terça-feira, outubro 31, 2006
A SOLIDÃO
Por Charles Baudelaire
(Tradução de Aurélio Buarque de Holanda )
Diz-me um jornalista filantropo que a solidão é má
Para o homem; e, em abono de sua tese, cita, como todos
Os incrédulos, palavras dos Padres da Igreja.
Eu sei que o Demônio é dado a freqüentar os sítios
Áridos, e que o espírito do homicídio e da lubricidade seInflama prodigiosamente nos ermos.
Mas talvez esta solidão
Só fôsse um perigo para a alma ociosa e divagadora que a
Povoa de suas paixões e de suas quimeras.
Certo é que um tagarela, cujo supremo prazer consiste
Em falar do alto de uma cátedra ou de uma tribuna, se
Arriscaria muito a tornar-se louco furioso na ilha de Robinson.
Não exijo do meu jornalista as corajosas virtudes
De Crusoe, mas peço-lhe que não incrimine os amantes da
Solidão e do mistério.Há em nossas raças palradoras indivíduos que aceitariam
Com menor repugnância o suplício máximo, se lhes fôsse
Permitido fazer do alto do cadafalso uma copiosa arenga,
Sem temer que os tambores de Santerre lhes cortassem
Intempestivamente a palavra.
Não os lastimo, porque adivinho que as suas efusões
Oratórias lhes proporcionam volúpias iguais àquelas que
Outros encontram no silêncio e no recolhimento; porém os
Desprezo.Desejo, antes de tudo, que o maldito jornalista me deixe
Divertir-me a meu gôsto.-Então o senhor não sente nunca - perguntou-me,
Com um tom nasal muito apostólico - a necessidade de
Compartir os seus prazeres?Vejam lá o sutil invejoso! Êle sabe que eu desdenho os
Seus, e vem insinuar-se nos meus, o horrível desmancha-prazeres!"A grande desgraça de não poder estar só!..."- diz algures La Bruyère, como para envergonhar os que
Procuram esquecer-se na multidão, temendo, sem dúvida, não se
Poderem suportar a si mesmos."Quase tôdas as nossas desgraças nos advêm de não
Têrmos sabido ficar em nosso quarto" - diz outro sábio,
Creio que Pascal, lembrando assim, na célula do recolhimento,
Todos os insensatos que buscam a felicidade no
Movimento e numa prostituição a que eu poderia chamar
Fraternitária, se quisesse falar a bela língua do meu século.
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Nem posso falar nada, já que sou suspeita..idolatro meu amado Charles Pierre há muito...o venero e o ponho num altar perfumado!
ResponderExcluirSou aficcionada por cada linha dele!
Esta afetação...esta musicalidade em prosa e poesia sao extasiantes!
Congratulações à quem prestou esta homenagem à ele..
Abraços fraternais!
É... vcs são muito bons mesmo, pois estudei Baudelaire na Faculdade, e agora, me deparo com um belíssimo texto dele aqui!
ResponderExcluirParabéns, pessoal!
Viva a I.S!
Abracos...
Eu queria que Charles-Perre estivesse vivo pra eu tomar uma com ele no Cemitério de Santo Amaro!
ResponderExcluirhsauhushauhsuahsu!!
ResponderExcluirAh meu querido, eu iria além..
Conviadaria o espectro deste senhor para partilhar comigo uma garrafa de Absinto no Pére lachaise
ou no Cemiterio de Montparnasse!
Ma no santo amaro é decente, visto vários jazigos que já vi e belos mausoleus que tem por lá!
Ficaria mui satisfeita!