sábado, julho 31, 2010

A Maldição de Aklathenohm




Por Rogério Silvério

Na misteriosa e remota infância do mundo, quando o homem era apenas um sonho incipiente dos deuses esboçado em carne, sangue e fúria, havia uma grande terra, chamada Druzuxkulhulpion, constituída de um único e gigantesco continente sobre as águas de um oceano turbulento e de águas quentes e revoltosas, onde a vida subaquática ainda era escassa e jovem. Os sábios do futuro chamariam esse oceano de Pantalassa, e essa terra de Pangéia, mas seus nomes verdadeiros eram Garith e Druzuxkulhupion, respectivamente. Na grande cidade-estado de Lmnir, também capital de Druzuxkulhulpion, onde habitava o estranho povo-lagarto, grotescos humanóides, meio homens e meio répteis, com seus palácios de ouro e prata e suas espadas de djiryuwn (uma espécie de aço negro e cintilante de então, tirado e forjado de um grande meteorito em forma de caveira humana que caíra no vale de Zizar), vivia e mandava o malvado e opressor rei do povo-lagarto, Aklathenohm, que mandara construir uma torre gigantesca de ouro maciço, maravilha do continente único de Druzuxkulhulpion. Aklathenohm, com seu orgulho titânico, resolvera construir aquela torre colossal que, segundo ele, tocaria o céu e faria cócegas no ventre rotundo dos deuses antigos das estrelas distantes. A rainha, sua esposa Arktília, de índole perversa também, concordara em tudo, submissa, lasciva, entregue a concupiscências pecaminosas. Em Lmnir, eram cultuados os sete deuses maiores druzuxkulhupionitas: Zantrah, Tarabachibuch,Vlig, o branco Milac, Zorthiay, Guh, o folião do pandemônio e também o terrível e negro Bed. Todavia, o rei de Lmnir adorava o deus menor, malévolo e antigo chamado Sharthak, também conhecido como deus-lagarto da discórdia e do ódio; Aklathenohm e seus sacerdotes e fiéis adoravam Sharthak como se fosse um deus único. Mas o orgulho de Aklathenohm era mais satânico do que o povo pensara. Entre o povo-lagarto, havia uma casta menor de druzuxkulhupionitas, mestiços, híbridos de primatas e répteis humanóides, considerados párias. Eram os Hadanos, que futuramente dariam origem aos australopithecus e pithecanthropus, numa evolução alucinante esboçada pelos deuses da Criação. Os hadanos eram como um esboço dos homens feito pelas mãos dos deuses antigos e esquecidos no tapete da existência terrena, e quem tenha ouvidos que não sejam moucos, ouçam estas minhas palavras e esta minha história, pois fui o cronista desta era de sombras perdida na grande noite dos séculos. A maioria dos hadanos servia como escravos, gladiadores ou serviçais, mas também havia uma parte de hadanos livres e nômades, de uma outra casta de mestiços, e alguns desses eram xamãs , guerreiros e até mercenários bárbaros. Um dia, Aklathenohm mandou exterminar todos os hadanos da face de Druzuxkulhulpion. Ele queria a supremacia e a pureza total da raça dos homens-lagarto druzuxkulhupionitas. Nenhum maldito mestiço seria poupado, segundo seu louco pensar. Todos os hadanos, livres ou escravos, de todas as castas, seriam presos e sacrificados em honra ao maldito deus Sharthak (“Sharthak” na língua dos druzuxkulpionitas queria dizer “aquele que chafurda nas cloacas imundas do inferno do caos” ou “o que rastejou das sombras dos lamaçais do inferno caótico para matar os viventes”). Hadanos escravos ou hadanos livres seriam queimados vivos em grandes fornos em forma de caveiras nas misteriosas montanhas de Zlor, ao sul do continente único de Druzuxkulhupion, maravilha única do mundo antigo. Trancados nos sinistros fornos nos cumes das montanhas zlorianas, os hadanos foram sendo dizimados pouco a pouco, dia após dia, noite após noite, num genocídio lento e horrível. Os gritos medonhos de horror e morte foram ouvidos durante anos pelos homens-lagarto de Lmnir, sem nenhuma piedade. O insano Aklathenohm costumava dizer sarcasticamente a Arkitília, quando ouvia os gritos de agonia:”Estou ouvindo a minha música favorita, minha querida: a música da morte violenta dos seres inferiores, os hadanos!’’. E ambos gargalhavam em meio a uma esdrúxula luxúria pecaminosa. No dia em que queimaram vivo o filósofo, profeta e xamã hadano de nome Merugiteth, da aldeia livre de Kzor, ouviu-se uma maldição negra ser vomitada da garganta desse mago hadano antes de sua morte, uma maldição do velho sábio hadano versado em conhecimentos místicos proibidos de esferas ou reinos astrais e etéricos invisíveis ao olho comum. A maldição do mago tido como louco pelo rei do povo-lagarto ecoou por todo o reino de Lmnir, chegando aos ouvidos de Aklathenohm como um hino de vingança macabra. Aklathenohm, postado paranoicamente em seu trono, lá no alto de sua torre colossal feita de ouro maciço, parecia estar atravessando os portais da loucura e do remorso. Sem dúvida, Merugiteth evocara entes demoníacos da natureza e da face oculta da lua para atormentar a consciência de Aklathenohm que pesara tal qual uma montanha de granito. Em seu trono de ágata e lápis-lazúli, Aklathenohm ouviu em sua mente a maldição negra de Merugiteth, lançada ao rei durante noites e noites inteiras de delírio e febre alucinantes. Eis, em síntese, a maldição proferida pelo feiticeiro Merugiteth: “Amaldiçoada seja o reino de Lmnir e toda a corrupta Druzuxkulhulpion, maravilha pecaminosa do continente único! Eu a amaldiçôo com todas as forças negras de meu coração hadano apodrecido e carcomido pelo ódio e pelo desejo de vingança! Haverá um dia em que este reinado de ódio contra o povo hadano perecerá para sempre. Virão muitas chuvas, trovões, terremotos, maremotos, cataclismos criados pelos deuses invisíveis da natureza e pelos demônios verdes que dançam silenciosamente na face escura da lua, e tudo será destruído, tudo será purificado, desenhando-se, assim, um novo mundo com uma nova geografia, um mundo que não mais se chamará Druzuxkulhulpion, mas sim...Lemúria!... Que fique o maldito rei Aklathenohm, com seu orgulho anormal e satânico sabendo que os hadanos não irão morrer nunca!...
“Conseguimos ocultar um jovem casal nas montanhas de Saphyr, nos bosques e jardins ao norte das montanhas de Éthen, que servirá como sementeira para uma nova raça. O hadano macho chama-se Hadan e a fêmea chama-se Revah. Revah dará a luz em breve, perpetuando e evoluindo a raça hadana para a raça humana, no ciclo inteminável de nascimento e morte da vida neste mundo. E, após as pestes e os cataclismos, a maldição perpétua cairá implacável sobre o último dos homens-lagarto, o reio Aklathenohm! E então o tirano perecerá em dores e solidão atrozes e eternas!” Quando por fim vieram os cataclismos profetizados, vieram também os terremotos e os maremotos, vieram pragas e doenças terríveis que mataram todos os homens-lagarto, até que restou apenas um, aquele em sua torre gigantesca de ouro, perto do céu, perto das estrelas distantes e desconhecidas, perto da lua cheia maldita, o tirânico e louco rei Aklathenohm, sozinho com sua arrogância, sua luxúria e sua empáfia, com seu egoísmo diabólico, com seu louco e abominável deus Sharthak, que o abandonara para sempre. E com sua terrível doença que o tornara um autêntico morto-vivo! A mesma coisa aconteceu com a rainha Aktília, completamente vencida pela insanidade nascida da voluptuosidade malsã, teve sua pele e carne apodrecidas em vida. Aklathenohm gritou de horror e loucura em sua torre dourada, que inexplicavelmente não fora destruída pelos cataclismos e pela Era Glacial que se seguiu. O rei, atônito, viu ruir seu império e sua nação. Segundo os Pergaminhos Negros de Saahrhayrtrung, encontrados ainda nas ruínas dos templos de Saphyr, escritos pelos próprios Hadan e Revah, que então começaram um novo mundo, o rei Aklathenohm, no auge do seu desespero e horror, juntamente com a rainha, teriam visto uma estranha e luminosa nuvem verde de aspecto discoidal e fantasmagórico descer da lua numa noite fria e agourenta, envolvendo o topo da torre e levando o rei tirano e sua rainha inteiramente vivos, porém enlouquecidos, para muito além das estrelas do firmamento negro.
O tempo passaria por anos e séculos antes dos demônios cosmonautas que viajavam na estranha nuvem luminosa e espectral oriunda do lado negro da lua trouxessem de volta ao então mundo da Lemúria o rei Aklathenohm e a libidinosa rainha Arkitília, que involuíram de tal modo, que se tornaram tiranossauros (foi assim que surgiram esses monstros colossais do passado remoto da terra!), e que, no decorrer das eras, involuiriam ainda mais, passando de dinossauros até tornarem-se aquilo que os homens do futuro chamariam... lagartos.

