio. Por muitas vezes a deixou roxa, sangrando , estendida no chão, e não era raro a molestar depois de tudo.Mas no seu coração, bem no fundo, o sonho de uma família feliz ainda permanecia, aquele sonho ainda vivia forte em seu interior. Sabia que tudo aquilo era apenas pela falta de um filho, sabia que se ela pudesse dar um filho ao seu amado, o tão sonhado filho que eles tanto tentaram ter e que agora era motivo de discórdia entre eles.Em uma de suas raras saídas pelas ruas, passou por entre os amontoados de pobres coitados, marginais, esguios da sociedade. Mas agora eles não eram mais uma ameaça, nem sequer tinha medo de se esgueirar por aqueles guetos sujos, pois ali ninguém lhe olharia piedosamente, ninguém comentaria seus olhos roxos e nem o ferimento de sua boca, ali ela era só mais uma pobre infeliz.Mas seus passos foram diminuindo, parando seus pés um do lado do outro, ficando de frente a uma pobre mulher segurando uma menina. A garota devia ter seus cinco anos, usava uns farrapos, mas mesmo assim lhe chamou muita a atenção, principalmente seus olhos, azuis claros como o céu. Ficou ali vendo aquela menina um longo tempo até ver a senhora olhando a ele o que fez ela correr daliOs dias passaram, mas aquela menina não saia de sua cabeça. Aquela cena, aquela menina jogada naquela imundice, aquela menina tão linda, tão perfeita, podia ser até sua filha.Os dias continuaram a passar e ela agora ia quase todos os dias ver a pequena menina nos guetos imundos. Ficava ali por horas as vezes, indo e voltando, vendo de longe a menina e cada vez era mais forte a idéia de que ali estava sua filha, a filha que Deus nunca tinha lhe posto no frente, mas que agora ela a havia encontrado.As surras continuaram e as humilhações se tornaram mais freqüentes. Ela tinha que salvar seu casamento, tinha que realizar seu sonho.Numa noite em que seu marido não voltou a casa, ela tomou em suas mãos uma faca e a colocou em um dos panos de seu vestido, pôs seu véu e antes de sair pegou uma das lamparinas e a acendeu seguindo até o gueto onde iria encontrar sua filha perdida.Foram cerca de oito golpes até conseguir tirar a vida da jovem, golpes cuidadosos afim de manter a pobre menina livre de tal cena, golpes que ela deu com uma força e destreza que nem ela sabia que possuía. Recolheu então a criança e fugiu dali o mais rápido que podia. Suas pernas tremiam agora que dera conta do que havia feito, mas tudo havia sido por uma boa causa, pois agora ela tinha uma filha, a filha que ela sempre sonhou, a filha que faltava na vida dela e de seu maridoAo chegar em casa, ainda um pouco tonto por causa do vinho, viu no sofá sua mulher toda suja de sangue e uma menina que dormia ao seu lado em um sono profundo. Um desespero tomou conta dele, enquanto ela lhe dizia que agora tudo seria diferente, pois ali estava a filha que tanto sonharam. Ele desesperado correu da casa, deixando sua esposa parada em frente a porta em prantos.Mas as coisas não duraram por muito tempo, e naquela noite mesmo já se sabia da barbaria que a jovem havia praticado, pois seu marido em desespero saiu gritando pelas ruas que sua esposa era uma assassina e junto com algumas pessoas que viram a jovem sair do gueto com a criança. As tochas foram acesas e o amontoado de aldeões enfurecidos se dirigiam a casa onde estaria a jovem assassina.Os aldeões enfurecidos arrombaram a porta e lincharam a mulher. Enquanto agonizava ela olhou nos olhos do marido e disse que voltaria com a filha que ele tanto desejou e eles seriam enfim uma família feliz.Desde então o marido se pôs a peregrinar afim de fugir do espírito de sua mulher que lhe perseguia onde ia, até morrer de sede no meio de um deserto em meio a uma visão de sua mulherMuitos dizem que ela ainda busca a sua filha e que em noites sem lua ela corre as regiões próximas em busca de uma criança de olhos azuis, de cinco anos, para que seu espírito consiga enfim a paz...

Postagem de 10/06

O Vampiro do Castelo de Bran




Por Paulo Soriano

1
O peso opressivo do luar, incidindo sobre os meus longos cabelos negros, escorria, num fluxo impiedoso, caudaloso, sobre os meus ombros, impelindo-me para frente, como se eu estivesse tocada pelo vento que precede às mais violentas tempestades.

Eu caminhava sozinha – descalça e andrajosa – por uma estrada milenar, aberta pelos eslavos, mas pavimentada pelos romanos, que ladeia os vales relvosos, salpicados de árvores agulhosas. Sobre esses extensos vales, as montanhas escarpadas deitam, eternamente, as suas sombras melancólicas, que azulam e amolecem ao luar. Eu saíra de Vesta Verde quando anoitecera, já corroída pela fome e pelo cansaço. A fria madrugada grassava e eu precisava buscar um refúgio para um merecido descanso.

Eu devia ter, de alguma forma, errado o caminho. Porque, sob os meus pés descalços, a estrada ganhara uma aspereza incomum, serpenteando para cima, galgando as encostas de uma montanha cuja imponência a sombra da noite não deixava margem à imaginação.

