quinta-feira, novembro 25, 2010

A Noite em que Vieste




Por Henry Evaristo

A noite em que vieste estava fria como nunca antes. Meus olhos marejados te avistaram através da janela caminhando na direção da casa em meio à neve e às trevas como se combalido e furioso; mas nunca perdido, visto que bem sabias onde tinhas chegado. De pronto te abri minha porta e não te fiz perguntas desnecessárias fingindo espanto em ver-te. Ambos sabíamos que fora eu aquele que te trouxera ali e nossas palavras eram, então, articulações infrutíferas. Deixei-te a vontade para olhar por todos os cantos de minha humilde moradia e não te interrompi nem um minuto sequer; nem mesmo quando, incontinenti, invadiste minha alcova onde descansava o corpo de minha esposa. Como me ordenastes em sonhos, sacrifiquei-a em teu nome para que ela, ao partir deste mundo pelas minhas mãos, pudesse contribuir com sua paixão para a minha glória final.

Acompanhei-te depois ao porão onde encontraste os símbolos mágicos necessários para a tua invocação, aqueles que tu mesmo bem ensinastes aos magos na idade das trevas. Usei-os com a maestria resultante de vinte anos de estudos árduos movidos pela curiosidade, mas, sobretudo, pela necessidade de abandonar este mundo pequeno e atingir outras esferas; pela chama que ardia em meu peito e que dizia "Tens que ser um homem rico e com poderes sobre as vontades alheias!". Vi o brilho louco em teus olhos quanto constataste que tudo estava certo e que podias terminar o que eu começara.

Como a borda negra de um abismo insondável, mestre, tu te voltaste para mim e teus olhos em chamas encheram meu corpo de esperanças. Lança-me, oh, homem negro, nas profundezas de teu abraço inflamado que eu mergulharei nos caminhos da tua maldade infinita e da tua liberdade absoluta que é pecaminosa aos olhos dos homens, mas benfazeja aos meus. Me investe da palavra de teu reino para a tua glória! Toma agora minha alma e me dá o mundo!


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