sexta-feira, agosto 08, 2008

SOMBRIAS ESCRITURAS ENTREVISTA PAULO SORIANO


Entrevista retirada do site SOMBRIAS ESCRITURAS



Em entrevista ao site Sombrias Escrituras, Paulo Soriano fala sobre seus contos e seu trabalho realizado no site Contos Grotescos.

S.E.- Soriano, é com prazer que o tenho aqui no site, grande contista e amigo. E por falar em contos, poderia começar nossa entrevista falando sobre os motivos que o fizeram se interessar mais por contos de terror?


P.S.- O prazer é todo meu! Fico honrado com o convite. É muito bom estar aqui nas Sombrias Escrituras. Quando eu era criança, costumava assistir aos filmes de terror que passavam na extinta TV Tupi e na então incipiente TV Globo. Dentre outros, eram exibidos na telinha os bons e velhos filmes produzidos pela Hammer, estrelados por Vincent Price, Peter Lore , Christopher Lee e Peter Cushing. Eu adorava aquilo. Depois vieram as leituras, em especial Edgar Allan Pöe, William Peter Blatty, Sheridon Le Fanu e Stevenson. Quando me pus a escrever contos, não deu outra: só saía terror...

S.E.- Sabemos que no cinema e na literatura existem o terror psicológico, o macabro, o violento, etc... E em seus contos? Qual lado do terror você procurar mais explorar?


P.S.- Acho que o que escrevo está mais para o horror. Escrevo para que as pessoas leiam e digam: que horrível! Gosto também do elemento trágico no horror. Um certo conto meu já pôs mais de uma pessoa pra chorar. Mas o que eu gosto mesmo é de uma surpresinha no final, ou de uma reviravolta no enredo.

S.E.- Você também mantém um site, o "Contos Grotescos", que divulga contos de escritores dedicados ao gênero do horror e da fantasia. Como surgiu esse site e como vem sendo o desenvolvimento do mesmo por parte dos escritores participantes?


P.S.- Bem, tudo começou quando pedi a um amigo e colega de trabalho, Waldir Santos, para revisar alguns dos meus contos. Ele gostou muito e criou uma comunidade no Orkut, “Escreva mais contos, Paulo Soriano”. Atendendo a pedido de amigos, criei uma “home page” no Yahoo, na qual publiquei algumas narrativas. Daí para o “site” foi um pulo. Hoje, o “site” conta com um grande número de colaboradores. Tenho exemplos de muitas pessoas que foram incentivadas a produzir narrativas de horror e fantasia acessando e lendo os Contos Grotescos, o que é mais que gratificante. E creio, também, que o “site” está conseguindo cumprir o seu desiderato: ser um veículo de publicação de novos talentos que não conseguem publicar em papel.

S.E.- Existe também a "Irmandade das Sombras", que de acordo com seu site, é uma confraria literária que reúne vários colaboradores contistas de horror e fantasia. Fale mais sobre essa Irmandade... seus feitos, blog, publicações etc...


P.S.- A Irmandade das Sombras é uma confraria de escritores amadores criada por Linx e Rogério Silvério de Farias, cujo objetivo é cultivar e disseminar o gênero fantástico. Dela faço parte, com muito orgulho, desde o dia de sua criação. A confraria se reúne no “site” Recanto das Letras e, graças a colaboração de todos, dispomos de um blog (www.recantodassombras.blogspot.com) e já publicamos uma antologia de contos, pela editora Câmara Brasileira de Jovens Escritores. Atualmente, a Irmandade das Sombras mantém uma revista literária, a IS Magazine, periódico eletrônico ancorado no “ site” Contos Grotescos e que, atualmente, já vai em seu terceiro número. No futuro, deveremos publicar, também, antologias em “e-book”.

S.E.- Seu site, Contos Grotescos, atualmente, possui mais de trezentos contos. Qual sua visão em relação às publicações de textos na internet, suas implicâncias para nossa literatura, o que se ganha e o que se perde com essa liberdade digital?


P.S.- Acho que a “internet” é uma grande conquista. Certa vez registrei que, no Brasil, fazemos uma constatação amarga e iniludível: o livro é um objeto de luxo, ao alcance de muito poucos. A evolução tecnológica na produção de livros é inversamente proporcional ao acesso da população a eles. É dizer, as editoras publicam ótimos exemplares, cada vez mais belos e sofisticados, para uma casta privilegiada: a dos que podem, sem sacrifício, desembolsar de 60 a 100 reais por uma brochura de trezentas a quatrocentas páginas. Ao seu turno, é tarefa quase impossível publicar no Brasil. Em se tratando de ficção, o mercado editorial vale-se essencialmente de traduções de autores estrangeiros consagrados. A "internet" vem a ser, assim, de fato, uma ferramenta poderosa para disseminação de textos e idéias. Não houvesse tal ferramenta e, certamente, os meus contos não seriam conhecidos por mais de uma dúzia de pessoas. Assim como eu, muitos outros autores se valem do meio cibernético para divulgação de sua obra, formando uma extensa malha de difusão e assimilação da literatura. E há ainda sítios especializados na divulgação de trabalhos literários, como é o caso do Recanto das Letras, que congrega autores – profissionais ou não – das mais variadas tendências. Creio que com a “internet” não há o que se perder. Todos têm a ganhar, autores ou leitores. O que se pode afirmar é que, como toda mídia, a eletrônica tem suas exigências e especificidades; cumpre ao autor se adaptar a elas.