Postagem de 10/06

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Ao Destruidor dos Meus Sonhos




Por Charlise de Orleans

Como poderei agradecer-te por tãos bons momentos...Esses os quais jamais sairão da minha memória... Seu jeito de tocar, seu jeito de beijar..Com você me sinto uma diva...Uma deusa..Amada e respeitada..e como meu Deus? Como pode tudo acabar? Porque você destruiu todos os meus sonhos... Tantos momentos de desejo, tantas loucuras que fizemos juntos. Eu sempre dizia que era louca e apaixonada. Hoje sou triste e melancólica. Triste porque você não está mais aqui..você acabou com meus sonhos...Porque fizes-te isso? Como pode acabar com algo tão precioso? Por uma simples desconfiança, um ciúme sem sentido... Uma dor toma conta do meu coração. Porque você fez isso comigo? Eu estava tão apaixonada... Não tinha olhos pra mais ninguém... E até meus olhos você os rancou.... Olho ao meu redor,só vejo sofrimento..pessoas que como sofrem por um amor perdido..Lembra-se o que fizes-te comigo? Mesmo aqui onde estou... meu corpo ainda têm as marcas que deixas-te com aquele facão... Lembro-me quando dizias... tens um corpo lindo e ele é fruto do pecado... cobiça de muitos homens... algo jamais sonhado pelos fracos homens... e então você levantou o facão para o céu e começou a minha desgraça... acho q a única coisa inteira que restou foi o meu cabelo... algo que o você não podia ferir... e muito mais q isso... MINHA ALMA.... nela não tocaste... e nunca tocarás... espero te encontrar um dia... porque pagarás pelo que me fez.... e muito mais sofrido que possa imaginar... muito mais doloroso e lento... pode apostar... hahahaha... cuide-se... a dor chegará...

Postagem de 10/06

terça-feira, julho 27, 2010

A Criatura do Mar




Por Paulo Soriano

Não sei como sobrevivi. Se é que sobrevivi verdadeiramente.

O Urano, um galeão de bandeira grega, saíra do porto de Roterdã com destino às Antilhas, com escalas em Lisboa e nos Açores, mas foi surpreendido por uma tempestade, a poucas milhas do arquipélago. O dia estava claro e o ar diáfano. Respirava-se uma atmosfera luminosa e pura. Mas, de repente, do nada veio uma neblina fria, pegajosa em seus múltiplos tentáculos, que engolfou o galeão como a mão de um deus inclemente. E depois veio a chuva, uma chuva áspera, pesada, e contínua, encontradiça apenas nas regiões mais agrestes e desoladas dos trópicos. Então ribombaram trovões. Os raios retalharam a neblina como finíssimas garras nervosas. Sentimos todo o casco estremecer, perfurado pelos gumes afiados dos arrecifes angulosos. O casco rompeu-se docilmente, como se a sua substância fosse tênue como o invólucro de um ovo. A água jorrou por todos os lados e eu fui violentamente arremessado ao mar. Embora fosse dia, a névoa densa convolava tudo em treva, e foi com muita sorte que consegui segurar-me a um barril de vinho em que um velho companheiro já havia buscado refúgio.

A tempestade amainou, mas o ar continuava saturado pela neblina fria. O mar estava incrivelmente calmo, mas não nos era admitida a projeção de um olhar capaz de perfurar a espessura de toda aquela névoa. Nada mais se enxergava. Mas, de longe – muito longe, supúnhamos –, o vento trazia uma canção melodiosa, cuja origem nos parecia um mistério tão espesso quanto o eram as brumas circunstantes. Quando, finalmente, a treva se dissipou, tão inesperadamente quanto viera, eu e meu companheiro constatamos que não estávamos sós. Com horror, verificamos, aos poucos, que muitos corpos flutuavam no espelho d’água, bem próximos de nós. Eram marinheiros do Urano e todos eles traziam, singularmente, as cabeças decepadas. Os corpos desolados exibiam os pescoços cruelmente dilacerados. E não nos e era possível estimar a dimensão das mandíbulas que produziram tamanha aberração.

Anoitecia. Oh, como era linda a moça que vinha ao nosso encontro, em seu bote gracioso, para nos salvar! Com que elegância e delicadeza nos estendeu os braços brancos e majestosos! Com que cuidado deu-nos água, vinho e pão! Era ela diáfana como o orvalho da primavera e longos eram os seus negros cabelos, que a brisa enfunava com uma meiguice sem fim. Vestia uma túnica branca, como de deusa grega, que descia do colo e lhe escondia completamente os pés.

Quando a noite veio, repleta de luar, a nossa salvadora acendeu o lume e nos cantou maviosamente, como nos cantaria uma sereia. Quando meu companheiro adormeceu, a musa chamou-me a si e me selou com um beijo calmo e profundo. A princípio doce, saboroso, seivoso... Mas a seiva azedou, ganhou uma consistência de uma gosma, repugnante como o sabor de ostras apodrecidas. Nauseado, o meu companheiro despertou. Fora a intensidade do cheiro pútrido, de criaturas marinhas decompostas, que a mulher exalava, que o fizera acordar-se. A verdade é que eu queria me desvencilhar da criatura, mas não podia. Estava preso a ela como ostras incrustadas nos cascos de navios avoengos. Então a coisa me repeliu. Avançou para o meu amigo, engendrando um bote assustadoramente rápido e eficaz. Seus olhos, que agora eram dois imensos globos de azeviche, refletiram o grito inerme do meu companheiro. E da fralda de sua túnica escapuliu, pesadamente, a cauda de peixe, a mesma cauda que ela tão bem escondera de nós, mas que agora, em sua excitação, pôs-se a abanar num ritmo frenético. Percebi, na luninescência que o candeeiro irradiava, que a pele da coisa se rompia, rasgava-se em tiras, desnudando malhas de escamas sobrepostas, fortemente unidas entre si, mas maleáveis, escuras e fétidas. Seu rosto se fazia bojudo, opaco, guarnecido de fortes e salientes mandíbulas, encrespadas por dentes anavalhados. Então aquilo distendeu assustadoramente os maxilares, de onde escorria uma gosma fétida, e, num assalto voraz, lacerou a cabeça de meu amigo. Com horror, vi que a coisa se punha a mastigar e a engolir ruidosamente, com uma voracidade somente comparável ao deleite que o triturar do crânio lhe produzia.

Depois, a coisa atirou-se ao mar. E, enquanto lentamente se afastava, a Lua me permitia ver que a sereia retomava, aos poucos, do púbis para cima, a bela forma de mulher.

Novamente anoitece. A brumas vieram e agora se dissipam. Estou trancafiado num catre de um pequeno barco pesqueiro. O mesmo que me recolheu, há dois dias. Julgam-me louco. Não me ouvem. Mas, como eu gostaria de gritar aos homens do bote salva-vidas – que consigo divisar da escotilha esfumada desta cela imunda – para que não se aproximem aquela mulher. “Oh! – eu diria – Não socorram aquela coisa de túnicas brancas e cabelos negros! Oh, não socorram o demônio cruel que, como um anjo indefeso, clama por socorro em um bote à deriva!”


Postagem de 10/06


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Submissão




Por Lady Catherine Gordon of Gigth

Lasciva que sou,
Lascivo que és,
Das virtudes desfeita, em meus delírios sorvendo sangue de vossos pés!
Serva perversa em desespero impassível
O lamento em meus lábios,
Amaldiçôo, pobre de mim, minha sorte, meu revés,

Apesar da laje que te cobre, ainda posso ver-te
Do solo fétido, da nevoa de vermes e do gramado verde,
O riso de escárnio breve, gentil verdugo,
Estás na podridão e eu embriagada, sob o teu jugo!
Até o mais vil humano se apiedaria,
Os olhos a revirar no êxtase dos lábios teus!
Meus lábios a venerar da tez de Mármore a glória
Teu aroma em minha carne, teus olhos doces na memória!
Das profundezas meu sangue clama
Meu verdugo, Impiedoso,
Teu olhar malévolo, capuz infame,
O machado sanguinário

Imploro-te, sê o meu sudário!Retorna!
Eis o clamor que regurgito!
Atravessa o cal, quebra o mármore
Irrompe do tumulo, maldito!

Postagem de 10/06

Velorio Dantesco




Por Claudio Soriano e Roberto Brandão


Havia, numa sala jamais iluminada pela felicidade, um móvel escuro, sombrio, pessoal. Tão pessoal que sempre o usamos uma inédita e única vez na vida ... ou na morte.

Um corpo jazia frio e inerte, sem observar — porque não podia — as pessoas que em prantos ali estavam. Elas tocavam o esquife dolorosamente. Muitas adjacentes ao caixão permaneciam. Choviam gotículas garoentas naquela fúnebre cerimônia.

Todos sustentavam a idéia de que ele estivesse realmente morto — porém, não! A catalepsia vem para este infeliz de maneira trágica; a anomalia estréia de forma decisiva.

O cataléptico, jazido ali, em sua geométrica caixa fúnebre, num velório dantesco, não podia ver ninguém, mas ouvia com uma perfeição lupina!

Apavorado com a terrível situação, sabendo de um provável sepultamento, desespera-se com a macabra oportunidade: ao término do prazo de enumação, quando desenterrado for, estará horrendamente revirado, como quem não goste de descansar na tradicional fúnebre posição.

Tenta mover um músculo que sugerisse aos parentes alguma referência de sua existência como vivo, mas não obtém êxito... já não adianta mais! Alguns homens já trazem a tampa do caixão: o selo da morte!


Postagem de 10/06

Ossadas Esquecidas




Por Claudio Soriano


Sob a efígie do monumental deus da morte, Tanatos, estabelece- se a sepultura da criatura humana; a vala que a todos enterra com extremíssima simplicidade.

A estátua marmórea observa atentamente o processo da putrefação. Antes, vivo e alegre a respirar, o homem; agora, crânio e túmulo, ossadas esquecidas, entregues ao tempo.