O luzeiro que vi adiante me animou. Assim, redobrei a intensidade de meus passos e em breve alcancei o passadiço que conduzia aos portões de um castelo milenar, uma estrutura negra, pesada, sulcada por estrias ancestrais, onde as sombras e as heras adensavam e buscavam o lúgubre mergulho.

O luzeiro era, na verdade, uma simples lanterna, que um homem idoso empunhava em riste, em uma das torres da construção secular. Decerto que ele me viu, porque não foi necessário que eu tangesse as cordas que faziam girar os sinos da campainha. Por uma abertura em arco, ao sopé da torre, o homem saiu ao meu encontro, tomando-me pelas mãos. Eram mãos pálidas, incrivelmente frias, extremadas por longas e amoladas unhas. Quando o homem ergueu a lanterna para subir as úmidas escadas de pedra, pude constatar que a sua fisionomia era assustadora. Naquele rosto exangue, encimado por um crânio completamente nu, dois olhos negros, duros, ornados de grossas sobrancelhas, bailavam sobre olheiras violáceas, que caíam, desfalecidas, em dobras pesadas, sobre os ossos salientes dos maxilares. O nariz era finíssimo, recurvo como um gancho e, dos seus lábios, eu nada pude ver, porque, naquela rachadura, insinuava-se apenas a brancura dos dentes pontiagudos, quase mergulhados sobre a curva suave que lhe compunha o queixo. E como eram asquerosos aqueles negros tufos de pêlos desgrenhados, que se esgueiravam a partir do poço escuro das orelhas pontudas, repuxadas como as de um demônio helênico!

- É tarde – disse-me ele. – Já não tenho como te alimentar, pobre criaturinha bela e suja. Mas te darei um quarto para dormir, onde te envolverás nos flácidos vincos de teu roto vestido. Fica a cela no cume da torre e logo lá chegaremos. Lá há água, se tiveres sede. E há um catre pouco confortável. Desculpa-me a franqueza, mas não costumo hospedar gente desconhecida. Nem mesmo os nobres, como eu, gozam de minha hospitalidade, se não tenho como me certificar de sua verdadeira origem e intenções.

Ao dizer isso, logrou girar a chave no caixilho, fazendo-me menção para que entrasse. Foi o que eu fiz. Imediatamente, a porta se encerrou atrás de mim.

- Chamo-me Dragoş Valicescu, sou o Terceiro Conde de Bran, e vivo completamente só – disse, enquanto descia vagarosamente as escadas. – E não me espere pela manhã, porque sou notívago e odeio a luz do Sol – concluiu, com um quê de sensualidade malévola em sua voz de animal.

Estava quase amanhecendo quando fechei o único postigo do quarto da torre e procurei descansar no desconforto daquele catre infeliz, onde a escuridão cairia sobre mim como uma negra mortalha, pegajosa e fria.

2

Quando despertei, já anoitecera. O postigo da torre achava-se escancarado e sobre o parapeito ardia um enorme círio, cuja ereta chama não se movia. A porta do quarto jazia aberta, e a silhueta longelínea de Dragoş, o Conde de Bran, desenhava-se como uma sombra nefasta, a enturvar os umbrais.

- Tu deves estar faminta – disse-me ele. – Aproxima-te de mim, linda e desolada jovem, que eu te trouxe algo para comer.

De fato, eu estava faminta. Extremamente faminta. Certamente, em toda Romênia, não haveria um ser mais faminto do que eu. Tomei a bandeja de carnes e frutas que ele trazia e a depositei sobre a cama. Mas não me debrucei sobre a iguaria.

- Dá-me um beijo em agradecimento – ele exigiu, em tom feroz.

O Conde avançou, tomou-me pelas mãos, e mergulhou o arremedo de lábios em minha boca, sorvendo a minha saliva com uma fúria bestial. Seus dentes longos tremiam como resultado de uma convulsão atroz.

Ao contato com a língua daquele homem decrépito, a minha fome recrudesceu. Sim, recrudesceu assustadoramente. Quase tremi, assaltada por uma ansiedade ensandecida, por uma compulsão tão premente que somente os animais mais ferozes podem experimentar. E, num frêmito, os meus dentes caninos, até então retraídos, deslizaram celeremente, conformando-se em presas amoladas, próprias para perfurar e dilacerar.

Depois do beijo, veio o peso opressivo do luar, que se infiltrava pelo postigo aberto. Incidindo sobre os meus longos cabelos negros, o luar escorria, num refluxo impiedoso, caudaloso, sobre os meus ombros, impelindo-me para frente, para a garganta do Terceiro Conde de Bran, onde minhas presas aguçadas afundaram profundamente e de onde eu extraí a seiva morna, densa, repleta de delícias, que saciou a minha fome infinita. E pouco me custará a encontrar a cripta do castelo, que doravante será minha; lá, regenerada, dormirei profundamente, por vários dias, o meu tranqüilo sono de morte.
*

Nota do autor: qualquer semelhança com Stoker e Murnau não é mera coincidência.

Postagem de 10/06

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