S.E.- O terror como inspiração literária, no seu caso, vem de quais fontes?


P.S.- Sobretudo de Allan Pöe. Mas exercem-me, também, influências autores que não se dedicaram - ou pouco se dedicaram - ao gênero, como Eça, Alexandre Herculano e Emily Brontë. Mais recentemente, e com menor intensidade, posso citar a influência de autores como Bierce, Lovecraft e King.

S.E.- Além da literatura, existe outra forma que você gosta ou gostaria de se expressar?


P.S.- Não, não há. No passado, gostava de desenhar e de pintar. Hoje em dia não tenho mais paciência. E, recentemente, descobri que estou enxergando muito mal...

S.E.- Quando começamos a ler seus contos, uma espécie de feitiço, lentamente, nos toma a atenção e nos deixamos absorver pela leitura. Como você inicia a criação de seus textos, e como se desenrola o processo de criação até o desfecho?


P.S.- É verdade? Não sabia! Fico feliz com isso. Bem, na maioria das vezes elaboro os meus contos deitado, esperando o sono chegar. Sofro de uma insônia terrível desde a adolescência. Assim, para induzir-me ao sono, fico criando histórias em minha mente. As palavras vão surgindo, as imagens vêm chegando. Muitas vezes, quando resolvo ir ao computador, a narrativa já está praticamente pronta em minha cabeça. Outras vezes, descarto sumariamente a história. Atualmente, por exemplo, estou induzindo o sono com uma história em que, no futuro, cientistas conseguiram criar uma espécie de intersecção no espaço-tempo. Através dessa intersecção, eles verificam que, na realidade, Jesus morreu na cruz, mas não ressuscitou. Concluíram que esta verdade seria um duro golpe para a civilização ocidental. Então eles interferem na linha espaço-temporal, alterando o passado e a ajustando à tradição cristã: antes que a morte de Jesus advenha, os cientistas injetam no Salvador uma espécie de droga que o deixa em estado similar ao da catalepsia. Jesus é dado por morto e sepultado. Mas ao final do terceiro dia... ainda não sei como vai acabar. Talvez hoje, antes de dormir, conclua a história, que, aliás, já está descartada. Mas nem sempre é assim. Não poucas vezes me sento ao computador, com a cabeça completamente vazia e, em vinte ou trinta minutos, tenho uma história pronta. Como eu sou muito ansioso e impaciente, as minhas histórias saem sempre de chofre. Jamais escreverei um romance.

S.E.- Você tem muitos fãs. Já pensou no lançamento de um livro de contos seus para breve?


P.S.- Outra coisa que não sabia... Eu tenho fãs! Coisa difícil para um escriba criticado justamente pela linguagem “difícil”, que afasta muitos leitores. Bem, já pensei, sim. O problema é que não consigo elaborar uma seleção de contos para publicação. Por mais que eu tente, não sei o que incluir e o que deixar de fora. Tenho a idéia de publicar contos ambientados na Idade Média (eis aí a influência de Eça e de Herculano). Mas não sei se a idéia irá vingar. King disse certa vez que o pior crítico do autor é o próprio autor. Acho que ele tem razão.

S.E.- Obrigado pela atenção, Soriano, seja sempre bem-vindo em Sombrias Escrituras. E para finalizar, deixe seu recado pois o espaço é seu!


P.S.- Eu agradeço às Sombrias escrituras por esta oportunidade. O cronista João Costa escreveu, com pertinência, e eu gosto sempre de frisar, que "é provável que não haja gênero literário de mais difícil construção e, não obstante, de maior tendência para ser intelectualmente discriminado quanto o sobrenatural. Muitos críticos consideram tal gênero um exercício intelectual de segunda ordem, aquém da profundidade e complexidades necessárias para, a partir dele, elaborar-se um verdadeiro clássico literário..." Pois bem, digo aos leitores de Sombrias Escrituras que não se deixem seduzir pelos críticos preconceituosos: continuem fãs do fantástico. Com isso, só temos a ganhar. E muito.

2 comentários:

  1. Interessante esta entrevista com o Soriano.
    Acho que ele deveria escrever o conto sobre cristo e os cientistas.

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  2. Escrever é uma arte, admiro quem o faz de forma culta e impecável - o que nã é o meu caso - (risos). Há pouco ativei o meu blog, estou visitando e comentando nos que me despertou interesse.

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