Assim, Tanatos mais uma vez profetiza: “ O que se ergue do pó, que deste se surge, a ele retorna; engulo todos os homens, inclusive aqueles que não me temem!”

Os outros sepulcros coexistem de maneira secundária, formando uma extensa necrópole. Contudo, seja Tanatos o rei dessa temida vastidão.

Mas, tentando fugir do implacável destino que vos aguarda, caro leitor, não podeis entregar os vossos restos ao esquecimento eterno; algumas ervas daninhas da vida ainda podem ser regadas, pois!

Postagem de 10/06

quarta-feira, julho 21, 2010

Pesadelo




Por Henry Evaristo


Noite passada sonhei com uma invasão de alienígenas. Vi milhões de naves, pequeninas e gigantescas, avançando por sobre os prédios de uma grande cidade adormecida. De algum ponto de uma região rural em que me encontrava, sentia-me impossibilitado de auxiliar quem quer que fosse, meus entes queridos, meus amigos, meus inimigos. Tudo para mim agora se acabava na visão daquelas luzes multicores oscilando por sobre os campos longínquos abaixo de um céu revolto de tempestade. Uma tristeza tão profunda se apossara de mim que o peso em meu peito quase chegava a ser ainda maior que o medo da violência que parecia se avizinhar.

Com lágrimas em meus olhos corri por uma estrada deserta que cortava extensa e sombria região de fazendas antigas e silentes e, à falta de qualquer avistamento de alguma criatura humana, meu corpo tremeu como o de uma criança perdida no escuro de seu quarto quando lá fora o vento açoita os galhos de alguma árvore ancestral que lança sombras como diabos dançantes nas vidraças. Do horizonte chegava aos meus ouvidos como que o zumbido de algum engenho demoníaco misturado aos lamentos dos primeiros homens e mulheres massacrados pelas intenções que se apoderavam da terra. Senti o frio da madrugada ardendo em meus pulmões enquanto continuava avançando por tamanha escuridão solitária, e então me chegou às narinas o hediondo odor adocicado de algum tipo de carne escusa que queimavam ao longe. Junto a tudo, como que para piorar ainda mais meu horror, havia a fina chuva que caia e que tornava o mundo ainda mais soturno e terrível.

A estrada parecia não ter fim e minha exposição naquele lugar aberto colocava cada vez mais minha vida em risco. Eu, porém, apenas conseguia pensar naqueles que me eram caros e que, misteriosamente, naquele momento, se encontravam longe de mim. Meus pensamentos me faziam avançar cada vez mais rápido a despeito das possibilidades de meu corpo que já começavam a me abandonar. Em minha mente via aqueles veículos alados, discos voadores prateados e cinzas, atacando impiedosamente os lugares que me eram caros pelos quais pareciam ter uma nefanda predileção; e contra tudo o que eu mais amava eles incidiam com fúria titânica. Era como uma perseguição cósmica; como se aqueles inimigos houvessem saltado de seu porão no universo para liquidarem especificamente comigo e, em meus loucos devaneios, até mesmo suas caras repuxadas se assemelhavam à minha enquanto apontavam suas estranhas armas para os meus familiares.

Alucinado corri e corri por aquela estrada escura e as cinzas dos mortos da terra me cobriam as vestes ensopadas. Por todos os lugares via agora os executores dos homens. Podia enxergá-los saindo de detrás das árvores que margeavam meu caminho. Soube então, agora mais do que nunca, que finalmente estava só no mundo e a mortificação desta vez me dominou por completo fazendo-me dobrar os joelhos e desabar sobre o asfalto úmido embaixo de meus pés.

Prostrado fiquei no meio daquele caminho que era antes um solitário corredor de campos, fazendas e matas longínquas, mas que agora fervilhava com a presença ominosa de seres metade pássaro, metade peixe. Dominado por um medo mortal, curvei minha cabeça num desesperado sinal de submissão pelo qual talvez tivesse minha vida poupada. Depois de alguns minutos uma daquelas coisas "peixe-pássaro" se aproximou de mim flutuando num uniforme translúcido que deixava a vista sua pele flácida e asquerosa. Ela me olhou e tocou-me com uma de suas mãos... Ou... Patas. Depois falou qualquer coisa com os outros que nos rodeavam e então, ó agonia minha, todas aquelas bestas começaram a rir de mim e apontar-me com suas garras encarquilhadas.

No momento seguinte, todos, de uma só vez, desapareceram. E todo o som e toda a cinza se escoaram junto de forma que tudo voltou a estar imerso em silêncio e calma como estivera antes, em seus dias comuns. Como se nada daquilo houvesse existido, me encontrei só novamente no meio da estrada. Mas um sentimento esmagador de inquietação começava a me dominar para além de tudo o que eu já experimentara até então.

Calado e atento avancei para a cidade e, por onde passei, mesmo depois do amanhecer, jamais avistei outra presença que não fosse a da minha própria sombra se arrastando atrás de mim. Não restara mais ninguém em todos os lugares que visitei e, nos anos seguintes, em minha triste solidão, me aventurei por todos os recantos que me eram humanamente possíveis sem o auxílio de um automóvel; visto que todas as máquinas estavam paradas, queimadas, mortas como o resto do mundo. Porém, suas carcaças continuavam intactas brilhando ao sol como vi em uma enorme rodovia abandonada ao sul: milhares de carros, vans, caminhões; Inertes como se tocados pela morte que toca o homem; E aquilo servia apenas para demonstrar para meus nervos abalados que o poder que viera com os estranhos ainda estava presente de alguma forma e que, algum dia, era provável, seus proprietários voltariam para reivindicá-lo.

Estabeleci-me bem alto em um edifício de luxo quando entendí que agora tudo me pertencia. Com o passar do tempo meu organismo acostumou-se a ingerir e processar os mais diversos tipos de alimentos não comuns ao homem.

Toda noite ia até a janela e observava a escuridão lá fora. Jamais avistei sequer o brilho de alguma ínfima luz no horizonte e as silhuetas dos prédios imersos nas trevas se assemelhavam a terríveis animais gigantes me espreitando do escuro. Do alto, as estrelas com seus fantasmagóricos brilhos bruxuleantes eram as únicas testemunhas de minha agonia; elas e as caras repuxadas que se esgueiravam por trás. Esperava avistá-las, a qualquer momento, olhando de volta para mim em meio às trevas do mundo.



Assim foi o meu sonho... Meu pesadelo. Não sei até que ponto ele faz sentido a não ser como testemunho de nossa solidão eterna em meio à vastidão opressora de um universo mal-intencionado.


Postagem de 10/06


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segunda-feira, julho 19, 2010

Os Ventos do Urrador


O Autor, militante da literatura fantástica, já não se encontra mais entre nós. Posto esse conto, antes já postado nesse blog no começo de sua existencia, como uma forma de manter sua imagem sempre presente e sua obra ao acesso do público.

Por Henry Evaristo

Na tarde em que os primeiros ventos gélidos do inverno sopraram das cordilheiras de Haszdan caminhei com meu velho pai pelos campos e morros de nossa ancestral propriedade. O cinzento do dia e a fina camada de água que nos atingia, umedecendo nossos rostos alvos e nossas vestes negras, nos impeliam a falar de fantasmas e monstros. Como era agradável estar de volta àquele lugar na companhia de uma figura tão majestosa como a daquele ancião encurvado e encarquilhado, ouvindo as velhas estórias que um dia acarinharam e embalaram as noites dos meus tempos de criança! No entanto, agora, os lábios ressecados e encolhidos deste senhor não traziam mais palavras imbuídas da mesma segurança aconchegante de outrora quando o fogo ardendo na lareira, de onde chegava o suave crepitar da madeira em combustão, ou as pesadas portas de carvalho com tramelas, nos separavam das coisas negras do mundo. Antes de tudo, suas frases emanavam no ar sensações macabras; sentenças de medo sobrenatural.

De seres malditos falou meu pai em meio a tarde invernal. Criaturas monstruosas habitantes dos poços e bosques que nos rodeavam; comedores de carnes e almas humanas que se arrastavam e se espojavam encobertos pelas trevas e brumas dos pântanos longínquos. Coisas negras, amortalhadas e flácidas que saltavam de suas tocas, fossas e abismos para avançarem sobre os cadáveres decompostos dos cemitérios da região no esquecimento da noite, na escuridão.

Ai de mim! Jamais poderei esquecer aquela tarde em que o frio parecia me envolver como o abraço da morte que vai penetrando a pele e, esmigalhando ossos e órgãos, avança como um verme dos lamaçais pútridos do Tártaro*.

"Menino!" Disse o velho quando atingimos o cume de uma elevação cujos limites chocavam-se abruptamente com uma lúgubre floresta de árvores negras retorcidas. “Quero hoje, agora que já me encontro no fim desta existência terrena, que você conheça um pouco dos mistérios do lugar em que nasceu". Dito isso, olhou ao redor parecendo então concentrar as vistas em algum ponto perdido no horizonte. Depois, agarrando meu braço com suas débeis mãos, fez sinais para que sentássemos no chão. Enquanto um sol pálido e encoberto começava a rumar para o firmamento enregelado e uma neblina espessa surgia vindo, quem sabe, dos confins dos bosques, ele suspirou e começou:

"Neste lugar, ao qual chamam floresta Malgred, habitam, desde tempos imemoriais, forças que estão além da compreensão e da aceitação humanas. São seres malévolos, visíveis ou não, que se esgueiram livremente por entre as árvores e no fundo das cavernas mais profundas. Alguns estão aqui por opção e se mantém reclusos e quietos, porque em exílio ou retiro, mas outros, os que foram trazidos à força de suas insondáveis vastidões infernais, estes não têm e não querem paz. São os diabólicos resultados dos feitiços e das conjurações deste povo oriental que aqui se estabeleceu quando estas matas escuras ainda dominavam toda a região. Estes, sim, são malévolos! Coisas demoníacas que se escondem dos vivos e a estes odeiam tanto que desenvolveram, ao longo dos séculos, um apetite voraz por suas carnes. Você mesmo ouviu em sua infância as inúmeras estórias sobre os diabos dos bosques de Zalees; esta nossa famigerada cidade que foi criada sob as cinzas das maldições da santa inquisição. Pois eu lhe asseguro, agora que já não tenho muito mais pelo que esperar e o fardo deste maldito conhecimento me fustiga as costas como nunca: Estas abominações são todas reais e estão aqui, agora, nos rodeando e nos espreitando como um leão faminto nas savanas da África. E nós somos suas presas, todos nós, os humanos, pois seu poder quer emanar daquí para o mundo e, para isso, espera apenas o tempo correto."

