quarta-feira, janeiro 30, 2008

Eis que Chamei o Escuro para Testemunhar meu Renascimento

Esse conto foi escrito pelo amigo Cayus (C.M.poco.) continuando a obra de Henry. Um conto primoroso, vale a pena le-lo!

Por C.M.poco.

ESTA É UMA HOMENAGEM A MEUS MAIS NOVOS AMIGOS QUE ME INSPIRAM, ME INCENTIVAM E PRINCIPALMENTE ME ACEITAM COMO SOU E O QUE SOU.


" Im Reich Der Farbtöne agora entraremos, e não mais dele sairemos. Escolhestes vós, ó mortais, viver segundo o conselho dos fantásticos. Arcai agora com o peso dos segredos obscuros. Saboreai seu amargo deleite nas incomensuráveis trevas. Chamo agora diante dos que me invocaram o primeiro manuscrito da nova era."
Tais eram as palavras da criatura que Richmond, outrora incrédulo, agora tremia diante da situação tão singular em que se encontrava. Harmony nunca tivera dúvidas quanto ao sucesso de sua missão, mas agora vendo as consequências de tal sacrilégio refletia se realmente havia tomado a decisão correta. Para todos os efeitos, era tarde demais.
"Porunactum, ocsianort. Redrum invicti rinu
Mene, mene, taquel ri parsim.
Sent vás todunarum!
Coruegai atod redrum"

Aquela voz era diferente de qualquer outro som conhecido pelos homens. Toda a multidão observava atentamente cada gesto e movimentação do ser, enquanto este pronunciava palavras que só poderiam proceder dos rituais mais macabros da face da Terra. Mesmo entre todos os feiticeiros, bruxos e magos que se encontravam ali presentes, ninguém era capaz de traduzir sequer uma sílaba dos conjuros sentenciados pela irmandade. Harmony não podia sequer falar, tantas as emoções que seu corpo provava naqueles instantes que pareciam eternos.
De repente, o céu começou a escurecer violentamente. A noite de lua cheia deu lugar ao negrume das nuvens que cobriam todos os arredores do castelo. Aquela cena de horror se estendia até onde os olhos humanos podiam enxergar. Um vento forte ecoava nas árvores ao redor produzindo uma marcha fúnebre infernal, anunciando o caos que estava por vir. O povo começava a ficar agitado. A irmandade estava calada e apenas observava a sequência de fatos desencadeados por seu canto diabólico. Naquele corpo disforme via-se uma expressão de satisfação, que levemente lembrava um sorriso.
" Meu senhor, meu senhor. O que fizeste! Tal fizemos para despertar-te de teu sono e agora com que nos retribui?"
Richmond falava com imenso temor na voz, demonstrando o sentimento mútuo de todos ali presentes. Só mesmo Harmony conseguia manter-se em total estado de tranquilidade, como se aquela cena fosse a coisa mais natural por ele presenciada. Tidas as circunstâncias, qualquer um diria que ele também não era humano.
" Cala-te um instante mais, mortal. Não temas por tua vida insignificante e aguarda o que há de ser. Acaso não queríeis vós as trevas sobre a Terra? Eis que chamei o escuro para testemunhar meu renascimento. E para este novo reino, é necessário que todos meus companheiros estejam presentes!"
As palavras da irmandade vieram como uma bala arrojada sobre os pensamentos insólitos de Harmony. Estaria realmente o ser fazendo o que ele imaginava? Acaso fosse, coisas por demais tremendas adviriam. E sua árdua busca estaria próxima do fim.
A boca da criatura uma vez mais se abriu:

" Despertum , tucâmicon. Saracbás diamiratur.
Vedic, tosbash mavitramon.
Me servistes bem. Através de teu conhecimento permaneci.
Surge também mais uma vez, para que minha palavra
Se cumpra hoje aqui! "

