terça-feira, novembro 13, 2007

Jogo Eterno

Para não deixar o sonho morrer rs. Mais um conto de minha autoria

Por Linx

“Somos apenas peças, peões, cavalos, bispos e rainhas
De um jogo eterno chamado vida...”


K. caminhava pelas ruas já escuras do centro da cidade seguindo o mais rápido que podia para sua casa, pois à aquela hora a cidade já não era tão amigável e nos últimos anos então, nem mesmo a luz do dia se podia confiar andar distraída pelas ruas.
— Droga! Disse ela ao sentir leves filetes de água que começam a cair molhando de leve seus ombros e pernas descobertas por uma esperança de dia de calor e de quem sabe mostrar ao seu colega ao lado que ela existia e quem sabe desviar um pouco os olhos da loira que se sentava a sua frente – o que também não passou de pura esperança
K. agora corria contra a malha fina de água que cobria o céu, já acompanhada de um vento frio.
— Droga. Droga... Ah!
Entre uma calçada e outra havia uma grade cobrindo uma boca de lobo, onde ela enroscou o salto, fazendo seu corpo cair seco no asfalto, espalhando seus livros e caderno no chão
Dor, e logo depois lagrimas, mas não apenas pelo tombo, mas por tudo. Era como se ela tivesse trancado tudo e o tombo tivesse deixando tudo sair do cofre e cair na suas costas; faculdade, seu trabalho, seu chefe que lhe cantava todos os dias e que a ameaçou pela terceira vez de demissão se não lhe “abrisse as pernas”, o imbecil do garoto que ela tanto amava e que agora provavelmente transava a luz de uma lareira com uma loira falsa filha de um vereador corrupto. Seu choro não pode ser contido por maior que fosse seu esforço, suas lagrimas se misturavam com a água que corria das calçadas e da chuva que caia lavando as ruas. Por um tempo ficou ali tentando parar de chorar e criar forças para se levantar. Com um pouco de força e um pouco mais de tempo suas lagrimas enfim secaram e seus braços enfim ergueram seu corpo dolorido
— Que droga! Inferno! Minhas pernas...
Seus olhos ameaçaram lacrimejar, contendo ela com um suspiro, como quem tenta engolir algo. Sabia que se começasse a chorar não pararia mais. Abaixou-se novamente e recolheu suas coisas já ensopadas do chão, colou-as contra o peito e continuou a caminhada, agora lentamente, pois seus joelhos doíam muito e seus pés ardiam como fogo. Novamente engoliu o choro que vinha, olhou para cima de olhos fechados, contou até dez e novamente voltou seus olhos para frente, e devagar, caminhando até o ponto de ônibus.
Algum tempo de caminhada forçada e logo a frente ela avistou o ponto estranhamente vazio, o que a fez atentar para o estranho vazio da cidade daquele dia. por mais que fosse tarde, sempre havia um bêbado, uma prostituta, um alguém caminhado por entre as ruas escuras e hoje ela não se lembrava de ter visto nem mesmo um gato vira-lata miando a luz do luar. Mas agora aquilo não tinha muita importância, ela estava molhada, com fome e toda ralada, só queria pensar em um banho quente, um prato de sopa e sua cama
— Ei você!
A voz masculina vinda de trás dela a fez gelar. Seu corpo paralisou, apenas conseguindo tremer e encher seus olhos de água. Era seria roubada e quem sabe mais o que...
Uma mão lhe tocou e ela num instinto que nem mesmo ela saiba existir dentro de si se virou e ergueu a mão
— Calma, calma, não vou te machucar. Disse o senhor num tom de nervosismo
Seu punho parou no ar e logo se abaixou ao ver o rosto preocupado do senhor, que a olhava fundo nos olhos
— O que foi? Disse ela ainda receosa, gaguejando e tremendo ainda um pouco
— Por favor me ouça. Vai embora
— Bem é isso que quero fazer
— Não, você não entendeu, vai embora! Disse ele num tom mais alto e nervoso
— Não vê que é isso que quero fazer. Só estou esperando meu ônibus
— Não, por favor me ouça. Corra, fuja, vá embora
— Por que me diz isso senhor. Disse ela já irritada
— Apenas vá, você não pode ir... Vá!
O grito do senhor ecoou pelas ruas, deixando K. apavorada. De longe ela avistou ônibus encostando no ponto. Num movimento rápido ela se virou e correu desesperada até o ônibus
— Não! O homem gritou e correu até o ônibus
— Motorista fecha a porta, aquele doido está me perseguindo