“Ouça!" Disse meu pai voltando-se novamente para as negras matas distantes que desciam das cordilheiras enevoadas, de onde brotava agora uma estranha ventania. Continuou, então, num tom desolador. " Estes ventos são para nós. Sopram das más intenções destes lugares esquecidos. São os ventos do urrador que chegam a açoitar nossos cabelos. E só isso basta para que nos tornemos parte de sua maldade."

De repente vi estender-se no céu uma terrível mancha escura e como que uma pressão absurda atacou meus ouvidos. Do lado oriental de toda aquela imensidão fria vinha, agora, trazida pelo ar, uma espécie de voz lamurienta; como se fossem milhares de criaturas em terrível agonia que se auto-comiseravam em uníssono.

Olhei apavorado para o velho e ele estava, ao mesmo tempo, sorrindo e chorando. E de seu lábios ressecados pelo tempo e pelo horror pareciam saltar curtas palavras que para mim soavam desconexas e sem sentido ao passo que para ele pareciam ensejar uma espécie de rito ou oração visto que, ao pronunciá-las, fazia sinais mágicos com as mãos em riste. Eu, atônito, começava a sentir toda a minha racionalidade explodindo diante do impossível enquanto que do céu medonho parecia baixar sobre nossas cabeças o presságio de mil caretas de demônios escondidas por entre as nuvens.

Sem saber o que fazer, dobrei os joelhos e juntei-me ao ancião, quase caindo sobre sua figura magra e abatida. Porém, ao procurar aproximar meus ouvidos de seus lábios, a fim de tentar entender o que ele apenas balbuciava seu hálito atingiu em cheio meu rosto provocando uma inevitável onda de náuseas junto com uma constatação terrível que me destruiu por completo. Uma baforada fétida, de coisas hediondas em decomposição, era o que brotava da fenda escura que se tornara sua boca, e seus lábios, antes apenas pálidos, estavam agora roxos e intumescidos, com um aspecto flácido merecedor do mal-cheiro que exalava. Não era mais meu pai, aquela coisa que diante de mim se prostrava. E vi quando de suas costas saltou um bando asqueroso de vermes que pareciam brotar como uma praga das bordas de sua camisa.

Aquela criatura limitou-se a lançar-me um olhar malicioso; uma expressão tão horrenda de sarcasmo e malevolência se estampara em seu semblante que mal pude manter-me encarando-a. Foi quando me voltei para o lugar de árvores retorcidas e avistei, parada, ao longe, uma figura de pesadelo. Envolta em neblinas que desciam de cordilheiras distantes e espectrais, parecendo, ela mesma, tão terrível quanto tudo o que eu já ouvira naquela tarde, estava uma sombra imensa, parada na borda da floresta como alguma divindade que saltasse de bosques oníricos para assaltar o mundo dos mortais. No mesmo instante tive plena certeza de que era dela que brotava o lamurio vindo com o vento.

Subitamente senti um puxão em minhas roupas e o apertar de mãos vacilantes se fechando em torno de meu braço. Virei-me e lá estava de volta meu velho pai, caído ao chão e tentando sofregamente buscar ar em seus pulmões combalidos. Atirei-me sobre ele tentando desesperadamente ajudá-lo a respirar, mas tudo o que fiz restou em vão, pois sua vida não mais a este mundo pertencia. Sua hora chegara ali, naquele lugar condenado e esquecido, onde coisas execráveis faziam suas tocas e esperavam pacientes a hora certa para imporem suas vontades.

Como um animal assustado meu pai olhou-me nos olhos e até hoje suas últimas palavras retumbam em meus ouvidos deixando-me com os nervos abalados em noites em que o vento sopra e assobia nos cantos escuros e carcomidos das paredes da nossa antiga propriedade.

"Agora sois quem guarda o segredo destas matas. É tua a obrigação de guardá-lo bem e transferi-lo aos teus para que nunca se aventurem pelos bosques remotos. Quando as coisas vierem, no meio da madrugada nevoenta, elas procurarão primeiro o portador deste conhecimento maldito e, sejas tu ou teu filho ou teu neto, deve estar pronto a servi-las como está predito, por força de maldição, no inferno. Este é o desígnio que te passo, ó filho meu, com pavor e por obrigação, pois te digo, agora que o oblívio já me alcança, que aqueles velhos feiticeiros orientais que abriram as portas deste mundo às potências do inferno eram também meus ancestrais."

Dito isso, se foi o homem e restei eu, agora único sobre esta terra a sustentar o abominável fardo. Mesmo passados trinta anos daquela tarde invernal, por trás de meus olhos cansados ainda se esgueira a imagem da terrível aparição; A sombra horrenda que sorriu para mim de seu recanto na floresta e depois me deu as costas para voltar ao interior escuro dos bosques deixando atras de si um rastro de árvores retorcidas. Ainda me doi a cabeça ao lembrar de sua careta diabólica reproduzida nas faces mortiças de meu ente mais querido.

Hoje estou velho e meu neto brinca inocentemente nos jardins cinzentos. Em breve terei de partir, mas antes devo levá-lo até as colinas e confiar-lhe o que um dia me foi confiado passando-lhe assim a maldição que se abate sobre nossa miserável família. Às vezes avisto sombras correndo por onde ele corre e figuras malignas saltando por onde ele salta. Estará se aproximando a hora fatídica dos homens do mundo? Estará chegando o dia da divisão desta terra com as entidades imundas? Em breve serão entre nós as legiões do urrador das matas e poços; As coisas negras das missas sacrílegas. Ainda estaremos aqui quando vierem e, por certo, não teremos para onde fugir. Nos subjugarão e apavorarão. E comerão nossas almas.


*- Tártaro: inferno mitológico grego


Postagem de 10/06


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O Sétimo




Por Celly Borges

Numa noite muito quente, Ronald derretia de suor em baixo daquela túnica e do capuz. Queria levanta-lo para enxugar o rosto, mas Joana, sua esposa, o impedia segurando-o pelo braço a cada movimento involuntário de leva-lo à face.
Agora era tarde, pensaram simultaneamente, enquanto olhavam em volta, estavam reunidos em um círculo em uma clareira no meio da floresta densa, com outras cinco pessoas cada uma segurava uma vela. Formavam a união das Sombras. No centro deste círculo, uma fogueira, que iluminava mal e tornava tudo muito sinistro.
– Irmã Joana, chegou o momento, ao lado da fogueira, dois membros da seita estenderam um colchonete, para aproveitarem aquela luz.
Joana olhou para Ronald, que segurou as mãos dela, e a levou até o colchonete. Ela apertou a mão do marido, muito forte. Já não tinha mais certeza se ainda queria aquilo.
Ronald deu um beijo na testa, por sobre o capuz da esposa.
– Irmão, disse o homem que parecia ser o sacerdote da seita, agora nascerá o filho das trevas, o sétimo filho desta família, que aceitou o mais desafio de suas vidas: seguir o verdadeiro Mestre. O Mestre das Sombras!
Joana voltou a sentir fortes contrações, tão fortes quanto as que sentira à tarde, pouco antes de ligarem para o sacerdote avisando do ocorrido, confirmando a reunião para aquele local e horário.
Deitaram-na no colchonete. Ela, ainda com o capuz, chorava desesperada, de tanta dor. Doara todos os seus outros seis filhos, mas estranhamente, lá no fundo, apesar de ser muito fria de bons sentimentos, sentia amor por esta criança.
Depois de algumas horas, a criança nasceu, era um menino. E com o sangue da mãe e o fogo, fizeram o pacto das trevas.
Se algum dia os pais temeram o poder do fogo, agora era tarde, e tudo se transformara em verdade. Logo depois do batismo das trevas, a criança já sabia qual o seu destino: destruir essa bobagem do bem!
Agora o caminho deve ser seguido. Ele é o sétimo, o escolhido! E ele sente. A criança nasceu e vive. Vive para o mal. Pertence ao mal e é o mal!