Richmond punha-se de joelhos, demasiadamente atônito ao que contemplava. Um raio de fogo cruzava os céus, clareando aquela imensa escuridão. Distante avistava-se um objeto cortando o espaço com velocidade. Quem ainda permanecia descrente pôde atestar a verdade á luz de todos os fatos. Uma carruagem dourada guiada por dois alazões negros de patas incandescentes sobrepujava os ares da magnífica noite. Algo incomensurável para se expor totalmente em simples versos humanos!
Dentro do compartimento parecia constar uma espécie de caixão encrustado em ouro e pedras preciosas cintilantes ao reflexo daquela intensa luz. Toda a carruagem vinha ornamentada de crânios e ossos banhados numa espécie de verniz arroxeado que derramava espessas gotas por onde passava, deixando um odor nauseabundo e característico de sangue. Os olhos dos cavalos estavam vazados. Em seu lugar só restavam duas imensas cavidades, tão profundas que refletiam as almas dos homens que ousavam sondar demais todo aquele quadro de horror e beleza caótica. Harmony agora não podia se conter de tanta euforia. Tinha razão!
" É Lord Március, só pode ser. Então os escritos estavam corretos. Os últimos cavalheiros perdidos da irmandade surgem novamente!"
Logo que a carruagem atravessou as ruínas, houve um imenso estrondo e ela sumiu tão misteriosamente quanto apareceu. O objeto que se encontrava em seu interior caiu pesadamente sobre o castelo, vindo parar próximo da irmandade que aguardava ansiosa o aparecimento do senhor da noite: Lord Marcius Renatus Bordin.
A tampa do recipiente foi arremessada há muitos metros pelo ente que o habitava adormecido há tantos séculos, aguardando também sua hora de despertar. Levantando-se e olhando ao seu redor viu que muito tempo havia se passado desde que fizera o ritual de repouso da irmandade, unindo os membros decepados de seus componentes e escondendo o corpo remontado ali, no lar que tantas vezes havia visitado. Agora estavam juntos de novo. Prontos para recomeçar suas aventuras e contar suas histórias.
" Que bom que vós sois seres de palavra, amigos. Não fosse assim ainda estaria hibernando em meu sepulcro tantos séculos mais aguardando a sorte porventura me reerguer das entranhas da Terra. Vejo que aprendestes bem os rituais que vos ensinei. Vim tão logo ouvi vossa majestosa voz que há décadas não ouvia. E quem são todos estes mortais que nos olham com olhos tão sobremodo espantados?"
Sua voz, diferente da irmandade, era aveludada e sedutora. Num tom propício para dissuadir reis e enganar os doutos. Um caçador exímio da noite pronto a seduzir tantas donzelas quanto quisesse.
" Não te esqueças, caro amigo, que foi tua sabedoria o instrumento de nossa sobrevivência. Não fosse assim nossos ensinamentos teriam morrido. Eis aí nossos novos servos, sedentos do conhecimento sombrio que só nossas palavras podem dar. Toma agora tua pena, prepara teu pergaminho para que começemos a redigir nossa nova história, Marcius."
A irmandade estava ansiosa por compartilhar com tantos ouvintes tudo o quanto tinha ainda a dizer.
Marcius usava um belo sobretudo negro, semelhante aos trajes que os antigos celtas utilizavam em seus sacrifícios humanos. Sua aparência era jovial e trazia no rosto um semblante enigmático, típico das criaturas de sua espécie. Era dotado de muitos atributos, e no momento se utilizava da leitura mental a fim de prescrutar os intentos do senhor que o observava tão atentamente. Travava-se ali um intenso conflito psicológico, disputado lado a lado por oponentes de igual valor. Harmony analisava-o com ironia.
" Por que te escondes, Lord Cayus, por detrás desta casca humana? Revela logo a todos quem és, ou desejas que o faça eu mesmo?"
As mãos de Marcius se fecharam instintivamente.
" Nada temas, Senhor do escuro. Já que de tudo o sabes, não mais fugirei da realidade. Permita me apresentar, ó Irmandade viva e caro sr. Lord Marcius. Me chamo Cayus Marcws Pocotirios, seu criado. Mas podeis me chamar de C.M.poco. Tudo isto fiz, amigos, para que pudesse encontrar a vós, já que há tantos anos sumistes. Mas agora estão todos novamente aqui. Resolverei minhas pendências convosco e tudo entenderás."
Os olhos da Irmandade cerraram-se grosseiramente, demonstrando uma indignação mistificada á cólera desencadeada por aqueles últimos fatos. Seu corpo descomunal caminhou alguns passos em direção de Harmony, agora chamado de Cayus Marcws pocotirios. Este por sua vez resignou-se em erguer suas mãos em sinal de paz.
" Como ousas ludibriar todos aqui presentes com tuas mentiras, ó insolente ser! Primeiro dizes ser quem não é. Depois usas a mim, a Irmandade viva, para teus propósitos egoístas. Acaso não temes o mal que te sobrevirá? "
Cayus pediu silêncio por um momento e estendeu seu braço a Richmond que se encontrava prostado ao chão, pedindo que nada temesse também. Este mal podia se por de pé, tamanha era a falta de forças que apresentava seu débil corpo, completamente esgotado pelos acontecimentos tão aterradores naquele local.
" Queiras me perdoar irmandade, ó detentora das palavras etéreas. Mas foi a forma que encontrei para reunir meus aclamados mestres. Tanto vós como Lord Marcius tem parte em minha existência amaldiçoada. Nos tempos de suas publicações em vida, a irmandade foi meu espelho, meu guia nos caminhos do mal. Com o aprofundamento em seus escritos cheguei a conhecer o trabalho de Lord Marcius também e me iniciei no vampirismo vivido por ele. Mas diferente de seu processo tão bem sucedido de eternidade, acabei caindo numa tortuosa desgraça. Fui impelido pelo destino a me consumir dia a dia ardendo em desejo de ler seus contos. Sorver novamente daquelas delícias literárias que contagiavam minha condenada alma. Infelizmente fui frustado em minhas perspectivas. Dado que todos desapareceram antes que eu pudesse conhecê-los, passei a estudar ainda mais vossas obras em busca de uma forma de trazê-los á vida. Algo talvez subliminarmente lançado em seus manuscritos a favor deste propósito. Graças ás forças do medo e da perdição que estamos aqui hoje, reunidos. Mas uma pergunta ainda bate em meu coração, caro Marcius. E talvez seja a maior de minhas dores. Conte-me o fim de tua história. Teu último conto inacabado que se refere ao futuro da irmandade e aos sombriáticos. Como sobreviveram tanto tempo na imortalidade?
A irmandade viva e Lord Marcius se entreolharam no mesmo instante, filosofando mecânicamente a única resposta possível e cabida somente a eles de dar. Tudo esclarecia-se novamente, e o coro foi uníssono:
" Está nosso futuro nas mãos dos discípulos, caro Cayus. Sempre esteve e permanecerá para sempre nas mãos dos que perpetuam nossos ensinamentos. Enquanto esta multidão que vês diante de ti nos ler seremos lembrados. Só aí continuaremos existindo."


Im Reich Der Farbtöne - NO REINO DAS SOMBRAS






ESTA OBRA É UMA CONTINUAÇÃO DO CONTO DE HENRY EVARISTO, EM HOMENAGEM AO ANIVERSÁRIO DE UM ANO DA IRMANDADE DAS SOMBRAS C.M.poco.

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