— Sim senhorita! Disse o motorista atendendo prontamente a jovem
O homem bateu a porta e ainda a socou algumas vezes gritando para que a moça abandonasse o ônibus.
— Me deixe! Gritou ela desesperada dentro do ônibus
— Senhor por favor vá antes que eu chame a policia. Disse o motorista num tom grave
— Não vá! Não vá!
— Vai embora! Gritou ela com todas suas forças
O motorista se levantou, mas ao olhar a porta viu que o homem havia sumido
— Tudo bem senhorita ele já foi
— Obrigada moço
— Tudo bem não foi nada. Esses vagabundos covardes. Bem vamos?
— Sim, vamos. Disse ela se sentando em um dos bancos da frente
O motorista ligou o motor, soltando levemente o carro, quando dois homens encostaram na porta, cada um com uma arma
— Abre a porra da porta! Gritou um deles batendo a arma no vidro
— Tudo bem calma, estou abrindo. Disse o motorista abrindo a porta
Os dois entraram no ônibus, se dirigindo direto ao cobrador.
— Passa o dinheiro rapidinho camarada. Disse um deles colocando o cano da arma na cabeça do cobrador
— Calma amigo. Pode pegar, mas me deixa em paz, tenho uma filha e mulher e não quero encrenca
O bandido revirou a gaveta, tirando todo o dinheiro que encontrou e pondo nos bolsos de sua jaqueta de couro gasta
— A carteira também
— Toma. Disse ele tirando a carteira, o relógio e um celular. Leva tudo
— Você também, a carteira, o relógio... disse o outro, pondo os olhos em K. sentada na canto tremendo, quase chorando. Oi gatinha, disse ele indo para o lado dela.
O outro largou o cobrador e foi também até onde K. estava
— Então gostosa como vai. Disse ele se sentando ao lado dela, colocando a mão em sua coxa
— Pode levar tudo. Disse ela estendendo um pouco de dinheiro e um celular que ela guardava na cintura
— Não que isso, acha que eu roubaria uma gatinha dessas? Disse ele rindo ao seu amigo. Sabe gatinha. Disse ele beijando seu pescoço. Nossa como você é cheirosa
— Por favor me deixa em paz. Disse ela chorando
— Calma, só quero fazer um carinho
— Me deixa! Gritou ela se esquivando, arranhando ele com a presilha de seu cabelo
— A vadia então é brava. Disse ele passando a mão no arranhado
— Acho que ele precisa ser amaciada. Disse o outro
— É... vem comigo. Disse ele se levantando e puxando ela do banco
— Me deixa! Socorro!
— E vocês dois quietinhos, senão meto bala nos dois
Os dois a arrastaram do ônibus, enquanto o motorista e o cobrador ficaram impotentes olhando a ação de longe. Mais a frente os dois a jogaram no chão e começaram a lhe rasgar a roupa
— Socorro! Me deixa!
— Pode gritar gostosa. Adoro uma vadia que grita
Os dois tiraram as roupas e um deles se deitou em cima dela enquanto o outro forçava um beijo
O ônibus saiu em arrancada, revelando atrás dele o homem que antes lhe gritava. Ele via tudo de longe, deixando correr lagrimas pelo seu rosto
— Pare com isso, sei que você pode parar esse sofrimento! Gritou ele para cima
— E por que eu faria isso? Disse um homem ao seu lado
— Porque faz isso? Disse o senhor ao homem que assistia tudo com um meio sorriso
— Não faço nada. Não sou eu, são eles
— Seus filhos! Disse uma vez isso! Chamou-os de filhos!
— Filhos? Não se faça de ingênuo, está morto a tanto tempo e ainda acredita em histórias de faz-de-conta.
— Seu maldito! Gritou o homem
— Ora meu caro não seja um mau perdedor. Olha pra ficar mais divertido deixo você da próxima vez falar a palavra ônibus. Sabia que esse é um dos jogos que eu mais gosto? É um dos mais emocionantes
— Demônio desgraçado! Gritou o senhor ao nada, vendo que ao seu lado não mais havia ninguém
O senhor se pôs a chorar novamente, vendo na sua frente a garota morta e os homens fugindo. Ele então foi a frente a garota deitada e olhou seu lindo rosto, agora deformado por hematomas
— Me perdoe...
Ao longe o homem viu um grupo de almas perdidas, almas que ele deixou morrer, almas do jogo perverso da vida. Ele era apenas uma alma, que como todos nos, partes do jogo perverso dele.

Um comentário:

  1. ACHEI LEGAL!!!
    MEU...ALELUIA...FINALMENTE ALGO Q SE POSSA LER!!
    PARABÉNS MEU...
    VLW...
    FUI

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