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quinta-feira, julho 15, 2010

Morte Absoluta




Por Paulo Soriano


Daqui, onde estou, consigo divisar os muros da cidadela. Eles se elevam rudemente a partir de uma grande rocha, que, incrustada no cerne de uma áspera colina, mergulha subitamente num abismo profundo e desolador. Lá embaixo, lançando-se furiosamente contra os rochedos pontiagudos, as águas cálidas e espumantes de um mar sombrio enroscam-se nas fraldas da falésia com o cingir viscoso de uma víbora ondulante e traiçoeira; e, do alto do pináculo, que domina a grande praça, posso ouvir o seu monótono burburinho.
Vejo, perfeitamente, com o único olho que me resta – o outro está irremediavelmente fechado –, o pórtico de entrada, que agora se encontra completamente aberto. Em uma das colunas jônicas, que sustentam o portentoso teto de pedra de cantaria, o meu companheiro de gatunagem encontra-se preso em uma gaiola. Sei que ele ainda está vivo, porque o vejo, vez por outra, deixar cair uma das pernas por entre as grades da pequena jaula oblonga. E ele balança aquela perna esquálida, aquele punhado de osso revestido de pele flácida, como se estivesse a agitar a sede imensa. A sede a que fora condenado a padecer até que a morte adviesse. Mas eu o invejo no seu destino. Gostaria imensamente de estar cumprindo aquela pena infamante, de estar dependurado numa daquelas gaiolas mal-cheirosas que servem de macabro ornato à entrada decrépita da cidadela. Sei que, vez por outras, algumas beatas dão-lhe furtivamente um punhado de água e atiram-lhe poucas migalhas de bolachas duras e mofadas.
De quando em quando, alguém passa por mim e me esbraveja alguns escárnios. Cuspiria em minha face se me pudesse alvejar. Daqui de cima, com o meu único olho disponível, não enxergo o seu semblante iracundo; mas os meus ouvidos ainda estão apurados o suficiente para escutar e discernir a natureza dos impropérios que a mim se elevam. Estou em exibição, não sei há quantos dias, justamente para isso.
As moscas não me incomodam mais. Acostumei-me a elas. Temo apenas que uma beata piedosa escale a escada corrediça, e, por compaixão, feche-me o outro olho. Não gostaria de cair de vez na escuridão.
Mas eis que o verdugo vem subindo o cadafalso. Ele me olha e faz justamente o que eu mais temia. Não por piedade, mas por dever de ofício. Um ofício que ele cumpre muito bem. Ninguém melhor do que eu para saber disso. Agora eu não vejo mais nada. Apenas sinto que ele me suspende pelos cabelos desgrenhados, eleva-me à altura dos seus olhos, e me lança uma merecida escarrada na testa. Depois, atira-me sobre os ombros com indiferença, e leva-me consigo com a praticidade de quem conduz um simples bornal de caçador. Não sei para onde ele vai me conduzir. Eu agora sou um pingente lúgubre em suas mãos de carrasco. O que resta de meu destino – e isto nem um pouco me apavora – está nas mesmas hábeis mãos que empunharam a foice sobre o meu pescoço. Não sei se ele me enterrará. Ou se me lançará falésia abaixo, ao encontro do mar borbulhante. Para mim, tudo isso é indiferente. O meu pavor é outro. Aos poucos, sinto-me privado dos sentidos, mas não da consciência. Em breve serei apenas consciência atirada num fosso escuro e perpétuo, num precipício de silêncio e imobilidade absolutos, onde o tempo recusa-se a fluir. Até quando permanecerei assim? Até quando estarei prisioneiro de meu crânio, escravo de meus próprios pensamentos? Queira Deus que a morte exista. Queira Deus que me sobrevenha a morte absoluta.

Postagem de 09/06


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terça-feira, julho 13, 2010

Zadatoth-Rá




Por Rogerio Silverio

Zadatoth-Rá, o horror nefando e blasfemo que rastejou das sombras movediças das estrelas tenebrosas, lá dos confins de um planeta proibido, de um lugar estranho e distante, muito além, nas profundezas imemoriais do cosmo infinito, a criatura horrenda e violenta de carnes violáceas e putrefatas que, em tempos remotos, assumindo uma forma semi-humana, mutilou toda a vida e toda a infantil esperança na mente e nos corações dos tolos mortais em sua primeira peregrinação pelo nosso velho e amaldiçoado mundo.
Agora que certas estrelas tinham se posicionado novamente, e astros errantes haviam perambulado a certa distância das fímbrias de nossa galáxia, ele estava livre novamente, após a magia da ressurreição infernal das esferas cloacais, dos esgotos virulentos das câmaras de um inferno maldito, vivo outra vez no fútil e patético mundo dos homens para uma vez mais destruir, devastar, matar e invadir os pueris sonhos humanos, levando seus corpos físicos e consciências para a morte ou para além dos jardins negros da loucura, e suas almas para as profundezas do mais negro dos infernos, além da vida e do túmulo.
Como tudo ocorreu, não lembro muito bem. Estou velho e minha memória começa a fraquejar. É tudo muito vago. É tudo como se fosse lembrança de um pesadelo maldito e infernal. Agradeço a Deus por não ter sucumbido nas trevas da loucura, embora há quem duvide disso.
Era o frio de Abril. O frio do sul. O frio da noite sinistra. E num instante seria o tenebroso frio da morte e o frio da loucura a nos envolver como mortalhas gélidas de horror indescritível, inominável.
Era um passeio na floresta, o bosque enevoado e fantasmagórico perto das colinas verdejantes de Porto dos Duendes, meu provinciano torrão natal. O bosque maldito onde no passado remoto seitas sinistras realizavam rituais macabros em sabás terríveis, sacrifícios humanos sangrentos de virgens seqüestradas, imoladas em holocausto a uma entidade malfazeja.
Ao todo éramos cinco. Eu e meus companheiros. Tínhamos ido a busca de aventura. Éramos jovens aventureiros de fim de semana. Era eu, mais o Sérgio Morcego (um vadio e trapaceiro), Juninho (meu sobrinho músico e dado a bebedeiras), Pedro Gambá (um gatuno amigo nosso) e o soturno, esquelético e pessimista Abadias, o mais velho, desempregado há doze anos, corvo sorumbático e macambúzio e poeta nas horas mortas. Todos fracassados da sociedade de consumo, todos derrotados na vida, quase enterrados vivos nas tumbas escuras além da mediocridade cotidiana.
Sim, era o frio de Abril em Porto dos Duendes, a cidade onde a politicagem era a grande geradora de empregos, mormente para os militantes do partido vencedor das eleições, cujos prêmios eram umas belas sinecuras, mamatas maravilhosas em funções públicas inúteis. Mas mesmo assim decidíramos passar o fim de semana fazendo o que mais sabíamos fazer: coisa nenhuma. Sim, o ócio total e irrestrito era a nossa droga predileta, além do LSD e dos chás de cogumelos alucinógenos que conseguíamos a muito custo em certos campos úmidos próximos ao cemitério. Aventuras psicodélicas, desafios à morte simplesmente vivendo as horas que se passam entre o berço e o túmulo, entre esporádicas jornadas alucinantes, desafiando o deus morto dos fanáticos, elevando nossos gritos eloqüentes aos anjos inoportunos que infestam todo sonho malogrado dos inúteis. E rindo-se de nós, em delírio, o lobo astral numa cova qualquer da lua...
Sim, era o frio de Abril. Éramos todos jovens rebeldes e inconseqüentes, e, portanto, dane-se tudo e todos, amém, e que o inferno da mediocridade e da loucura sem sentido acolha a todos, independente de credo, cor, raça e posição social.
Jamais podíamos acreditar que os portais seriam abertos naquela floresta aziaga, e que uma criatura terrível atravessaria o tempo e o espaço num piscar de olhos. Chaves mentais de alguma forma foram usadas por nós, dando acesso a um túnel hiperespacial, se é que me compreendem. O que eu quero dizer é que conseguimos, de algum modo, estabelecer contato direto com Zadatoth-Rá, e assim selamos nosso fadário, pois ele voltaria ao nosso plano de existência para nos matar a todos, numa orgia de sangue e morte.
Depois de usarmos o LSD e os chás de cogumelos retirados de bostas de bois e cavalos como catalisadores mentais e espirituais perigosos, depois de viajarmos por mundos alucinantes de outras dimensões, aqui mesmo na terra, abrimos o portal interdimensional, assumimos nossos destinos, os destinos negros daqueles que ousam ver coisas que não deveriam jamais ser vistas por olhos sãos.
A criatura atravessou os vácuos siderais, a quarta dimensão, e veio para a Terra, foragida de um mundo distante chamado Margziaumbar. Disse seu nome e sua intenção. Matou Sérgio Morcego, devorando-lhe a cabeça como se fosse uma goiaba cuja polpa era formada de seus miolos e de seus sonhos fracassados.
Juninho passou a pintar quadros de um mau gosto terrível, grotesco, e depois virou um ermitão e sumiu e nunca mais foi encontrado. Pedro Gambá e Abadias enlouqueceram. Quanto a mim, fui preso, acusado de assassinar o Sérgio Morcego.
Hoje estou na prisão, aguardando a sentença de uma juíza que pensa ser uma deusa da terra. Meu advogado está lutando para me tirar das grades. Desconfio que seja um rábula inútil e traidor, pois é época de eleição novamente, e a situação precisa de um bode-expiatório para que a demagogia se faça presente outra vez em Porto dos Duendes.
E o maldito Zadatoth-Rá continua lá, na floresta maldita, sempre a espera de novos jovens aventureiros de fim de semana...Até quando, não sei. Só sei que dentro em breve ele destruirá toda a raça humana; ele espera, como se quisesse nos torturar com o medo, a expectativa de morte.
Compreendam-me. Estou dizendo a verdade. E não sou louco! Não sou louco, ouviram, seus néscios!...
Por que não vão até lá, ver com seus próprios olhos que um dia os vermes devorarão, para ver que eu estou dizendo é pura verdade? Por que não enfrentam os horrores da floresta onde mora, agora, a maligna, a feroz, a imbecil besta-fera das sombras de uma galáxia desconhecida, muito além do sonho e das negras esferas da loucura humana, uma criatura maldita e perversa chamada Zadatoth-Rá?

