terça-feira, julho 27, 2010

Velorio Dantesco




Por Claudio Soriano e Roberto Brandão


Havia, numa sala jamais iluminada pela felicidade, um móvel escuro, sombrio, pessoal. Tão pessoal que sempre o usamos uma inédita e única vez na vida ... ou na morte.

Um corpo jazia frio e inerte, sem observar — porque não podia — as pessoas que em prantos ali estavam. Elas tocavam o esquife dolorosamente. Muitas adjacentes ao caixão permaneciam. Choviam gotículas garoentas naquela fúnebre cerimônia.

Todos sustentavam a idéia de que ele estivesse realmente morto — porém, não! A catalepsia vem para este infeliz de maneira trágica; a anomalia estréia de forma decisiva.

O cataléptico, jazido ali, em sua geométrica caixa fúnebre, num velório dantesco, não podia ver ninguém, mas ouvia com uma perfeição lupina!

Apavorado com a terrível situação, sabendo de um provável sepultamento, desespera-se com a macabra oportunidade: ao término do prazo de enumação, quando desenterrado for, estará horrendamente revirado, como quem não goste de descansar na tradicional fúnebre posição.

Tenta mover um músculo que sugerisse aos parentes alguma referência de sua existência como vivo, mas não obtém êxito... já não adianta mais! Alguns homens já trazem a tampa do caixão: o selo da morte!


Postagem de 10/06

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