Postagem de 09/06

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domingo, julho 11, 2010

O Espelho Obóveo




Por Paulo Soriano

“Vi mais longe do que era permitido”
Friedrich Nietzsche


- Eu não sou cego de nascença – disse ele, provavelmente afagando as barbas que, supunha eu, a partir do exame de seu caráter, deveriam ser medonhas. – Queres saber como perdi a visão?
Ora, eu não havia perguntado nada e não tinha a mínima curiosidade de sabê-lo. Mesmo assim, ele continuou:
- De certa forma, foi um “suicídio da visão”.
Eu nunca havia ouvido tanta parvoíce em minha vida. Mesmo assim prestei atenção.
- Quem era eu? Um ocultista muito pouco famoso. E, decerto, o mais fiel discípulo de Narciso. Porque, além de alfarrábios cabalísticos, colecionava espelhos tal qual um filatelista renomado disputa selos raros. Em uma viagem a Roterdam, fiquei sabendo da existência de uma relíquia milenar. Era um pequeno espelho oboval que, segundo um respeitadíssimo e honesto antiquário, seria assírio e havia pertencido a Milton e a John Dee. Tratava-se de um pequeno objeto metálico, emoldurado em cedro, de superfície côncava e opaca. Em nada se assemelhava a um espelho. Mirei-me nele, mas o objeto não refletia a minha imagem. “Definitivamente – disse eu ao vendedor –, isto está longe de ser um espelho.” Então ele me confidenciou: “É uma justa constatação. Mas é preciso que saiba o senhor que este espelho não reage à luz. Reage à alma.” Eu era, então – e literalmente –, um homem desalmado, porque nada pude vislumbrar naquela superfície turva. E foi isso o que eu disse ao vendedor. Kelley – assim ele, ironicamente, se dizia chamar – me sugeriu que levasse a preço vão o “raro” objeto (mas que a mim me parecia simplesmente “lançadiço”) e que o observasse em plena escuridão noturna. Foi o que eu fiz.
- Antes de recolher-me – prosseguiu meu singular interlocutor –, apaguei todos os lumes. Nem um bico de gás, nem uma vela me escapou a uma atenta e minuciosa vistoria. Fiquei, portanto, na mais completa escuridão. Olhei para o espelho obovalado e, então, contemplei monstruosidades. Sim, do fundo do objeto veio uma luz tão incisiva, tão extraordinariamente cintilante, que, a um impacto ofuscante, me causou um desequilíbrio d’alma, seguido de uma confusão mental de difícil restabelecimento. O objeto prendeu-se à minha mão como um ímã. E de sua superfície airosa vieram, aos poucos, depois que a luminosidade estonteante arrefeceu, as imagens que o espelho sugava de minha alma, e as recompunha em conformidade com a minha real e íntima aparência. Ah! O choque foi tão profundo que perdi de imediato os sentidos. E, quando despertei, verifiquei, para o meu horror, que o ser hediondo – o ente abominável refletido naquela superfície espectral – congelara-se nas minhas retinas e mergulhara definitivamente em meu cérebro. Não, não peças que eu descreva tamanha monstruosidade e abjeção! Até hoje não enxergo outra coisa senão a terrível imagem, a representação disforme, infame – porém fiel –, de minha desgraçada alma!
Não sei se o homem era louco. Sei apenas que ele se ergueu e, com o tato de sua bengala, percorreu o longo corredor que dava acesso aos livros escritos em Braile. Mas virou-se para mim por um instante e concluiu:
- Tenho inveja da escuridão eterna dos teus olhos. Aqueles meus eu já os arranquei, inutilmente, com os gumes destas unhas. Porque é a minha alma que se reflete e enxerga-se a si própria, como um estigma perpétuo e indelével, e que nem os sonhos logram esvair. Vi mais longe do que era permitido.


Postegem de 09/06

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O Lamento da Carne




Por Celly Borges


Na noite em que a mente implorava o eterno descanso,
minha única visão do imundo se fechou, cedendo o curso
ao verme que se desenvolve, propaga-se
na matéria orgânica em decomposição que sou.


A imagem negra me transmite suas
maledicências alterando profundamente a imagem,
recheando-me depois de saborear-me
entregou-me a escuridão como única vitória!

Postagem de 09/06

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Chacina na Escola Leite de Barros




Por Linx


Ele estava cheio, não agüentava mais tudo aquilo. Por que aquilo tinha que acontecer com ele? Bem ele não sabia, mas tinha que dar um basta, mas não sabia como. J. era um garoto, que como muitos sofria com o bullyng, ou seja era um excluído pelos colegas. Começou tudo na sua infância, quando entrou na escola, onde depois de um tempo, já era o motivo de piada de todos. Claro que no começo era tudo leve, brincadeira de crianças, mas tudo foi piorando e logo vieram as verdadeiras humilhações, as meninas magoando seus sentimentos, as surras, teve que enfrentar todo tipo de brincadeiras e engolir tudo seco, ele sabia muito bem que não podia fazer nada. Nem em casa encontrava a paz que procurava, pois seus pais tinham um casamento ruim e viviam brigando e por muitas vezes sobrava para ele e por muitas vezes teve que ouvir ofensas dos seus pais que ele não esperava ouvir nem do seu pior inimigo. Mas ele não agüentava mais aquilo e tudo o que vinha a sua mente agora era sair e fugir de tudo. Era mais um dia das férias e ele olhava a janela de seu quarto. Estava aliviado que seus pias não tinham brigado mais uma vez e que tudo estava em paz, pelo menos momentaneamente na casa. Olhava tudo e pensava em sua vida, mas só o que vinham eram lembranças tristes, desilusões, mas ele sempre pensava que tudo iria melhorar, que tudo passaria e um dia seria feliz. Ele tinha projetos, grandes projetos e sabia que conseguiria, afinal era muito inteligente, mas projetos são futuros e agora ele queria algo para o presente. Olhou então a floresta, na verdade um monte de arvores e mato que ficava a uns três quilômetros da sua cãs e que se via dali como se fosse uma mancha verde no meio de todo aquele asfalto. Porque não ir lá? Lá não tem ninguém, pensava ele, ninguém via fazer nada comigo lá, é vou até lá. Pegou sua mochila, saiu de seu quarto e desceu as escadas, pegou algo para comer no armário e guardou na mochila, disse a sua mão que sairia, ela estranhou um pouco, mas disse que se cuidasse e que podia ir sim, estava incrivelmente feliz hoje, quer dizer para seu estado natural aquilo era um incrivelmente feliz. Saiu de sua casa e sentiu o vento batendo no seu rosto, era a sensação de liberdade que tanto queria. Ele sabia por onde ir, para não encontrar ninguém, tinha seu atalho, que na verdade não era bem um atalho, pois deixava tudo mais longe, mas pelo menos não iria lhe acontecer nada no meio do caminho. Depois de uns trinta minutos de caminhada, onde quase acabou esbarrando em um grupo de estudantes, cujo no meio deles estava um de seus velhos amigos, que com certeza não perderia a chance de lhe cumprimentar, chegou na floresta. Era tudo quieto ali, e também um tanto sujo, mas para ele era o lugar mais confortável que já estivera e também o mais seguro. Começou então a andar pelo meio dela; era um lugar não muito grande e se você seguisse reto chegaria ao outro lado em menos de uma hora de caminhada(o que também evitava que qualquer um se perdesse), mas dando umas paradas e desviando um pouco para um lado e para o outro ele caminhou ali quase a tarde inteira, até decidir que infelizmente era hora de voltar e naquela hora parecia ir para a forca, pois ali por uns instantes sentia algo próximo da verdadeira paz de espírito, mas tinha que voltar, senão levaria bronca da mãe e ele sabia o quanto isso era ruim. Sentou-se então em uma pedra antes de ir, e ficou olhando em volta, o chão, o céu, as arvores, até que algo lhe chamou a atenção entre as folhas no chão. Revirou um pouco elas e descobriu que era velhos papéis, nada de importante pensou ele. Levou perto dos olhos e leu um pouco e ao contrario do que pensou, era sim algo muito interessante. Nos papéis descrevia-se um ritual, uma espécie de feitiço, provavelmente satanista, pois os matérias, um pentagrama, velas roxas entre outras coisas, e as palavras de conjuração, em latim, mas que ele entendi muito bem, graças a um curso que ele fez na igreja, que no fundo eram invocações de seres das trevas. No final havia também uma anotação que dizia que aquele feitiço, quando conjurado por alguém, dava a aquela pessoa poderes sobre-humanos. Seus pensamentos foram então aos dias de suas humilhações e as lembranças de todas as vezes que teve vontade de se vingar e nas suas mãos tinha algo que podia lhe dar sua vingança. Não, ele pensou, jogando aqueles papeis no chão, como ele poderia fazer alguma coisa daquele tipo. Ele podia não ter religião, mas acreditava em Deus e em um céu. Mas o que Deus tinha lhe dado até aquela hora?, pensava ele, o que, humilhações? Aquilo não tinha aparecido a toa, deveria ter um motivo. Vou pegar, mas não vou fazer nada, vou apenas pegar e guardar na minha mochila, só isso, não vou fazer nada. Caminhou mais um pouco e chegou exatamente onde saiu, parou um pouco olhou aquela floresta e se virou indo embora. Estava quase chegando em casa e graças a Deus não estava muito tarde, na verdade não eram nem cinco horas da tarde, mas ao virar para ver algo e voltar deu de cara com T. um dos garotos que mais gostavam de humilhar ele com mais dois amigos e duas meninas, uma delas sua namorada. Tentou até correr no outro sentido, mas eles o alcançaram sem muito esforço.
— E ai J., onde vai? — Pra casa, porque algum problema?
— Não cara, calma. Eu só queria conversar um pouco
— Mas eu to com presa. Disse ele tentando passar, mas impedido por eles
— Calminha vamos conversar. Disse T. com a mão em seu ombro.
— Fala então
— Sabe o que é, a gente não tem dinheiro e queremos sair, então eu pensei, será que o J. não pode me emprestar?
— Eu não tenho
— Não mente cara. Disse um outro garoto, segurando J. pela camisa. Dá a grana!
— Já disse que não tenho! Gritou J. se soltando
— Ah é. Disse T. se aproximando. Então quero ver da aqui sua mochila
— Não!
— Me dá logo. Disse T. puxando ela
— Não! Gritou J. tirando da mão de T. sua mochila.
— Me dá logo! Gritou T. dando um soco no rosto de J., fazendo ele cair no chão
— Deixa eu ver. Disse o outro garoto, tirando a mochila de J., que até tentou reagir, mas acabou levando um chute de T. não tem nada. Disse o garoto jogando a mochila no chão
— Deixa ele. Disse uma das garotas olhando ele com cara de desprezo. Ele é um perdedor, não percam tempo com isso vamos logo.
— É isso ai, vamos embora.
T. ainda deu um chute nele antes de se virar rindo e sair dali com os outros. J. ficou um tempo caído, mas logo se levantou. Quase nem sentia seu corpo doer, estava com muito ódio e não conseguia pensar em outra coisa se não se vingar, matar todos que o humilhavam a tanto tempo, mas dessa vez não era como antes que ele não sabia como fazer sua vingança, dessa vez ele tinha o meio, ele tinha o ritual. Chegou em casa e subiu para o seu quarto sem falar com ninguém, foi até um esconderijo onde guardava suas economias (que no começo ele economizava para comprar uma arma) e viu que tinha o suficiente para comprar o que ele queria, pensou então como faria sua vingança enquanto olhava seu dinheiro. Amanhã ele compraria tudo e daria tempo suficiente para ele fazer o ritual antes de começar os dias de aula. Naquela noite ele dormiu muito bem apesar de seu corpo doer muito e seus pais terem brigado a noite inteira. Ele acordou um tanto tarde no outro dia, já passava provavelmente das onze. Estava mais calmo, não tinha mais aquela fúria que o dominou ontem, nem mesmo vontade de se vingar de ninguém. Levantou da cama calçou seus chinelos, sentiu até seu corpo doer, mas não se irritou, foi até o banheiro lavar seu rosto e escovar seus dentes. Desceu as escadas de casa e foi até a cozinha comer algo, pois ele queria sair rápido e não tinha vontade nenhuma de almoçar aquele dia. Ele queria voltar a floresta para refletir um pouco como ontem, mas antes queria comer. Sua mãe estava sentada na mesa escolhendo o feijão. Ela não tinha reparado ontem como ele tinha chegado, mas agora via a marca em seu rosto.
— Apanhou de novo? Disse ela, já demonstrando que não estava com o bom humor de ontem.
— Sim, mas não foi nada. Disse ele passando a mão no rosto
— Sei. E o que você fez?
— Nada, o que eu iria fazer, eram três
— Nem se fosse só um né J.
— É.
— Você é mesmo um inútil. Todo mundo te bate e você não faz porra nenhuma
— Cala a boca. Disse J. baixo se levantando
— E não me manda calar a boca! Gritou sua mãe, lhe dando um tapa no rosto
J. não fez nada, apenas se virou e subiu para seu quarto ouvindo os gritos de sua mãe. Aquela fúria de ontem tinha novamente o dominado e a idéia de fazer o ritual havia voltado a sua mente. Foi até seu quarto e ficou sentado no chão tapando os ouvidos, até sua mãe parar de gritar lá de baixo para ele. Pegou então o dinheiro, colocou em sua mochila, junto com os papéis do ritual. Desceu correndo as escadas, sua mãe até ia começar a falar, mas ele saiu correndo batendo a porta atrás.
— J. aonde você vai? Gritou sua mãe ao abrir a porta e ver J. já na asfastando-se
— Lugar nenhum.
— Espera então você voltar de lugar nenhum que a gente vai conversar.
— Você nem sabe o quanto eu quero essa conversa. Disse J. baixo o suficiente para sua mãe não ouvir
Caminhou mais rápido, até não conseguir ver sua casa, acalmou o passo e seguiu. Cortando caminho por vários lugares (um dia não vou ter que fazer isso, pensava ele), chegou em uma loja onde ele sabia que se vendiam coisas esotéricas, de bruxaria, e outras coisas mais, sabia que ali teria o necessário ao ritual. Entrou na loja e pediu tudo o que queria. A vendedora, uma gótica um tanto sensual, estranhou um pouco mas pegou tudo. J. ainda pediu um punhal, desses prateados, além de tudo aquilo. Pagou tudo, guardou as compras na mochila e foi embora. A caminhada para a floresta dali era grande, ainda mais evitando alguns lugares, mas logo ele chegou. Se embrenhou um pouco mais adentro até chegar num lugar onde havia espaço e limpeza suficiente no chão para se executar o ritual. Sentou-se no chão mesmo e retirou os materias, mais as folhas. Entendeu o pano no chão, colocou o pentagrama em cima do pano, voltando duas pontas para cima e uma vela na frente de cada ponta do pentagrama. Colocou o anel, de prata, no centro do pentagrama, então ascendeu as velas com um isqueiro. Levantou-se e começou a pronunciar as palavras de conjuração. Um vento forte começou a soprar, e os animais da região foram ficando agitados. Conforme ele pronunciava aquelas palavras em latim, o vento aumentava. Pronunciou a ultima palavra, os ventos então cessaram, os animais pararam e as velas então se apagaram. Sua visão ficou escura por um tempo, mas logo voltou. Ele estava meio cansado, como se tivesse corrido um bom caminho e teve vontade de sentar. Olhou então para o feitiço no chão; o pano havia virado cinzas, como se tivesse pego fogo, apesar de ele não ter percebido o pano ter se incendiado em, nenhum momento. O pentagrama estava retorcido, com as pontas voltadas para o centro, formando uma espécie de gaiola ao redor do anel. O anel que antes era prateado, agora era preto, um preto brilhante e muito bonito. J. então pegou o anel, que estava quente, mas não insuportável. Olhou um pouco para ele, se levantando ao mesmo tempo, então o colocou. Algo invadiu seus pensamentos e seu corpo, algo quente, como se ele estivesse pegando fogo. Vinham na sua mente momentos de humilhações, muitos momentos, enquanto seu corpo esquentava mais. Começou a sentir uma dor, que começou a ficar cada vez mais forte, até se tornar insuportável. Ele deu um grito, que ecoou por toda floresta, caindo no chão. A dor então passou, ele se levantou, mas já não era mais o mesmo. Seus pensamentos eram rápidos, e só o que tinha na mente era ódio e vontade de matar. Seu corpo agora era forte e rápido. Começou então a correr pela floresta. Ele se sentia o ser mais poderoso do mundo, podia fazer o que quisesse, gritava então aquilo para os ventos. Corria mais rápido que qualquer ser humano normal e depois de uns vinte minutos sem perder o ritmo, nem ao menos tinha se cansado. Saiu então da floresta e foi correndo até em casa. Não usou atalhos dessa vez, mas não encontrou ninguém pelo caminho, por mais que quisesse. Ao ver a porta de sua casa já estava até escuro, devia ser umas sete horas e sua mãe e seu pai provavelmente o esperavam para falar com ele. Se aproximou da porta pegou sua mochila das costas e tirou dela aquele punhal, segurou pelas costas e abriu a porta.
Ao abrir a porta deparou-se com seus pais na sala, sentados no sofá e provavelmente brigando. Ele entrou e ficou parado diante da entrada da sala, olhando os dois, até eles perceberem que ele estava lá. Os dois olharam ele com desprezo e raiva, enquanto J. guardava o punhal atrás de sua camisa, por dentro de sua calça.
— Onde você estava. Disse sua mãe.
— É moleque, como você sai e não diz onde vai? Acha que manda em alguma coisa?
— E você acha que é alguma coisa? Disse J. com um meio sorriso.
— O que você disse? Disse o pai de J. já se levantando
— O que ouviu, ou também ta surdo?
— Filho da puta!
O pai então se levantou completamente, caminhou até J. e lhe deu um tapa, tapa que nem chegou a tocar no rosto de J. que aparou a mão do pai e a apertou com tanta força que se pode ouvir o som dos ossos quebrando. O pai de J. gritou, enquanto J. apenas ria. O pai tentava se soltar, mas foi arremessado contra a parede antes de conseguir se soltar. Ele bateu nela quebrando costelas e um dos braços, ficando estendido no lugar onde caiu da parede. A mãe tentou se afastar dali, estava com muito medo do filho. J. percebeu a fuga da mãe e correu em sua direção. Ela tentou corre, mas logo ele estava na sua frente. Colocou a mãe contra uma das paredes, com uma mão de cada lado dela.
— Vai a algum lugar mamãe?
— Filho, porque ta fazendo isso? Perguntou a mãe chorosa
— Porque eu te odeio. Você e todo mundo que me humilhou toda vida. Agora é minha vez, chegou a minha vez
— Não filho, por favor! Gritava a mãe, tentado sair dali.
J. tirou o punhal das costas, enquanto sua mãe tentava fugir desesperada. Ele levantou o punhal ante sua mãe e lhe golpeou no ombro, encravando todo o punhal dentro dela. Ela gritou alto enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto. J. tirou o punhal dela e lhe golpeou novamente, dessa vez em um dos olhos. Ela gritava muito e pedia para que J. parasse, mas ele não era mais o mesmo, aquele não era mais o J., havia ali apenas uma parte de sua alma, a parte maligna, cujo o único objetivo era se vingar e matar todos que lhe feriram um dia. Sua mãe desfaleceu com tamanha dor, J. então a jogou no chão.colocou sua mochila em um canto e levou os pais a cozinha. Amarrou os dois em cadeiras, uma com o encosto voltada para a outra. Esperou então que os dois acordassem para continuar.
— Acorda! Gritou J. levantando o cabelo do pai
— Filho, porque tudo isso? Perguntou o pai com uma vez carregada de medo
— Já disse! Eu odeio todo mundo! Eu quero matar todos! É a hora da minha vingança! Gritou ele com toda força e golpeou o pai com o punhal na altura do estomago
— Não! O pai conseguiu proferir esse último grito, mas não demorou muito e estava morto.
— Filho por favor para com isso! Gritou sua mãe em meio ao seu choro desesperado.
— Parar por que? Eu to me divertindo muito, se você quer saber.
— Filho...
— Mamãe...
J. beijou o rosto de sua mãe e lhe golpeou no coração. Ela gritou e seu grito foi interrompido pela mão de J. em sua boca. Ele segurou ela por um tempo, até sentir que ela havia morrido também. J. então apreciou aquilo tudo durante um lapso de tempo, colocou o punhal em cima da mesa e foi até a sala, onde se sentou e esperou o dia clarear para ir a escola e terminar sua vingança. Os vizinhos até ouviram os gritos, mas nenhum chamou socorro, pensaram que era mais uma briga e por experiências passadas sabiam que o socorro não adiantaria, muito pelo contrario, apenas pioraria a situação. J. permaneceu acordado a noite inteira. Na sua mente só pensava em como mataria cada um de seus colegas, nada mais pertencia aos pensamentos de J., apenas aquela vingança doentia. O dia estava clareando e J. subiu até seu quarto para trocar sua roupa, pois a que usava estava suja com sangue, o sangue da vingança, pensava ele. Desceu rapidamente, e saiu tão depressa quanto, antes passou na cozinha e pegou o punhal que havia deixado em cima da mesa, pegou a mochila que havia deixado no sofá e partiu para terminar sua vingança. Correu até a escola, sem encontrar ninguém pelo caminho. Saiu tarde o suficiente para chegar lá quando já tivessem chegados todos e não houvesse ainda começado aula.
J. chegou a escola e o portão estava quase se fechando, mas conseguiu entrar. Um grupo, aquele mesmo mas um pouco aumentado foi um dos primeiros a ver J. apontando no corredor que dava ao pátio central da escola, onde os alunos ficavam reunidos antes de começar as aulas. Um riu para o outro.
— Olha lá o J. disse T.
— É que tal darmos as boas vindas, o que vocês acham?
— Eu acho uma boa. Coitadinho precisa de apoio. Disse uma das meninas com um meio sorriso, despertando uma risada coletiva.
— Vamos lá galera. Disse T. caminhando na direção de J., que agora estava sentado em uma mureta. Seus amigos foram atrás, queriam participar ou pelo menos apreciar o espetáculo
Chegaram perto de J. Dois se sentaram ao lado dele, T. ficou em pé na sua frente e os outros cercando ele. Algumas pessoas repararam o movimento e chegaram perto também; iria ter show, diziam entre elas.
— E ai J. Disse T. com seu tom de sarcasmo natural ao se referir a J.
— E ai T. Disse J. com uma voz um tanto diferente, mais grave e rouca, e uma atitude um tanto anormal a que T. e a maioria vê J. tendo com as pessoas
— E ai T.? O que deu em você hoje, perdeu o respeito. Disse ele se virando para trás e rindo para seus amigos
— Respeito com um lixo como você e esses seus amigos retardados que te seguem? Deixa de ser idiota.
— O que disse? Disse T. agarrando J. pelo colarinho
— Me solta seu lixo! Gritou J.
— Se eu não soltar vai fazer o que seu porra.
— Isso. Disse J. apertando os punhos de T., fazendo os ossos dele se quebrarem com toda facilidade, como quando alguém quebra uma vareta.
— Desgraçado! Gritou T. abaixando as mãos. O que você fez?
— Nada, porque T. doeu? Disse J. com um meio sorriso, que agora o acompanhava.
— Seu filho da puta!
— Concordo. Aquela vaca é mesmo uma puta
— Ai machucou o cara, vai se ver com a gente
— To pagando pra ver
Um deles se aproximou, tentando lhe dar um soco, mas J. desviou e lhe acertou um soco no estomago, que fez ele cair, se retorcendo de dor. J. ainda lhe deu um chute no rosto que fez sangue da boca dele sujar todo o chão, lhe quebrando quase todos os dentes e vários ossos da face. Alguns agora se afastaram, a não ser alguns mais amigos de T., que tentaram partir para cima dele. J. então tirou o punhal das costas novamente e golpeou no estomago um, passou por ele e acertou na cabeça de outro, encravando punhal todo em sua tempora. Retirou o punhal dele, enquanto a gritaria começou a se instalar. Pessoas corriam de um lado para o outro, incluindo os amigos de T. J. então olhou para T. que estava parado, perplexo na sua frente.
— Então T., ta gostando da festinha?
— Cara para com isso
— Eu não, ta tão divertido, todas essas pessoas correndo.
— Você é louco cara.
— Louco? Disse J. jogando T. no chão e lhe colocando o punhal no pescoço. Acha que eu sou louco, se tivesse sofrido o que sofri não acharia isso
— Não me mata cara.
— Tudo bem, vou te deixar vivo. Disse J. lhe tirando o punhal do pescoço. Pensando bem...
J. então afastou o punhal e com um golpe violentou lhe enterrou no pescoço, fazendo o sangue jorrar em seu rosto. J. limpou o rosto e se levantou. Viu então uma das meninas sentada, como que em choque, perto da cena, tentando se esconder com as mãos no rosto. J. então se aproximou e agarrou sua mão. Disse no se ouvido que iriam dar um passeio. Ela tentava gritar por socorro, mas ninguém ouvia. J. a arrastava com força, força que ela não podia. Ela começara a chorar e J. não dizia nada, apenas a arrastava enquanto olhava aquela correria e mantinha aquele meio sorriso diabólico em seu rosto. J. a levou para fora da escola, e a arrastou mais uns metros até um velho galpão abandonado. Estava trancado com um cadeado enferrujado que com muita facilidade J. arrancou. Entrou com ela lá dentro e a jogou em um monte de sacos de terra. Deitou-se por cima dela enquanto guardava o punhal nas costas.
— Você era a que T. comia, não era?
— Por favor não faça nada comigo. Dizia ela em prantos
— Não fazer nada. Acho que não. Disse J. lhe tirando a calcinha
— Para por favor.
— Vou parar, assim que eu acabar
J. se afastou um pouco e retirou as calças, voltou a se deitar em cima dela. Ela gritava e chorava para que ele parasse e ele apenas continuava, cada vez com mais força e apenas rindo daquilo tudo. J. então levou sua mão até as costas e pegou o punhal, levantou a garota e lhe deu um golpe nas costas. Ela gritou e ele com toda força continuava a lhe penetrar. Desferiu mais um golpe e mais outro e mais outro..., mas esse havia sido fatal, não só para como para ele também. O golpe havia atravessado ela e atingido ele no coração. Ele a jogou nos sacos de terra e olhou seu peito que agora sangrava muito. Sentiu sua vista ficando escura e seu corpo pesado, caiu no chão e depois de um tempo de agonia, morreu, junto com a garota. A policia encontrou os corpos dos pais de J. no mesmo dia ao ir procura-los para lhe contar sobre seu filho e lhe fazerem perguntas, o corpo de J. e da garota foram encontrados no outro dia. Para todos os investigadores havia sido um crime motivado pelas brincadeiras dos colegas para com ele. Nunca foi encontrado nenhum sinal do ritual e o anel no dedo de J. havia sumido quando seu corpo foi encontrado. Os papéis do ritual foram esquecidos por J. após o ritual na floresta, e lá está até hoje esperando alguém o encontrar, esperando...

Postagem de 09/06

O Blog está de volta (só não sei até quando)

Devido ao numero de visitantes que o blog tem apesar de estar sem publicar nada a muito tempo, estou reabrindo o blog.

Não, esse blog não será mais o blog da Irmandade das Sombras, mas um espaço para publicação de material sombrio, insolito, surreal, fantástico, enfim um espaço de literatura.

Para começar irei republicar materias antigos postados aqui no blog, para que os novos visitantes venham a conhecer o material dos escritores que já passaram por aqui.

Também desejo que o espaço torne-se um espaço livre para que todos que quiserem publicar algo, seja um conto, uma poesia ou até mesmo o link de seu blog pessoal, possam publica-lo. Para isso, informo que o e-mail da Irmandade das Sombras está ao lado, caso queiram entrar em contato para quaisquer situação.

Caso algum autor se sinta ofendido de ter seu texto republicado entre em contato com o blog para que seu texto seja removido.

Enfim, desejo que este espaço se torne um espaço livre para publicação de textos, um espaço onde a velha Irmandade possa ser lembrada e que, quem sabe um dia, que o espaço se torne um local de reunião de escritores, leitores ou de quem quiser vir.

Abraços a todos!